Quem presta vestibular este ano provavelmente não sabe o que é um Natal sem Simone. Há dezenove anos, é só chegar dezembro para que lojas, restaurantes e elevadores disparem a canção mais tocada e grudenta dessa época do ano: ?Então, é Natal, e o que você fez?/ O ano termina / e nasce outra vez?. A voz da baiana Simone, cantora que já conta 40 anos de carreira, mas há quase duas décadas é mais conhecida como uma espécie de intérprete "do peru" do país, sobe para entoar nada menos que seis vezes o verso ?Então é Natal?, quatro vezes a variação ?Então, bom Natal? e outras três a abreviação ?É Natal?. Em quatro minutos de canção.
Cansados dessa repetição, usuários de redes sociais organizaram a campanha Natal sem Simone, que pede para estabelecimentos comerciais evitarem a faixa-chefe de 25 de Dezembro, disco lançado por Simone em 1995 ? se não o álbum todo. Procurada para comentar a ação nas redes, a cantora não atendeu a reportagem. No programa Altas Horas, exibido pela Globo neste sábado, contudo, Simone, vestida de branco como um Roberto Carlos, considou ?lamentáveis? as críticas que 25 de Dezembro e Então É Natal vêm recebendo. "Eu lamento que se pratique esse ato violento e espero que a gravadora tome as providências cabíveis e necessárias, porque isso não cabe a mim, a mim cabe cantar", disse.
Lamentável mesmo é que ela não entenda que toda repetição ao extremo vira tortura. E que não veja como esse trabalho que defende fez mal à sua carreira ? que já foi, digamos, mais ambiciosa, flertando com o samba e a MPB, e hoje é estigmatizada pela canção do eterno retorno.