Censuras, ameaças de morte, linchamento virtual e repressão policial. Essas foram algumas das violências que os artistas Elisabete Finger, Maikon K, Renata Carvalho e Wagner Schwartz sofreram em represália às suas performances artísticas. A partir desses ataques e da discussão sobre liberdade de expressão, censura e limites na arte, eles se reúnem na peça “Domínio Público”, que será apresentado na programação da 5ª edição do JUNTA - Festival Internacional de Dança, que inicia nesta quinta, 14, e vai até o dia 17 de novembro na Biblioteca Estadual Cromwell de Carvalho, Praça do Fripisa e arredores, no centro de Teresina.
“É uma peça essencial para pensar o mundo neste momento. Pensar a arte a partir dessa ótica de ataque, de censura. Acho que ela se torna muito coerente por causa disso. São artistas próximo, que já vieram ao JUNTA em outros momentos. Então, parece que é longe, mas é super perto da gente. É aproximar, localizar e dizer: ‘olha, o que está acontecendo aqui. Isso nos diz respeito sim!’ É importante botar lenha na fogueira da discussão”, observa Janaína Lobo, uma das diretoras e curadoras do festival.
Wagner Schwartz, em sua performance La Bête, ofereceu seu corpo nu para ser dobrado e desdobrado pelo público no Museu de Arte Moderna de São Paulo, em 2017. Elisabete Finger é a mãe da criança que aparecia tocando o pé de Wagner no vídeo da performance que, fora de contexto, foi espalhado pelas redes sociais, viralizou e deu origem a uma onda de acusações de pedofilia contra o artista. Renata Carvalho é a atriz trans que encenou a peça “O evangelho segundo Jesus, rainha do céu”, proibida em diferentes cidades do país. E Maikon é o artista que fazia uma performance nu, dentro de uma bolha transparente, na obra “DNA de Dan”, obra esta que foi selecionada e estava em circulação pelo Palco Giratório. No entanto, chegou a ser preso e impedido de se apresentar em Brasília.
Além de Domínio Público, Wagner Schwartz traz ao JUNTA o seu espetáculo “A Boba”. Um solo inspirado na pintura de mesmo nome criada entre 1915 e 1916 pela artista plástica Anita Malfatti. Ao olhar para a obra, Schwartz diz perceber as cores da bandeira brasileira, como também manchas vermelhas que compõem o espaço onde ela tem sido hasteada. Para ele, A Boba é o funeral de um dogma, de uma depressão cívica, de uma ideia constrangedora de nação, que o artista toma a liberdade de fazer a seu modo.
O JUNTA terá espetáculos de dança contemporânea, ações na rua, roda de breaking, batalha de vogue e o Buchada: espaço para conversas indigestas e necessárias. Mais da metade da programação é gratuita e a outra parte está com preço popular.