A Fundação Nacional de Artes (Funarte), instituição vinculada ao Ministério da Cidadania, lança nesta terça (25), no Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, o livro Poemas de Portinari, em nova edição ilustrada. A publicação comemora os 40 anos do Projeto Portinari.
Nos últimos anos de sua vida, já consagrado como o grande pintor brasileiro, Portinari passou a escrever poesia, sem a pretensão de publicar. Foi por insistência do amigo Antonio Callado que decidiu aprovar a publicação de uma coletânea, que saiu em 1964, dois anos após a morte do autor, pela José Olympio Editora.
A primeira edição saiu sem ilustrações, conforme determinara Candinho, que não queria se aproveitar da boa fama de pintor para vender o livro. Nesta reedição da Funarte, porém, uma vasta pesquisa foi empreendida pelo Projeto Portinari para encontrar as pinturas mais apropriadas para ilustrar os poemas.
O resultado é um belíssimo livro ilustrado, com poesia e pintura inspiradas nas memórias da infância do artista em Brodowski (SP). Preservada a seleção dos poemas preparada por Antonio Callado, o Projeto Portinari alterou levemente a disposição dos textos e fez alguns acréscimos, a partir de minuciosa comparação com os manuscritos originais de Candinho.
A organização original dividiu os poemas em três grandes partes: a primeira sobre a alegria do menino no interior paulista; a segunda sobre os medos da infância; e a terceira, de cunho social, sobre a revolta que o homem feito sentiu ao se dar conta dos horrores da fome e da miséria. A nova edição vem acrescida de uma quarta parte, Odes, em que Portinari tece homenagens poéticas.
Os textos de abertura históricos de Manuel Bandeira e Antonio Callado foram mantidos e a nova edição traz ainda uma nova apresentação de Marco Lucchesi, presidente da Academia Brasileira de Letras. Com a reedição, o Projeto Portinari comemora 40 anos de empenho na preservação e difusão da obra do grande pintor brasileiro Candido Portinari.
Sobre Portinari
Candido Portinari nasceu em 30 de dezembro de 1903, numa fazenda de café perto do povoado de Brodowski, no estado de São Paulo. Filho de imigrantes italianos de origem humilde, recebeu apenas a instrução primária e começou a pintar aos nove anos. Seis anos mais tarde, mudou-se para o Rio de Janeiro e se matriculou na Escola Nacional de Belas-Artes. Em 1928, conquistou o Prêmio de Viagem à Europa, com o Retrato de Olegário Mariano. Permaneceu em Paris durante todo o ano de 1930, de onde, à distância, viu melhor a sua terra.
Ao retornar, colocou em prática a decisão de retratar nas suas telas o Brasil. Preocupado, também, com aqueles que sofrem, Portinari mostrou em cores fortes a pobreza, as dificuldades, a dor. Portinari participou da elite intelectual brasileira numa época em que se verificou uma notável mudança na atitude estética e na cultura do País. Tornou-se um dos maiores pintores do seu tempo. Por seu envolvimento político, foi perseguido e chegou a se exilar por certo tempo no Uruguai. Na última década de sua existência criou, para a sede da Organização das Nações Unidas, os painéis Guerra e Paz. Candido Portinari morreu no dia 6 de fevereiro de 1962, vítima de intoxicação pelas tintas.
Trecho do livro Poemas de Portinari
Portinari – O Espantalho na Tempestade
Viajante Solitário
Não me quiseram, enjeitaram
Minhas palavras…
Serei um dos meus espantalhos?
Afugento os caminhantes?
Não, eles se afugentam. Não
Entendem a lua
Não sabem da poesia
Só não estou, mesmo não estando
Comigo. Converso com o vento e a
Tempestade.
De noite ou dia – verei as sombras
E dormirei em paz. Tenho uma
Camisa. Meu leito é embaixo das
Árvores. Tranquilo ouço o rumorejar
Das folhas secas…