Com a mesma credibilidade em que recorre aos ensinamentos do pastor num drive-thru da oração ou dança animada numa rave de Cristo, Dira Paes embarca, nua, em orgias santas. A presença de cena da atriz é ponto alto no filme “Divino amor”, de Gabriel Mascaro, que chega hoje aos cinemas brasileiros elogiado pela crítica internacional — estreou em Sundance, passou por Berlim e foi selecionado para outros 40 festivais pelo mundo —, imaginando um futuro em que o Brasil é dominado por evangélicos.
A atriz é solta, disponível. Doa alma e corpo à serviço do personagem. E sempre foi assim em sua carreira: ela nunca teve medo de nudez. "Meu corpo também está em função do cinema, e é um corpo maduro, não mais o da jovem atriz de “A oresta das esmeraldas” ( seu lme de estreia )" diz ela para, em seguida, reetir mais profundamente sobre a diferença entre tirar a roupa no início da carreira e agora.
"Tenho 50 anos ( completa no próximo dia 30 ) e o corpo de uma mulher de 50. Não é um desnudar-se para oferecer o belo, mas para mostrar que viemos assim ao mundo. Por que nos chocamos com o que há de mais natural?". Ela conta que, desde cedo, aprendeu a diferenciar "ousadia de desrespeito". Mas isso não signica que não sofreu assédio."Tenho lembranças de andar na rua e ser tocada no bumbum, alcançar quem fez isso, e a pessoa fugir rindo". Mãe de dois lhos, Dira diz ensina e aprende com eles sobre a igualdade de gêneros.
"Assim como conversamos sobre palavras e expressões da língua portuguesa que devemos abolir, como denegrir, a coisa está preta, mercado negro". Leia também: Com boa audiência,"Verão 90" sofre com furos no desenvolvimento da trama Dira Paes fala ainda sobre o bullying sofrido pelo lho, Inácio, de 11 anos."É impressionante como um simples cabelo comprido de um menino pode causar reações machistas".