Hytalo e o marido na audiência de instrução e julgamento |
Foto: Reprodução/Globo
O Fantástico exibiu neste domingo (30) partes dos depoimentos de Hytalo Santos e Israel Natã Vicente, o MC Euro, que respondem na Justiça por produção de conteúdo pornográfico envolvendo menores. Os dois foram presos em 15 de agosto, em Carapicuíba (SP), e transferidos para João Pessoa no fim do mês. Desde 28 de agosto, seguem em prisão preventiva.
O DEPOIMENTO
A denúncia aceita parcialmente pela 2ª Vara Mista de Bayeux (PB), em 23 de setembro, inclui acusações de exploração sexual, tráfico de pessoas e produção de pornografia infantil. Segundo o Ministério Público, os vídeos passaram a ser monitorados ainda em 2020, e o influenciador foi orientado diversas vezes a retirar gravações do ar e ajustar coreografias. Hytalo afirmou que cerca de 800 vídeos foram removidos no último ano.
Durante o depoimento, Hytalo voltou a negar as acusações. Questionado pelo magistrado se havia cometido os crimes mencionados, respondeu: “Não, vossa excelência. Eu me sinto até um pouco constrangido (…) me dói. Me dói muito”. Ele também rejeitou a ideia de que o brega funk usado nos vídeos teria caráter sexualizado. “A letra (…) tem o que a realidade é colocada naquele lugar, naquela periferia”, afirmou.
O influenciador disse não ter gravado cenas de cunho sexual e defendeu que seu conteúdo retratava a “cultura de periferia”. Ao ser pressionado sobre o teor dos passos das coreografias, reiterou: “Eu não considero”. Hytalo ainda negou que crianças de até 12 anos morassem com ele e o marido, mas confirmou que adolescentes viviam na casa com o consentimento das famílias.
Ele também declarou que sua renda vinha de publicidades — entre R$ 400 mil e R$ 600 mil por mês — e que ajudava financeiramente os jovens por iniciativa própria. Sobre as roupas usadas nos vídeos, disse: “É o que a gente é acostumado a viver, né, Vossa Excelência?”.
O influenciador contou que seus Stories alcançavam até 5 milhões de visualizações diárias e negou relação com eventuais comentários sexualizados do público: “A maioria dos comentários era baseada na força de cada personagem”.
Hytalo ainda foi questionado sobre sua relação com Kamylinha Santos, emancipada aos 16 anos. Ele reconheceu ter pago uma cirurgia estética para a jovem, mas negou ter produzido conteúdo pornográfico ou incentivado práticas sexuais: “Eu nunca influenciei ninguém a ter nem relacionamento afetivo”. Kamylinha, hoje com 18 anos, declarou em depoimento que o via como figura paterna e que nunca se sentiu explorada.
O programa também mostrou trechos do depoimento de MC Euro, que disse manter com os jovens uma convivência familiar. “A gente era uma família, realmente”, afirmou, mencionando que o grupo via nas redes sociais uma chance de mudar de vida. Dois policiais militares que trabalharam como seguranças relataram não ver teor pornográfico nos vídeos, mas disseram que não tinham acesso completo à rotina da casa.
Além das acusações já apresentadas pelo Ministério Público, o casal também é investigado pelo Ministério do Trabalho da Paraíba em um segundo processo, que apura possível tráfico de pessoas para exploração sexual e submissão de menores a condições análogas à escravidão. A defesa ainda não se manifestou.
Hytalo concluiu sua oitiva lamentando a repercussão do caso: “Onde eu cheguei agora, eu sou visto como pedófilo (…) como uma pessoa pervertida”.
Na última sexta-feira (28), o Tribunal de Justiça da Paraíba negou novo pedido de habeas corpus. A defesa argumentava que o processo deveria tramitar na Justiça Federal, mas o pedido liminar para soltura também foi rejeitado. Segundo o g1, os advogados dos influenciadores foram procurados, mas não responderam.