Chegou ao fim nesta sexta-feira (25) a novela “Verdades Secretas”, escrita por Walcyr Carrasco para a faixa das 23h da Globo. Numa atmosfera cercada de expectativa durante todo o dia nas redes sociais e pelo público em geral, como há muito não se via em um último capítulo, “Verdades Secretas” prova, antes de tudo, que basta uma boa novela para que o público dê a resposta ligando o televisor.
O tão aguardado desfecho de Carolina (Drica Moraes) foi como se esperava. Walcyr se mostrou coerente e ela ter tirado a própria vida, ainda que muita gente tenha torcido o nariz, é perfeitamente compreensível. Afinal, descobrir que sua filha e o homem que amava tinham um caso, pegá-los na cama e ainda ver sua filha entrando na frente de Alex (Rodrigo Lombardi) para protegê-lo de um possível disparo, é de deixar qualquer um sem norte. De fato, não havia outra saída para a personagem.
Surpreendendo a muitos, as tragédias não pararam por aí. Como forma de vingar a morte da mãe, Angel (Camila Queiroz) teve o sangue frio de arquitetar o assassinato de Alex num iate em alto-mar e inventando uma história de que ele teria se acidentado. Numa sequência “embasbacante”, Camila Queiroz não parecia uma novata. Teve segurança, e uma atriz que no começo era uma promessa, já não é exagero dizer que se tornou realidade. Talento, como notamos, transbordou.
Embora ela seja uma das culpadas diretas pela morte da mãe, já que a traiu, terminou com um final feliz, casando com Gui (Gabriel Leone). É até, do ponto de vista moral, muito difícil de aceitar, de certa forma, um desfecho positivo para a personagem, mas nada que tire o telespectador do eixo a ponto de se indignar, já que outros tiveram finais coerentes e coesos com a construção da trama.
O que deve ser lamentado é que Carolina morreu sem saber de muita coisa: morreu acreditando que Fanny era uma “santa” e não soube que a filha fazia book rosa, frustrando a muitos telespectadores.
A tese de que só se cura a perda de um grande amor com outro nunca fez tanto sentido. Após Anthony (Reynaldo Gianecchini) partir rumo à Paris com Giovanna (Agatha Moreira) e Maurice (Fernando Eiras), num final estupendo, tendo aquilo que eles sempre tinham sonhado, Fanny (Marieta Severo) ficou desolada e foi “presenteada” por Visky (Rainer Cadete) com o homem que ele amou por toda a trama: Léo (Raphael Sander). Ninguém ficou triste.
Duas cenas do último capítulo que merecem ser destacadas é a de Larissa (Grazi Massafera) distribuindo sanduíches na cracolândia e dando de cara com quem a levou para lá: Roy (Flávio Tolezani) e sofrendo um baque. Aliás, este espaço foi um dos primeiros a salientar a evolução de Grazi como atriz dentro de “Verdades Secretas” e a colocá-la no hall de uma das melhores desta geração. O ator também foi muito bem.
A segunda foi com Hilda (Ana Lúcia Torres) agonizando nos braços de Oswaldo (Genézio de Barros). Ele sempre sonhou com isso. E embora o amor dos dois tenha durado pouco, serve até como reflexão a revelação de um amor feito “tardiamente” envolvendo outras questões.
Pia (Guilhermina Guingle) resolveu acordar para o mundo real e enxergar que estava envolta num mundo de luxos sem a menor necessidade e resolveu ceder, dizendo seu desejo de ter um filho com Igor (Adriano Toloza).
Walcyr Carrasco se reinventou
Sua última trama, “Amor à Vida” (2013), foi alvo de críticas, mas mesmo assim Walcyr já tinha dado um final digno à ela, repetindo agora a dose com mais brilho em “Verdades Secretas”, conseguindo envolver os telespectadores e mobilizá-los, deixando-os ansiosos para ver um último capítulo de telenovela. Nos dias de hoje, algo raro e que deve ser muito creditado ao autor.
Sem pastelão, com uma temática adulta, tratando de temas pertinentes para a sociedade e servindo até como alerta, “Verdades Secretas” entra na história da teledramaturgia e nesses 50 anos da Globo pode ser reverenciada como a melhor apresentada em 2015.E que venha sua próxima produção, “Candinho”.