O escritor Alisson Carvalho acaba de publicar o livro ‘Boxers’. Trata-se de uma narrativa composta por dez contos. O "boxe chinês", conhecido como kung fu, é a grande linha que costura todos os contos. As histórias trazidas nesta obra se conectam com esta noção, tentando desconstruir alguns estereótipos.
O título e um dos contos faz referência às revoltas ocorridas na China do final do século XIX e começo do XX, quando lutadores se organizaram na “sociedade dos punhos harmoniosos”, mais conhecida como Boxers. Eles lutaram contra as investidas imperialistas do ocidente.
A luta, nesse contexto, mais do que uma reação à invasão de potências estrangeiras, era a briga pela possibilidade de existir conforme os próprios princípios, preceitos e tradição. Mas longe de enaltecer os boxers o autor apresenta algumas vivências de quem vive em estado de sítio.
E o livro também fala sobre afetos, relações dentro de alguns ambientes hetero-cis-normativos. E traz a tona assuntos como homofobia. “O tema é importante, já que vivemos em uma realidade na qual temos cerca de 300 mortes violentas LGBTQIA+. Segundo o Grupo Gay da Bahia é 1 morte a cada 26h, 2019.O que eu pretendo ao abordar essa temática é dizer que o amor não possui regras e essa discussão é colocada de diversas maneiras, inclusive problematizando a estrutura cisheteronormativa e, como isso, violenta diariamente muitas existências, seja negando, invisibilizando, ou mesmo, violentando literalmente a nossa existência”, diz o autor.
A violência desses processos deixa cicatrizes, mas as histórias apresentadas no livro são ressignificadas, apresentando a perspectiva de quem supera muitas dessas violências.
Alisson conta que começou a escrever Boxers no ensino médio, em 2007, depois de ter deixado os treinos de kung-fu. “Também nesse período caiu a ficha de que eu era gay, eu sempre soube, mas nunca parei para pensar nisso”.
Daí nasceram os primeiros rascunhos do livro que ficou guardado durante alguns anos. Uma época depois, ele voltou a olhar os escritos, ao retornar as aulas de kung fu e já estava escrevendo contos para concursos literários. “Aí eu decidi reestruturar o livro, e nisso passou uns 12 anos entre o primeiro escrito e as revisões. Nesse espaço de tempo fui mudando algumas coisas, revendo outros, até que há mais ou menos 3 anos eu decidi realmente publicar o livro, e eu confesso que isso foi mais por pressão dos amigos que por vontade própria. Então nasceu a versão final do livro, e no ano passado eu mandei para a editora Penalux e eles decidiram publicar”.
Por Liliane Pedrosa