Dizer que as puladas de cerca do homem podem fazer bem ao casamento parece uma atitude insuportavelmente machista, não é verdade? Mas há quem defenda essa tese, como a psicóloga francesa Maryse Vaillant, autora do livro Les Hommes, I Amour, la Fidélité ("Os Homens, o Amor, a Fidelidade", disponível em português). Nessa obra, ela faz afirmações do tipo:
"A maioria dos homens precisa de seu próprio espaço. Para eles, a infidelidade conjugal é praticamente inevitável."
"Ser infiel não significa romper os votos do matrimônio ou deixar de amar a esposa. É a necessidade [que os homens têm] de ceder aos impulsos."
"As mulheres podem ter uma experiência incrivelmente libertadora ao aceitar que os pactos de fidelidade não são naturais, mas culturais."
A antropóloga Mirian Goldenberg, professora da UFRJ e autora de Por Que Homens e Mulheres Traem? (Bestbolso), concorda em pelo menos um ponto: a infidelidade masculina não impede o homem de amar sua parceira oficial. "Ninguém quer deixar de experimentar os próprios desejos mesmo amando e desejando a esposa, mesmo querendo estar com ela", disse Miriam em entrevista à revista Alfa. "São as duas coisas ao mesmo tempo".
Para a francesa Maryse, trair é fundamental para o funcionamento psíquico dos homens. "E, quando eles permanecem ao lado da esposa, cumprindo o papel de marido e pais, ficam até mais fiéis à ideia de matrimônio". Uma pesquisa sobre casamento e infidelidade, também publicada pela Alfa, parece corroborar a opinião da psicóloga. Mais de 70% dos homens entrevistados afirmaram já ter pulado a cerca e quase a metade dos que alegaram ser fiéis confessou a intenção de pular.
Muitos especialistas, porém, discordam frontalmente de Maryse. Para Ailton Amélio da Silva, professor de psicologia da USP e autor do livro Relacionamento Amoroso (Publifolha, 2009), a traição do homem costuma ser devastadora para a autoestima da mulher e implica perda de confiança no parceiro. "Sendo assim, dificilmente faz bem à vida do casal".
Dados do IBGE sugerem que a tese de Ailton tem fundamento, pelo menos aqui no Brasil: 71% das separações solicitadas por mulheres são motivadas pela traição masculina. Mas a psicóloga francesa rebate com uma estatística que ela mesma apurou em seu país. Na França, 39% dos homens casados admitem já ter traído. "E apenas 9% afirmam que deixaram de amar a esposa."
"Dor de corno passa!"
- Só 10% dos casamentos terminam depois de uma traição
- No Brasil, 60% dos homens admitem já terem sido infiéis pelo menos uma vez, contra 47% das mulheres.
- Cerca de 75% dos relacionamentos entre homem e mulher já foram afetados pela infidelidade de pelo menos um dos parceiros.
- Apenas 30% dos traídos terminam a relação. Esse índice cai para apenas 10% quando homem e mulher são casados.
- No mundo, aproximadamente 90% dos casamentos sobrevivem às puladas de cerca. É a infidelidade feminina que provoca mais separações.