É proibido ficar triste no reino vitorioso de Ivete Sangalo, 37. Na semana passada, cerca de 50 jornalistas estiveram com a cantora, em Salvador, para a entrevista de divulgação de seu novo trabalho, o pacote de CD e DVD "Pode Entrar". Fizeram muitas perguntas, mas todas as respostas desviaram de qualquer traço menos sorridente de sua personalidade.
E é assim que Ivete quer que seja. Aprendeu muito rapidamente a usar os meios de comunicação, alimentando-os somente com sua fatia mais interessante, sua alegria, seu carisma. Para que, de frente para seu sorriso, ninguém investigue suas sombras.
Em entrevista exclusiva à Folha, a cantora diz que seu principal desejo é se tornar algo que realmente interfira na vida das pessoas. Tem conseguido, e em grande escala. Mas garante que não fica deslumbrada com as multidões que conquista.
"Não sinto nem quero sentir o [deslumbramento] que artista sente", diz. "Não interessa se são 2 ou 3 milhões [de fãs]. O importante é que cada um que foi alcançado se sinta bem com aquilo junto comigo."
A pergunta que mais tem sido feita a ela nos últimos anos diz respeito àquela equação, tão comum no mundo pop, que considera o tamanho do sucesso de uma obra inversamente proporcional ao da sanidade do respectivo artista. Ivete garante que nunca caiu nessa.
"Quando comecei a fazer música, minha piração foi canalizada para um objetivo que me desse mais frutos do que essa viagem pessoal do tipo "eu sou foda, eu me amo", diz.
De sua relação com a imprensa, teme apenas a velocidade com que a informação é levantada e esquecida. "Quando alguém fica chateado com uma notícia que saiu sobre ele, digo que notícia ruim as pessoas esquecem logo. Só que também esquecem a notícia boa, aí é que está", constata. "Então, é bom fabricar coisas boas o tempo todo. E deixar as ruins passarem."
Para que notícias boas sejam fabricadas o tempo todo, Ivete não para de trabalhar. Os dados oficiais dão conta de que, desde que deixou a Banda Eva e partiu para a carreira solo, há dez anos, já vendeu mais de 5 milhões de discos. Mesmo grávida, pretende seguir com seus compromissos até dois meses antes do parto, em outubro.
Gado e avião
Sua agenda agora é mais tranquila. Faz entre dez e 12 shows mensais, contra os quase 30 do passado (sim, ela fazia um por dia). Seus cachês, em compensação, são os únicos do país comparáveis aos de Roberto Carlos --podendo chegar aos R$ 500 mil por um único show.
Investe todo esse dinheiro em ações, empreendimentos imobiliários, gado e na manutenção de seu avião, um Citation 4, com capacidade para oito pessoas. "Não sou muito consumista nem tenho essa coisa de mulher que vai na loja e pira em dez bolsas de grife", brinca. "Gasto mesmo é comprando disco e instrumentos."
Sua empresa, a Caco de Telha, se expandiu rapidamente. Além de cuidar de sua estrela principal, vende shows de outros artistas, promove festas corporativas, organiza bailes de formatura e produz discos. Só em Salvador, o escritório conta com mais de cem funcionários.
Ivete é a cantora que mais ganha dinheiro no país. Talvez mais por isso do que por música, ela tem sido fonte de inspiração para outras mulheres, algumas das quais chegam à beira de cloná-la. Com seu sorriso intransponível, Ivete fala do assunto sem citar nomes.
"Se sou mencionada no timbre da voz ou a cada gesto de alguém, significa que virei referência. E isso é muito bom para mim", diz. E garante que não teme a concorrência: "Lembro da aula de biologia em que aprendi uma coisa chamada permeabilidade seletiva. Está tudo ali no líquido. A esponjinha só absorve o que ela quiser, o que ela precisa. É assim que eu vejo o público. Ele sabe o que precisa absorver".