"Tenho muito gado no pasto e o bolso cheio de dinheiro (...). Paredão ligado, as minas descem até embaixo. Mandei matar um boi pra fazer aquele churrasco."
Os versos que o forrozeiro Mano Walter canta em "Playboy fazendeiro" são a cartilha do personagem que criou para si mesmo e apresentará em show em São Paulo nesta sexta-feira (24).
O cantor de Quebrangulo, cidade de 11 mil habitantes no agreste alagoano, entrou nas listas de mais ouvidos no país com um repertório dedicado ao homem do campo que se deu bem na cidade grande, mas não esqueceu as raízes. Ele define seu eu lírico:
"Ele é do campo, é fazendeiro. Mas, quando está na cidade, está sempre com a mulherada, com um carrão e a playboyzada. É um cara bacana."
Na música mais famosa, "Não deixo não", insiste que não abre mão do seu gado pra viver em um condomínio fechado. Nem pretende trocar a botina por um tênis. "É uma história que pede para a mulher aceitar o cara do jeito que ele é."
Mas no clipe, com quase 240 milhões de visualizações no YouTube, Walter aparece com visual bem urbano: calça rasgada e camiseta longline (aquela que vai até abaixo do quadril).
A mistura de simplicidade e agitação o levou das vaquejadas e exposições de animais a baladas e até festas na praia. Também o tornou o segundo em popularidade no forró, atrás apenas de Wesley Safadão - com quem diz ter uma relação harmoniosa e até negociar uma parceria.
"O forró ocupou um espaço bacana no cenário da música brasileira. Estamos participando de eventos como [a Festa do Peão de] Barretos, em que o forró nunca tinha entrado", comemora.
Ele explica que o gênero passou a conviver lado a lado com o sertanejo. O público chega a confundir. "Começamos a cantar e a gravar juntos. Gravei com a Marília Mendonça [a música 'O que houve?']. Sou do forró, mas toco música sertaneja também".
A mistura caiu nas graças de jogadores: Adriano, Firmino e Marta já cantaram músicas dele em suas redes sociais, especialmente "Juramento do dedinho".
Cavalos e skate
Ao falar sobre as características do tal playboy fazendeiro, Walter não nega: "Eu vivo um pouco isso".
Filho de vaqueiro, ele começou a cantar ainda criança nas festas que ia com o pai. Quando se mudou para Maceió para cursar engenharia agrícola, formou sua primeira banda na universidade.
Os pais bancaram o primeiro CD, "Cavalo ciumento", de 2006. Ao terminar a faculdade, já estava fazendo shows. Chegou a concluir uma pós-graduação, "mas a música foi mais forte", ele conta.
Hoje, faz uma média de 26 apresentações por mês. E garante que a agenda lotada não o impede de voltar sempre ao campo, para buscar inspiração para as músicas.
Nas viagens, diz dar preferência a hospedagens em hotéis fazenda. "É um ambiente que eu gosto, onde posso matar a saudade e respirar ar puro. O contato com a natureza me ajuda muito a compor."
Para acalmar a mente, também leva sempre consigo um skate. Ele cita o hobby como um fato curioso sobre si mesmo, assim como o gosto por rock e reggae.
Nas folgas, volta a Quebrangulo ou vai ao seu rancho, a 15 minutos de Maceió, onde cria cavalos - paixão que, aliás, compartilha com Safadão.
Seu estilo eclético, ele acredita, ajudou a diminuir o preconceito com artistas do interior. E virou moda, como faz questão de dizer com música:
"Vaqueiro hoje tá moderno, tem um milhão na conta e também anda de terno."