A estudante Renata Lima, de 13 anos, que recebeu alta do Hospital Albert Schweitzer e passou a primeira noite em casa depois da tragédia em Realengo, resumiu com um leve sorriso a sorte de ter escapado da morte: ? Não era a minha hora. Eu tive duas chances para poder fugir?, disse em entrevista ao Jornal Nacional neste sábado (9).
A menina revelou que a primeira coisa que fez quando chegou em casa foi pegar o jornal para saber melhor o que havia acontecido.
A adolescente estava na primeira sala de aula em que o atirador entrou. ?Na hora em que ele me viu em pé, ele mirou a arma na minha frente. Aí eu fiquei meio assustada. Quando ele foi apertar o gatilho, não tinha mais bala dentro. Ele foi recarregar, e eu consegui correr. Quando cheguei à porta, ele me acertou?, lembra a jovem.
Renata foi atingida por um tiro que entrou nas costas e saiu pela lateral do corpo, mas ela não precisou passar por cirurgia. ?Foi o fato de eu ser gordinha que me salvou?, afirmou, esboçando o primeiro sorriso.
A mãe ainda não consegue falar sem chorar. ?Eu não tive tempo de pensar ainda?, disse.
A família já está recebendo apoio psicológico. ?Para todas as famílias que estão sofrendo deixo minha solidariedade. É um momento muito triste. Muitas delas não querem nem falar?, declarou Nilson Oliveira, pai de Renata.
Visitas às famílias
Mais de 300 agentes comunitários, enfermeiros, médicos e assistentes sociais fazem, neste fim de semana, visitas às famílias dos 1.172 alunos da Escola Municial Tasso da Silveira, em Realengo, na Zona Oeste do Rio, para prestar apoio psicológico. O mutirão começou às 10h deste sábado no Posto de Saúde Olímpia Esteves, em Realengo.
Segundo o secretário de assistência social, Rodrigo Bethlem, muitos agentes que não foram convocados compareceram neste sábado no posto de saúde para participar da força-tarefa.
"Estamos visitando neste fim de semana todas as famílias dos alunos da escola em um esforço para fazer estas crianças superarem este trauma, que é comparável à uma situação de pós-guerra", disse o secretário.
De acordo com o subsecretário de saúde, Daniel Soranz, o trabalho com as crianças terá duração inicial prevista de 6 meses e o acompanhamento neste período buscará identificar possíveis necessidades de tratamento individualizado. Enquanto as aulas na escola não recomeçam, haverá atividades para os alunos no posto de saúde Olímpia Esteves, segundo Soranz.
Ele recomendou que os pais escutem seus filhos que estavam presentes no dia do ataque.
"Eles devem escutar as crianças caso elas queiram falar, mas não provocar nem ficar questionando, para poder ajudar a superar este trauma", diz ele.
Há 6 anos trabalhando como assistente social no Rio, Rose Braz espera que não tenha dificuldades na conversa com as famílias.
"Acho que a receptividade vai ser boa, porque eles já foram avisados que iremos e precisam deste acompanhamento", diz ela.