A história do Chapeuzinho Vermelho, originalmente escrita pelo francês Charles Perrault, no Século XVII, é contada de forma diferente pela doutora em Linguística pela Universidade Federal da Bahia, Palmira Heine, que traz o ineditismo das terras tupiniquins na obra intitulada Chapeuzinho no Pelô, com ilustrações de Tiago Sansou.
Em entrevista ao Jornal Meio Norte, Palmira relata que inseriu no tradicional conto os elementos da culinária e da arquitetura do Centro Histórico de Salvador, um patrimônio nacional retratado no livro pela conjunção entre texto e imagem. “Ao passear pelas ruas do Pelourinho, Chapeuzinho passa por pontos históricos como o museu casa de Jorge Amado, sobe ladeiras centenárias e conhece os sabores da culinária baiana. O lobo, por sua vez, bebe água numa fonte que fica na Praça da Sé e usa tranças afro para disfarçar as suas orelhas. No meu livro é possível ver os elementos da cultura baiana colocados no passeio da personagem que também conhece os sons do batuque afro e recebe fitinhas do Senhor do Bonfim”, diz a escritora. Assim, Chapeuzinho no Pelô brinca com o tradicional e mostra a famosa história infantil de forma lúdica e entrelaçada com elementos da cultura baiana.
No livro, o personagem Dom Lobão é o irmão do famoso Lobo Mau, que na história dos Irmãos Grimm tinha sido morto pelo caçador. “Na minha história no entanto, apesar de no início da mesma Dom Lobão ter pensado em devorar a Chapeuzinho, ele não é mau; é atrapalhado e engraçado e come acarajé, conhece os batuques da banda Dida e ainda vê uma roda de capoeira e, no final se encanta com os sabores da culinária baiana”, explica a escritora, enfatizando que diversas iguarias estão presentes na obra, até porque é devido a elas que o lobo se arrepende de ter tentado devorar a Chapeuzinho, pois se encanta com os sabores da culinária baiana: vatapá, acarajé, moquecas, cocadas, o famoso bolinho de estudante e até água de coco são citados na história.
Segundo Palmira, a personagem Chapeuzinho não é uma garota indefesa. “Ela é inteligente e esperta e é ela que, ao descobrir que o lobo a perseguia para devorá-la, tem a ideia de levá-lo para um restaurante, onde se pagando apenas uma vez, seria possível comer o que quisesse”, comenta.
Autora de outros seis livros em que retrata temas como diversidade, respeito às diferenças, respeito ao meio ambiente, dentre outras questões. “Na obra Chapeuzinho no Pelô, enfoco de forma transversal, a importância de se preservar a nossa cultura, de valorizá-la, colocando isso de uma maneira lúdica e divertida, em uma linguagem literária”, diz.
Para a escritora, os contos de fada têm uma característica de universalidade, tanto que atravessam séculos e fronteiras. “Assim, o fato de meu livro mobilizar elementos dos contos como as personagens Chapeuzinho, a vovozinha, a mamãe e o Dom Lobão, já traz essa característica de universalidade mas, ao mesmo tempo, insiro elementos da baianidade e, consequentemente, da cultura brasileira, o que faz com que a narrativa se aproxime mais da nossa realidade cultural. É uma dualidade que enriquece a história”, diz a escritora, que está buscando novas referências para outros possíveis livros que dialoguem com contos clássicos.
Além de escritora, Palmira realiza projetos de contação de história em escolas da Bahia, o que tem sido de imensa importância para fomentar o desejo e a necessidade da leitura para o público infantil, pois segundo ela, a literatura infantil é um dos meios mais importantes para a inserção dos elementos literários e para a formação de hábitos de leitura. (I.C)