Mais que uma dança ou uma expressão de alegria e celebração, o samba é um instrumento de identificação do brasileiro. O ritmo, os movimentos e as rimas abrem um canal de contato com as raízes de quem nasceu por essas terras. Partido Alto, Samba de Terreiro e Samba-enredo são as três vertentes do samba carioca elevadas a patrimônio imaterial brasileiro – reconhecimento do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Uma relação com a raiz e o formato. O jornalista e pesquisador da Fundação Nacional das Artes (Funarte), no Rio de Janeiro, Pedro Paula Malta, vai além, destaca o samba como uma visão e compreensão de mundo, da história e do passado do povo brasileiro. Além disso, traz ao presente a confraternização. “O samba tem essa característica de agregar, de você ter dentro desse espírito de se compartilhar, de você contribuir com a tua parte, o outro contribuir com a dele, e aquilo tudo se formar como samba. Se a gente tomar como exemplo a roda de samba, é uma coisa compartilhada. Você está em uma roda trocando energia com muitas pessoas e, cada um, contribuindo com o seu pouco ou o seu muito para aquela roda”, observa.
Toda essa simbologia, pluralidade e ressignificação no imaginário popular ocupa espaço fixo na narrativa cultural brasileira. O pedido para tornar as matrizes do samba carioca em patrimônio imaterial veio de dentro da comunidade da Estação Primeira de Mangueira – o Museu do Samba. O local narra, em exposições fixas e temporárias, os processos dessa matriz.
Criado em 2001 como Centro Cultural Cartola, o Museu do Samba atuou à frente do processo de reconhecimento e salvaguarda do samba como patrimônio cultural imaterial, além de desenvolver ações educativas e advogar por mais espaço na sociedade para o samba, sua memória e os detentores desses bens culturais. Além de preservar a origem, a proposta fortalece a cultura.
Reconhecimento e salvaguarda
“Patrimônio imaterial que entendemos são as nossas referências culturais; que são compreendidas como referências culturais” – explica a superintendente do Instituto Iphan no Rio de Janeiro, Mônica Costa. Portanto, para ser validado como patrimônio cultural brasileiro, o rito deve ser referenciado pela comunidade que detém o seu conhecimento técnico. “Dentro desse plano de salvaguarda você tem sempre a criação de um centro de referência da memória daquele bem. No caso do samba carioca, é o Museu do Samba”, relata Mônica.
Presidente do Conselho do Museu do Samba, Nilcemar Nogueira sabe de seu privilégio no meio. Neta de Dona Zica e do mestre Cartola, fala com propriedade sobre o que representa o samba e as transformações que provocou na trajetória de sua família. “As histórias dos meus avós ilustram bem este fato da transformação. Comprovam isso. Quando eu digo que o samba tem várias linguagens, estou falando que tem a música, o ritmo, a poesia, a dança, a culinária. As linguagens tradicionais estão presentes com outros desdobramentos, o que constitui uma grande cena”, observa.