Trair é tão antigo quanto se relacionar. Basta olhar pra trás e perceber como, na história dos grandes amores, a traição já dava as caras. Mas, se antigamente a coisa era velada, hoje nada como escancarar o sentimento. As desculpas menos esfarrapadas e a paciência bem mais curta levam homens e mulheres a repensarem a temida infidelidade. Mas, mesmo assim, o nariz não cresce para entregar o mentiroso. É preciso ficar atenta aos sinais. No caso das mulheres, que durante muito tempo precisavam aceitar a traição dos maridos até para manter a casa e o status do casamento feliz intactos, a recém independência deu liberdade também para questionar mais, desconfiar mais e, claro, se enganar menos. Desculpinhas como "fiquei trabalhando", "estava preso no trânsito", ou "era uma amiga, no telefone", não colam mais. As mulheres investigam com mais afinco e são feitas de boba apenas quando querem. E, quando resolvem trair, adivinha quem elas culpam? Para quem já passou por isso mais de uma vez, fica mais fácil perceber os sinais - que vão muito além de uma marca de batom no colarinho ou um recibo de um restaurante suspeito. "Se o homem se envolve de verdade, fica mais vaidoso e até passa a gostar de coisas que nunca prestou atenção", garante Rute Duarte da Silva, 46 anos. Ela foi casada por 18 anos e a infidelidade do ex foi apenas um dos motivos que levou a separação. Mas, com a experiência de quem passou por isso mais de uma vez, assegura: "Tem homem muito esperto, que não dá sinal. Outros se empolgam tanto que, só sendo muito tapada mesmo para não perceber". Rute acha que o homem é mais controlado quanto aos sinais do corpo, tenta não deixar transparecer a traição. "Eles se entregam mais com ligações, conta corrente, mentiras". No caso dela, a insegurança motivava toda desconfiança. Como o ex-marido tinha fama de "galinha", ela morria de medo da traição, até que soube da primeira - a mais difícil, segundo ela. "Um amigo dele, que ficou com muita pena de mim, me contou". Depois, ela foi engolindo as outras escapadas até que o relacionamento fadado ao fracasso acabou de vez. A antropóloga Mirian Goldenberg, autora de "Por que homens e mulheres traem?" (BestBolso, 2010) concorda com Rute com relação aos sinais que o traidor libera quando está fazendo a coisa errada. E explica como eles reagem diferentemente. "Os que se declaram monogâmicos, sentem muita culpa, ficam divididos, sofrem, não sabem lidar bem com a situação e acabam provocando uma profunda crise no casamento. Muitos se separam, outros tentam resgatar o casamento. Já os poligâmicos não deixam muitas pistas, pois acreditam que o caso é passageiro e não pode abalar o casamento", define. Mesmo com muitos comportamentos masculinos e femininos não estando mais tão distantes, inclusive no que diz respeito à traição - a pesquisa de Mirian mostra que 60% dos homens e 47% das mulheres afirmam já terem sido infiéis - os discursos femininos e masculinos são extremamente diferentes. "Os homens justificam suas traições por meio de uma suposta essência masculina e as mulheres infiéis dizem que seus parceiros, com suas faltas e infidelidades, são os verdadeiros responsáveis por suas relações extraconjugais". Isso significa que, no discurso dos pesquisados, a culpa da traição é sempre do homem: seja por sua natureza incontrolável, seja por seus inúmeros defeitos (e faltas) no que diz respeito ao relacionamento. "Se é inquestionável que, nas últimas décadas houve uma revolução nas relações conjugais, pode-se verificar que, na questão da infidelidade, ainda parece existir um "privilégio" masculino, isto é, ele é o único que se percebe e é percebido como sujeito da traição. Enquanto a mulher, mesmo quando trai, continua se percebendo como uma vítima, que no máximo, reage à dominação masculina".