?O casal toma café da manhã junto, sai para trabalhar, se diverte, se respeita. Eles se amam e buscam a felicidade conjugal. Querem ter uma vida juntos e construir uma história de vida honrada. Eles não querem transgredir ou chocar, querem simplesmente viver?. É assim que Marcello Antony define a relação de seu personagem, o advogado Eron, de ?Amor à Vida?, com o parceiro Niko - vivido por Thiago Fragoso.
Apesar de os dois ainda não terem aparecido na trama de Walcyr Carrasco, Antony está confiante de que o público irá assimilar a história do casal e torcer pelos dois. ?Não acredito na possibilidade de rejeição dos personagens?, afirma ele, que é a favor do casamento entre pessoas do mesmo sexo e pretende apenas provocar uma discussão saudável sobre o tema: "Não estamos levantando bandeira, nem defendendo ou criticando?.
Essa não é a primeira vez que uma novela tenta abordar o tema da homossexualidade fora de um contexto cômico. Em ?Torre de Babel? (1998), as personagens de Christiane Torloni e Silvia Pfeifer viviam um relacionamento e foram ?tiradas de cena? na antológica sequência da explosão de um shopping. Anos depois Torloni admitiu que o motivo da morte de sua personagem foi o preconceito do público.
Para evitar que seu personagem vá pelo mesmo caminho, Antony garante estar se dedicando ao máximo. ?Meu papel junto com o Thiago é retratar o amor. Tornar essa história bonita e real do ponto de vista do público?, diz ele. Confira abaixo a entrevista exclusiva do ator:
Na trama de Walcyr Carrasco, seu personagem terá um relacionamento estável com o de Thiago Fragoso e vocês tentarão ter um filho misturando o DNA dos dois. Qual a importância de retratar um novo modelo de família na sociedade brasileira?
Acredito que uma das funções da arte é fazer o público pensar questões que não necessariamente fazem parte de sua realidade. Ainda mais se tratando de um meio de comunicação de massa como uma novela no horário nobre. Não estamos levantando bandeira, nem defendendo ou criticando. Mas, sim, gerando uma discussão saudável sobre diversos assuntos como as antigas leis e burocracias diversas para adoção, casamento gay e preconceito. Será que ainda somos uma nação preconceituosa ou somos preconceituosos sem analisar nossa sociedade atual?
O que passou pela sua cabeça quando recebeu o convite para esse personagem? E o que o motivou a aceitar?
Além de ter um respeito enorme pelo trabalho do Walcyr, fiquei instigado por abordar esse assunto num veículo de massa como a televisão. Meu papel junto com o Thiago é retratar o amor. Tornar essa história bonita e real do ponto de vista do público.
Você conversou sobre o personagem com sua mulher e seus filhos?
Tentou prepará-los para vê-lo em um contexto polêmico (pela dificuldade que o público brasileiro vem demonstrando em aceitar personagens gays fora da comédia somado ao já polêmico tema da inseminação artificial)?
Sou ator e esse é o meu oficio. Meus filhos entendem superbem isso. Tenho pensado apenas em fazê-lo da maneira mais leve e verdadeira possível. Um ser humano normal, que quer ser pai, que ama e tem muito carinho a oferecer a uma criança. Já está na hora de vermos o amor por trás dos estigmas.
Em entrevista, Thiago frisou que a proposta é retratar um casal homossexual sem estigmas ou afetação. Você acredita que é possível inserir a rotina de um casal homossexual com naturalidade nos programas de TV?
Acredito que sim. Os dois fazem tudo como um casal hétero: tomam café da manha, trabalham, se divertem, se respeitam. Eles se amam e buscam a felicidade conjugal, querem ter uma vida juntos e construir uma história de vida honrada. Eles não querem transgredir ou chocar, querem simplesmente viver.
Existe uma espécie de ?suspense clássico? sobre o beijo gay em novelas brasileiras. A cena já foi gravada e cortada em outras novelas. Você acha que o público está pronto, finalmente, para esse momento?
Tudo depende do cuidado com a cena. Se não for algo gratuito e sem propósito, e se o público tiver comprando a história, acredito que sim.
Thiago comentou que não será necessário um laboratório porque homossexuais fazem parte do convívio social. Você procurou fazer algum tipo de pesquisa?
Tenho muitos amigos homossexuais, que não são esteriotipados e nem vivem no exagero. Me inspirei neles.
Ao longo da sua vida quando começou a perceber que existia uma diferença de orientação sexual entre as pessoas? Isso foi natural para você?
Sim, foi. Não me lembro de sofrer com isso.
Já recebeu cantadas de homens? Como lidou?
Não diretamente. Nada ofensivo ou grosseiro.
Além do casal formado por você e Thiago, ?Amor à Vida? traz tipos como o personagem de Mateus Solano, que é um homossexual mau-caráter e enrustido que usa mulher e filho para parecer respeitável.
Você teme a polêmica? Acha que existe o risco dos personagens criarem uma rejeição a ponto de Walcyr ter que desistir deles, como já aconteceu em outras novelas?
Acredito que os tempos mudaram e o preconceito tem cada vez menos espaço. Não acredito na possibilidade de rejeição dos personagens.