Em meio a tantos relatos de mulheres com dificuldade para alcançar o orgasmo, histórias de quem atinge o clímax apenas com carícias nos seios parecem invencionice de quem quer se exibir. Apesar de não ser comum ou frequente, esse tipo de prazer pode mesmo acontecer. Além de registros na literatura médica, existem estudos que mostram como isso é possível do ponto de vista científico.
A estimulação dos mamilos ativa a mesma região cerebral referente aos órgãos sexuais chamada de córtex sensorial genital, o que explicaria o seu alto potencial erógeno e a sensação de orgasmo. Essa descoberta, por meio de exames de imagem, aconteceu por acaso em uma pesquisa de mapeamento da resposta sexual feminina no cérebro.
“Esperava ver uma resposta dos mamilos apenas na área do tórax do córtex sensorial”, diz o neurocientista comportamental Barry Komisaruk, coordenador do estudo e professor de psicologia da Universidade Rutgers, em Nova Jersey, nos Estados Unidos.
O mapeamento dos mamilos, assim como de dedos das mãos e dos pés, deveria servir apenas como referência na pesquisa, porém o resultado demonstrou a existência de uma base neurológica para o prazer nessa região.
O trabalho de Komisaruk tem como objetivo mapear as áreas do cérebro correspondentes à vagina, ao clitóris e ao colo do útero, que quando estimulados ativam pontos distintos e identificáveis no córtex sensorial genital. Apesar de os mamilos também aparecerem na pesquisa, o neurocientista explica que existe variabilidade na resposta cerebral e nem sempre o estímulo provoca uma reação.
"No entanto, quase todas as mulheres em nossos vários estudos disseram que a estimulação dos seios e mamilos produz uma sensação erótica.”
Para Flávia*, 45, pedagoga de São Paulo, gozar somente com carícias nos seios foi algo surpreendente. Ela chegou ao orgasmo dessa maneira pela primeira vez com um namorado quando tinha 25 anos. “Não esperava. Foi diferente, mas tive certeza de que era um orgasmo”, conta. Depois dessa ocasião, Flávia experimentou esse prazer mais algumas vezes, mas não é sempre que acontece, não se tornou algo que ela possa controlar ou repetir quando quiser.
Ocitocina e prazer
O orgasmo por meio dos mamilos também foi inesperado para Nalini Narayan, 35, modelo e escritora, autora do livro “Fêmea Alfa – O Diário Real das Minhas Orgias” (Editora Matrix). Aos 15 anos, ela vivenciou essa experiência. “Penso que porque era uma moça virginal tudo me estimulava muito, e os seios eram a maior fonte do meu prazer”, afirma.
Nalini conta que na época teve vergonha, mas a sensação vinha de forma incontrolável, sozinha ou com parceiros. “Cheguei a ter orgasmos espontâneos só com o toque nos bicos e quando um namoradinho me sugou pela primeira vez”, fala.
A sucção dos mamilos provoca sensações prazerosas e libera ocitocina, hormônio facilitador do orgasmo, que também auxilia no processo de amamentação. “Existem relatos de mães que chegaram ao orgasmo amamentando e ficaram muito constrangidas com essa situação”, diz a ginecologista e sexóloga Carolina Ambrogini, coordenadora do Projeto Afrodite (Centro de Sexualidade Feminina) da Unifesp (Universidade Federal Paulista).
A liberação da ocitocina também ajuda a explicar como algumas mulheres atingem o clímax apenas com a manipulação dos seios, sem a participação do clitóris ou da vagina. Contudo, o mecanismo desse orgasmo ainda não está claro para a ciência.
“Teoricamente é possível, mas é difícil acontecer, nunca ouvi relatos de pacientes, apenas casos na literatura médica”, afirma Carolina. Entretanto, a ginecologista ressalta que o prazer feminino não se restringe ao clitóris.
“O orgasmo pode acontecer até durante o sono, ele está muitomais na cabeça das mulheres, depende mais de uma boa excitação e do pensamento erótico”, fala.
Sem pressa para chegar lá
A sensibilidade nos seios varia para cada mulher. Para aquelas que gostariam de explorar mais a possibilidade de orgasmo, a dica da coach de relacionamento e sexualidade Virginia Gaia, também educadora sexual, é experimentar diferentes estímulos e não ter pressa. “Quanto mais excitada a mulher estiver, maiores são as chances”, diz a especialista.
Algumas preferem toques sutis, como carícias suaves, chupadas e lambidas, que podem ser complementadas com géis comestíveis. Para as mulheres que gostam de mais intensidade, como as adeptas de práticas sadomasoquistas, existem outros acessórios. “Há opção dos grampos para mamilos que tornam o estímulo mais intenso”, fala Virginia.
O prazer pela excitação dos mamilos não é exclusividade das mulheres. Os homens também desfrutam dessa zona erógena e apresentam respostas cerebrais similares. “Fizemos pesquisa comparativa e descobrimos que a autoestimulação dos mamilos em homens também ativa o córtex sensorial genital, na mesma localização no cérebro que as mulheres”, declara Barry Komisaruk.