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Nelson Xavier pediu para usar terno de Chico Xavier quando morresse

O terno foi um presente dado pelo próprio médium mineiro

Um dos pontos ápices da carreira do ator Nelson Agostini Xavier, que faleceu nesta madrugada (10) aos 75 anos em Uberlândia, foi atuar como protagonista no filme biográfico sobre Chico Xavier. Segundo a médica que o acompanhou no tratamento paliativo, Clarissa Aires de Oliveira, a espiritualidade dele transcendia e um dos últimos pedidos foi com que ele usasse o terno presenteado pelo próprio médium mineiro em seu velório e enterro.

“Ele falava que foi tocado quando fez o filme do Chico. Ontem, quando eu acompanhava a Via [esposa do ator] nos momentos finais, ela falou assim: 'eu preciso atender uma vontade dele. Ele quer ser vestido com um terno que ele ganhou do Chico'. O Chico foi pra ele um ídolo, um grande amigo também. Ele disse para mim que aprendeu com a humildade e esta coisa bonita. Para mim foi um privilégio ter visto esta construção da espiritualidade dele”, relatou.

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Tratamento em Uberlândia

Clarissa contou  que a família de Nelson a procurou no fim do ano passado, quando ele passava por cuidados paliativos, uma vez que o câncer, inicialmente detectado na próstata, já estava avançado. No início de janeiro a médica chegou a visitá-lo no Rio de Janeiro e alguns dias depois ele foi para Uberlândia, onde alugou um apartamento e fez novos amigos.

Médica  Clarissa Aires de Oliveira
Médica Clarissa Aires de Oliveira


Durante quase quatro meses de tratamento na clínica mineira de medicina integrativa – que trata o paciente física e emocionalmente por meio de terapias alternativas com uso de medicação, suplementação e hábitos saudáveis a fim de garantir qualidade de vida no tempo de vida restante do paciente – a especialista disse que a melhora do quadro de Nelson foi evidente.

“Minha abordagem com a oncologia integrativa acabou sendo uma possibilidade de impactar na qualidade de vida. No começo ele não estava andando, só de cadeira de rodas, mas durante uns dois meses ele conseguiu passear bastante. A Via [esposa do ator] fala que eles me procuraram para que ele tivesse uma morte sem dor e ele morreu sem dor”, acrescentou.

Nas palavras de Clarissa, o paciente “se sentiu vivo durante pouco mais de dois meses”. Foi então que ele voltou para a casa no Rio de Janeiro com o intuito de buscar a mudança para ficar definitivamente em Uberlândia, mas o quadro agravou e ele retornou para Minas Gerais para ser internado às pressas.

No Hospital Santa Genoveva, onde ele foi internado na manhã desta terça-feira (9), o ator chegou com uma complicação pulmonar e dificuldades respiratórias. Porém estava com o semblante sereno e acompanhado por quase todo o tempo da esposa e amigos. A médica Clarissa foi informada que nos últimos minutos de vida ele demonstrava serenidade, com os entes em volta no quarto.

Cidade escolhida para 'se despedir do planeta'

O artista era apaixonado pela cidade do Triângulo Mineiro e assim que desceu do avião no aeroporto e olhou para o céu chegou a comparar a vista com a da capital carioca e preferir a tranquilidade de Uberlândia, que também teria motivado a vontade dele de se mudar, de acordo com a médica.

“A esposa dele me contou que quando ele desceu do avião e olhou para o céu de Uberlândia abriu um sorriso e disse que foi o céu mais lindo que eles viram, que era mais bonito que o céu do Rio. Ele também dizia que escolheu Uberlândia para se despedir do planeta”, concluiu Clarissa.

Depoimento da filha

Tereza Villela Xavier, filha do ator, usou sua página no Facebook para falar da perda do pai. "Lamento informar a quem possa interessar que meu pai, Nelson Xavier, faleceu esta noite em Uberlândia. Seu corpo será transferido, celebrado e cremado no Rio de Janeiro em cemitério ainda não determinado. Agradeço desde já as mensagens de apoio. Ele virou um planeta! Estrela ele já era. Fez tudo o que quis, do jeito que quis e da sua melhor maneira possível, sempre", escreveu ela.

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Carreira

Nascido em São Paulo em 30 de agosto de 1941, Nelson Agostini Xavier cursou direito, mas sua paixão pela arte foi mais forte. Iniciou sua carreira no teatro, com peças como "Eles Não Usam Black-tie" (1958), de Gianfrancesco Guarnieri, "Chapetuba Futebol Clube" (1959), de Oduvaldo Vianna Filho, "Gente como a Gente" (1959), de Roberto Freire, e "Julgamento em Novo Sol" (1962), de Augusto Boal.

Entre seus tantos trabalhos no cinema, estão "O ABC do Amor" (1967), "Os Deuses e os Mortos (1970), "É Simonal" (1970), "Dona Flor e seus Dois Maridos" (1976), e "A Queda" (1978), de Ruy Guerra, que lhe rendeu um Urso de Prata no Festival de Berlim.

Em 2010, Nelson interpretou Chico Xavier no cinemas. Na época, o ator afirmou que havia vivido ali seu melhor papel. "Finalmente fiz o meu maior papel. Fui invadido por uma onda de amor tão forte, tão intensa, que levava às lágrimas”, contou Nelson Xavier, que no longa viveu o líder espírita dos 59 aos 65 anos. “Nenhum dos personagens que fiz mudou minha vida. O Chico fez uma revolução”.

Em 2014, durante o Festival de Gramado, Nelson Xavier contou que fez tratamento contra o câncer de próstata em 2004 e que estava livre da doença. Foi lá também que recebeu o prêmio de melhor ator com o longa "A despedida", um de seus últimos trabalhos.