O Brasil está exportando sua principal ferramenta de fomento à cultura de base comunitária. Três países da Europa – Bélgica, Espanha e Rússia – contam com Pontos de Cultura certificados pela Secretaria Especial da Cultura do Ministério da Cidadania, os primeiros no exterior. As instituições foram criadas por brasileiros que, por amor à cultura nacional, buscaram formas para que outros povos se familiarizassem com a produção cultural brasileira e para que imigrantes brasileiros tivessem a oportunidade de vivenciar sua própria cultura.
Previstos na Política Nacional de Cultura Viva, os Pontos de Cultura são grupos e entidades de natureza ou finalidade cultural que desenvolvem e articulam atividades culturais em suas comunidades e em redes. Atualmente, há cerca de 4 mil registrados no Brasil. O reconhecimento como Ponto de Cultura garante uma chancela institucional aos grupos, o que pode ser importante para a obtenção de apoios e parcerias, e permite, ainda, que a entidade possa receber apoio financeiro por meio de editais públicos do governo federal, dos estados e dos municípios.
Um dos Pontos de Cultura no exterior foi criado pela médica obstetra Regina da Silva Barbosa, que, ao se aposentar, decidiu transformar sua biblioteca particular em pública. Na extensão da sua casa, em Bruxelas, na Bélgica, organizou seus livros e começou a desenvolver atividades para chamar a atenção de brasileiros e amantes da língua portuguesa.
“Após um edital público do Ibram (Instituto Brasileiro de Museus), que ganhei com um projeto de memória dos brasileiros na Bélgica em 2012 e 2013, passamos a realizar atividades culturais, para criação de memória e valorização da comunidade local de brasileiros. Criamos uma biblioteca de língua portuguesa e fundamos a associação para gerir os recursos”, conta Regina.
Atualmente, a Organização cultural e Artística Lusófona realiza, mensalmente, de um a dois encontros gratuitos, com contação de histórias e foco no público infantil. Além disso, a associação também empresta livros e promove conversas literárias e sessões de cinema, entre outras atividades.
De acordo com Regina, a comunidade brasileira na Bélgica conta com cerca de 50 mil pessoas e a portuguesa, em torno de 60 mil. “Com nosso trabalho, a gente valoriza o país e, principalmente, beneficia as crianças binacionais que estão aqui. É importante elas saberem que existe uma cultura brasileira esteja onde elas estiverem no mundo”,
Capoeira
Gaúcho de Porto Alegre, Gilson Maciel Ricardo, mais conhecido com Mestre Gil Maciel, é professor de capoeira desde 1994. Em 2005, mudou-se para Barcelona, na Espanha, e, desde então, tem batalhado para disseminar a arte marcial e, consequentemente, valorizar a cultura brasileira e afrodescendente. Em 2007, fundou a Asociación Cultural de Capoeira Angola Vadiação Ponto de Memória Barcelona, que reúne participantes de 23 nacionalidades diferentes. Entre os alunos, a maioria é de mulheres.
Por meio do projeto “Capoeira Calidad de Vida y Socialización”, Gil oferece à comunidade aulas gratuitas uma vez por semana. Também há grupos regulares pagos, o que permite a manutenção do espaço e o sustento do professor. “A capoeira movimenta uma economia criativa importantíssima. Está presente em 155 países e é um grande instrumento de projeção, de economia”, destaca Mestre Gil.
Além da Espanha, a capoeira chegou à Rússia por intermédio do paraense Marcos Roberto dos Santos. Apaixonado pela cultura brasileira e pelo potencial de florescer talentos, Santos encontrou no cunhado, o russo Samuel Artashyan, o parceiro ideal para dirigir o Ponto de Cultura Espaço do Brasil em solo russo, na cidade de Ecaterimburgo.
Desde a adolescência, Santos mobilizava comunidades ao seu redor para montar grupos de dança e teatro sem fins lucrativos. Era a forma que tinha para usufruir da cultura sem ter de ir para a capital, Belém. Venceu a falta de recursos e o analfabetismo e encontrou no esporte, especificamente na corrida, um caminho para sobreviver. “Eu acredito profundamente quando você dá a oportunidade a um indivíduo. Além de transformá-lo, você está potencializando talentos adormecidos”, afirmou.
A primeira oportunidade de realizar alguma ação cultural na Rússia ocorreu em 2014, quando Santos promoveu, durante quase um mês, aulas gratuitas de capoeira. Em 2018, com a Copa do Mundo na Rússia, houve a oportunidade de formalizar as atividades tocadas por Samuel Artashyan. Desde então, o Ponto de Cultura compartilha com os russos um pouco mais da cultura brasileira, por meio das aulas de capoeira.
Outros interessados
De acordo com a Secretaria da Diversidade Cultural da Secretaria Especial da Cultura do Ministério da Cidadania, além desses três Pontos já certificados no exterior, há solicitação de cadastro como Ponto de Cultura de instituições de outros seis países – Áustria, Canadá, Estados Unidos, França, Haiti e Portugal. “A Plataforma está aberta para todos e mapear esses grupos que atuam com a cultura nacional em território estrangeiro é de grande interesse para o Ministério da Cidadania”, destaca o secretário da Diversidade Cultural, Gustavo Amaral.
Desde 2016, a certificação dos Pontos de Cultura pelo governo federal é feita por meio de uma plataforma on-line. Ao se cadastrar na Rede Cultura Viva, as entidades passam a ter acesso às informações, processos e experiências, que permitirão o compartilhamento de capacidades, conhecimentos, serviços e produtos conectados em rede.
Ibercultura Viva
Lançada formalmente em abril de 2014, durante o 6º Congresso Ibero-americano de Cultura, em San José, na Costa Rica, o IberCultura Viva é o um programa ibero-americano de fomento às políticas culturais de base comunitária. Atualmente, conta com a participação de 11 países: Argentina, Brasil, Chile, Costa Rica, El Salvador, Espanha, México, Peru, Equador, Guatemala e Uruguai. Juntos, esses países trocam informações, apoios e realizam intercâmbios e atividades conjuntas.
Nesses países, há Pontos de Cultura inspirados na experiência brasileira (e não certificados pelo Brasil, diferentemente dos europeus), os quais atuam para cultivar e estimular as iniciativas culturais de seus próprios países. Os primeiros países a realizar ações semelhantes foram a Argentina e o Peru, em 2011 e 2012, respectivamente. Depois, foram realizadas convocatórias na Costa Rica (2015), em El Salvador (2016), no Uruguai e no Chile (2017). (Assessoria Secretaria Especial de Cultura)