Candidata única à cadeira 17 da Academia Brasileira de Letras (ABL), Fernanda Montenegro foi eleita nesta quinta-feira (4) a mais nova imortal da entidade. A atriz de 92 anos ocupará o posto vago desde março do ano passado, com a morte do diplomata e político Affonso Arinos de Mello Franco. A falta de concorrentes ao posto é apontada pelo meio como uma deferência à grande dama do cinema e da dramaturgia brasileira.
A sessão ocorreu a portas fechadas, em reunião com participações presenciais dos acadêmicos. A atriz recebeu 32 votos. Também houve dois votos em branco.
“Fernanda Montenegro é um dos grandes ícones da cultura brasileira. Intelectual engajada e sensível leitora do real. Sua presença enriquece os laços profundos da Academia com as artes cênicas. Com ela, adentram, luminosos, tantos, personagens, que marcaram gerações, passado, presente e futuro”, declarou o presidente da ABL, Marco Lucchesi.
A cadeira que será ocupada por Fernanda Montenegro tem como patrono o jornalista Hipólito da Costa e já pertenceu também ao filólogo e dicionarista Antônio Houaiss.
Fernanda Montenegro é até hoje a única brasileira indicada ao Oscar de melhor atriz, com a atuação em “Central do Brasil” (1998), de Walter Salles, quando interpretou a protagonista Dora. O assunto voltou à tona recentemente, depois que Gleen Close deu declarações indignadas com o fato de a brasileira não ter ficado com a estatueta na edição de 1999. Na ocasião, o prêmio ficou com Gwyneth Paltrow, pela atuação em “Shakespeare Apaixonado”.
Reverenciada como grande dama da dramaturgia brasileira, a atriz estrelou mais de 70 peças de teatro, pelo menos 30 novelas e coleciona prêmios nacionais e internacionais. A obra de relevância com a qual se inscreveu no pleito da ABL foi sua a biografia “Prólogo, ato e epílogo”, lançada em 2019 pela Companhia das Letras.
A eleição da cadeira 17 é a primeira das quatro previstas para novembro. A academia permanece com quatro de suas 40 cadeiras vagas. Na próxima quinta-feira (11), será escolhido o substituto para o assento 11, que será disputado pelo cantor Gilberto Gil e pelo poeta Salgado Maranhão. Haverá disputas ainda nos dias 18 e 25.
Embora seja uma entidade dedicada à literatura, a ABL tem procurado se abrir mais à cultura popular, o que a tem permitido incorporar expoentes de outras artes. Um exemplo disto foi a eleição do cineasta Cacá Diegues em 2019. A candidatura de Gilberto Gil vai nesta mesma direção.