A investigação criminal sobre o pouso forçado do avião com o casal de apresentadores Luciano Huck e Angélica em Mato Grosso do Sul apontou que uma peça importante do avião, o capacitor, foi instalado de forma invertida e fez o "motor morrer no ar". A aeronave também levava os filhos do casal, babás e tripulação.
A Polícia Civil deve intimar novamente o piloto Osmar Frattini, que pilotava a aeronave. Além de depoimento, a polícia pretende realizar a reprodução simulada dos fatos, utilizando uma aeronave semelhante.
"Quando falamos em Polícia Civil, existe um inquérito que precisa explicar realmente o que aconteceu. Temos uma peça, que é o capacitor de combustível, que foi instalado invertido, de forma errônea, o que já caracteriza falha na manutenção e com isso já temos o nexo causal", explicou a delegada Ana Cláudia Medina, responsável pelas investigações.
"A mesma oficina homologada onde foi feita a manutenção desta aeronave, inclusive, já trabalhava com peças usadas. E, na ocasião, o trabalho foi feito pelo mecânico e ainda passou pelo inspetor, que revisou tudo e assinou embaixo", completou a delegada.
Segundo Medina, quando a Delegacia Especializada de Combate ao Crime Organizado (Deco) assumiu o inquérito, o motor e outras peças da aeronave já tinham sido comercializadas.
"Nós ainda não concluímos porque precisam ser feitas dinâmicas de voo conciliadas com a perícia criminal e o que foi coletado. O piloto deve nos explicar, no cenário, como houve a inversão da peça. Eles constatam a quantidade de combustível e também fazem uma inspeção externa visual, onde verificam o painel internamente, ligam a bateria e lá conferem o nível de combustível, entre outras questões", explicou.
Conforme a polícia, estes procedimentos são do piloto, não é algo que verificam em manual. "Ele faz o acionamento da bateria, que vai ligar o sistema e dar a indicação do nível de combustível. Na ocasião, ele teria visto que estava meio tanque e colocou o restante para encher, só que a leitura estava errada por conta do capacitor invertido, indicando meio, porém, estava zero. Esse conceito errado fez com que houvesse falha no motor", ressaltou.
O perito criminal Sávio Ribas, único do país especializado em fator material (segurança de voo), também reforça a tese. "O piloto achou que não tinha combustível na asa esquerda e mandou para lá. O motor então morreu no ar. A tese é que é possível voar apenas com um motor e é justamente isso que foi alegado pelo dono da empresa. No entanto, nós sabemos que teve essa questão do capacitor", argumentou.
O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) também levantou hipóteses para o acidente. As informações, no entanto, não podem ser usadas nas esferas administrativas, processuais e penais.
No teor do relatório está o interrogatório com os pilotos e demais funcionários, onde foi apontado que Osmar não teria reagido a alguns procedimentos de emergência, bem como foi informado que, no local de pouso, não tinha cheiro de combustível e a causa do acidente foi pane seca.
O piloto Osmar Frattini disse que ainda não foi informado da reprodução simulada. "A empresa fechou, mas a oficina deles continua aberta e eu nem sei se está regular. Eu estou atuando como piloto, porém, em outra área, com empresário e pecuaristas muito sensatos, que não questionam qualquer valor de manutenção. Se eu for chamado, apenas vou reiterar todas as minhas declarações, falando da manutenção. A Medina está fazendo um excelente trabalho, apreendeu o avião e descobriu a inversão da peça. Eu estou disponível para o que a polícia precisar", afirmou.