Leka Begliomini ainda se lembra do sucesso ao sair da primeira edição do BBB, em 2002. Do anonimato, ela passou a ter que circular com vários seguranças na rua.
"Houve muito assédio, mas nunca foi nada agressivo ou ruim. Acontecia sempre de forma que eu pudesse lidar com. Teve uma época em que eu precisava de vários seguranças pra poder sair na rua", relembra.
Além da fama, Leka passou ter o título de musa, que a ajudou a lidar com o distúrbio dismórfico corporal. "Foi muito estranho ser considerada musa porque eu sofro há muitos anos de distúrbio dismórfico corporal, que faz com que a pessoa se veja muito diferente do que é. Sofri muito com isso a vida toda! Então, ouvir dizer que eu me tornei musa foi um exercício muito valioso pra mim. Me ajudou a ver o tamanho do meu problema, me fez buscar uma ajuda mais específica e compreender que de nada adianta as pessoas acreditarem em você ou te enxergarem de alguma forma maravilhosa, se você não conseguir ver e sentir o mesmo."
Estrelar a capa de uma revista masculina, completamente nua, lhe ajudou a começar a acreditar em sua beleza. "A Playboy foi uma coisa determinante na minha busca pra uma real melhora. Me lembro que quando saí da casa e todos chamavam de musa e tal, era muito confuso na minha cabeça, eu me questionava, não compreendia... Aí veio o convite da revista. Aceitá-lo foi quase uma forma que eu encontrei de acreditar de uma vez por todas que eu era a tal musa que ouvia dizer", explica ela, que sofreu também com a repercussão.
"Acreditei estar na capa da maior revista masculina me traria uma relação de paz com meu próprio corpo. Foi muito difícil quando vi que o caminho pra encontrar essa paz era muito mais doloroso e árduo. Porque a resposta estava em mim e na forma que eu me via, não naquilo que me diziam ou que estava impresso nas capas de revista. É um distúrbio muito cruel e difícil de se compreender."
Além disso, Leka passou a receber propostas indecentes após o ensaio sensual. "Fazer uma revista masculina te dá vulnerabilidade nesse sentido. O que me assustou foi que eu não tinha ideia que essa seria uma das consequências de fazer uma capa de Playboy. Isso me chateou muito na época, mas eram propostas que quando vinham eram negadas e a negativa era aceita sem persistência ou inconvenientes. Foi muito difícil e doloroso de entender", relembra.
Casada há dez anos e mãe de dois filhos, Leka ainda lida com problemas de autoestima. Aos 45 anos, ela afirma que tem uma luta diária para não voltar a ter os mesmos problemas do passado.
"Nunca me vi como eu sou. Faz parte desse mal que, infelizmente, me seguiu e de forma mais leve, me segue até hoje. Minha compreensão da minha imagem até hoje é um exercício pra mim. Todos os dias tenho que reaprender a 'me ver' realmente como sou. Se não faço isso, meu olhar crítico me consome e volto a me ver com uma forma física irreal", conta.