A destruição no Haiti deve manter por no mínimo mais cinco anos a presença de tropas brasileiras no país, afirmou ontem o ministro da Defesa, Nelson Jobim. Ele considera "impossível" a saída antes desse prazo.
Jobim reivindicou ainda que a gerência dos recursos obtidos com doações seja entregue à Minustah (Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti). O ministro disse que pediu ao presidente haitiano, René Préval, que definisse uma autoridade para coordenar o uso e o pedido de ajuda e doações. "Senão chegam todos esses auxílios individualizados que acabam se sobrepondo e sendo inúteis. Ouvimos falar em não sei quanto de doações para o Haiti. Acontece que isso nunca aparece ou aparece com muita dificuldade, porque os haitianos não têm gestores. Essa gestão deve ser feita via ONU. Não pode ser feita exclusivamente por ONGs", afirmou.
O presidente do Haiti, René Préval, pediu ontem à comunidade internacional que centre seus esforços na coordenação da ajuda humanitária que chega ao país, em vez de ficar trocando acusações sobre como melhor entregá-la. "A situação é extremamente difícil. Devemos manter a calma", afirmou.
"O que vamos fazer é pedir aos doadores que trabalhem com comitês que estabelecemos no governo, para tornar mais eficaz a distribuição da ajuda enviada internacional.
Desde o terremoto, que fez ruir o palácio presidencial, Préval tenta manter o governo funcionando a partir de um gabinete improvisado em um escritório da polícia haitiana, nos arredores do aeroporto de Porto Príncipe. A segurança do local é feita pelos americanos. O aumento da presença dos EUA nos esforços humanitários vem provocando reações dos outros países envolvidos.
Mais soldados
Um dia após o anúncio americano do envio de 10 mil militares ao Haiti, o Ministério da Defesa confirmou que planeja aumentar o efetivo brasileiro da Minustah, atualmente de 1.266 homens.
"Com relação ao incremento da força militar, a Defesa trabalha com essa possibilidade", disse o contra-almirante Paulo Zuccaro, representante da Defesa no grupo montado pelo governo para coordenar a resposta ao terremoto. Ele não quis adiantar o número de militares e quando eles podem ser enviados.
O Brabatt (Comando do Batalhão Brasileiro) no Haiti intensificou as patrulhas em Porto Príncipe para evitar violência, diz nota do Exército divulgada ontem.
Segundo o Brabatt, 800 homens estão nas ruas para evitar que a falta de segurança se agrave. Há saques a supermercados, e presos escaparam da cadeia na capital. Na operação, não está descartado o uso de armas letais.
Além da segurança, há preocupação com alimentação e medicamentos. Um avião da FAB (Força Aérea Brasileira) decolou ontem da base aérea do Galeão, no Rio de Janeiro, carregando toneladas de remédios, mantimentos, fardas, roupas de cama e barracas. A missão levou ainda 18 caixões que serão usados para trazer os corpos dos militares brasileiros mortos durante o terremoto. Há 14 com morte confirmada e outros quatro permanecem desaparecidos. A previsão é que os corpos dos militares cheguem ao Brasil nos próximos dias.