Com saia longa verde, top e prancha de natação, a designer Joana Brasiliano entoa "Sereia da Cantareira", sobre o solo rachado, que lembra um cenário semi-árido, às margens de uma das represas do Sistema Cantareira, em São Paulo: "Tô Seca, não tô molhada. Eu sou Sereia da Cantareira". As imagens e a canção são cômicas, mas "o fato é triste", diz o cantor Marcelo Jeneci, um dos criadores da marchinha, que ganhou um clipe nesta segunda-feira (26) e deve fazer parte do Carnaval de rua deste ano.
Jeneci, autor dos hits "Pra Sonhar" e "De Graça", conta que a ideia da música surgiu durante uma reunião de amigos em sua casa. Joana chegou com o refrão e todos foram a ajudando a desenvolver a letra, que também traz os versos: "Quem vai 'alckimizar' água de esgoto por aí? Do M-Boi Mirim até o 'u' do Morumbi". Além de participar da composição, Jeneci também assumiu a sanfona na canção.
"Foi a maneira que encontramos de exorcizar um pouco esse assunto", disse o artista à reportagem. "Já que o Carnaval é nossa maior arma, nossa principal festa, vamos levar esse assunto em forma de lamento." A intenção é despertar a preocupação das pessoas e alertar para a maneira como o assunto é tratado, principalmente pela grande mídia. "Enquanto isso não chegar na consciência da maioria das pessoas, mais rapidamente a gente vai se afogar nessa falta de água."
Um dos maiores problemas, na visão do artista, é que o assunto ainda é tratado sob ordem financeira. "70% da água do Brasil é direcionada para agricultura, 22% para a indústria, e 8% para as residências. Acho bacana incentivar a economia, mas talvez esteja mais do que na hora de rever essa equação. Sobre isso, pouco se fala."