Criado há 10 anos, o Prêmio MPPI de Jornalismo nasceu para incentivar a produção de matérias que evidenciem o trabalho do Ministério Público do Piauí. Ao longo da última década, o prêmio se consolidou como referência na valorização do jornalismo investigativo e na promoção da transparência institucional.
Temas como saúde mental, educação inclusiva, combate às queimadas, direitos de idosos, limpeza urbana e meio ambiente, além da educação como instrumento para afastar jovens da criminalidade, defesa do consumidor, sustentabilidade por meio da reciclagem e combate aos lixões, entre outros, foram algumas das abordagens de trabalhos jornalísticos que tiveram repercussão social e mereceram destaque.
Com grande respaldo na sociedade após 10 anos de existência, o prêmio reafirma que a união entre imprensa e Ministério Público é essencial para fortalecer a democracia, garantir transparência e gerar resultados concretos que beneficiam toda a população.
A interação entre o Ministério Público e a imprensa reflete uma parceria que demonstra a iniciativa de um órgão que defende e luta pelos direitos de uma sociedade castigada por injustiças, mas que, através da mídia, consegue fazer a diferença por meio de matérias que retratam a realidade e chamam a atenção para questões que podem ser transformadas em benefício da coletividade.
É o caso da jornalista Joelma Abreu, vencedora do 8º Prêmio MPPI de Jornalismo em 2023, com a reportagem “Ministério Público do Piauí e o Direito do Surdo”, na categoria Telejornalismo. Ela conta que a escolha do tema foi motivada por sua vivência familiar: sua mãe, uma tia, um tio e um primo têm a mesma deficiência. Joelma convivia com essa realidade no dia a dia, mas não percebia plenamente as dificuldades enfrentadas, como a ausência de intérpretes de Libras que pudessem auxiliar, por exemplo, estudantes universitários que encontravam barreiras na linguagem para alcançar a tão sonhada formatura.
Já a jornalista Emelly Caroliny Alves Carneiro venceu na categoria Jornalismo Impresso, com a matéria “Por um Piauí mais limpo: a luta pelo fim dos lixões a céu aberto”. A reportagem deu visibilidade à luta pelo encerramento dos lixões e ressaltou a importância de uma gestão eficiente de resíduos, evidenciando como o MPPI atua em defesa do meio ambiente e da saúde coletiva.
Everangela Barros valoriza união do MPPI com a imprensa
Conforme a promotora de Justiça Everangela Barros, presidente da Comissão Julgadora do Prêmio de Jornalismo do MPPI 2025, a criação do prêmio nasceu da consciência sobre a importância da parceria entre o Ministério Público e a imprensa. “O objetivo era realçar esse reconhecimento do órgão ao trabalho dos profissionais da imprensa e a valorização do trabalho de colocar o nosso ofício à disposição e de forma clara para sociedade”, explica.
Sobre o fortalecimento da relação entre o MPPI e a imprensa, Everangela destaca: “É uma parceria muito profícua porque, à medida que o Ministério Público tem a defesa da sociedade como mira, a imprensa tem essa obrigação de informar e de comunicar. Então, essa parceria, essa união, só rende frutos positivos na medida em que vocês têm como externar para a sociedade aquilo de que é feito e produzido pelo Ministério Público, e costumo dizer que sempre de uma forma muito clara e transparente”, reforça.
Promotora Everangela Barros falou sobre os 10 anos do prêmio. (Foto: Gilson Rocha)
A promotora, que está à frente da Comissão Julgadora há três anos, afirma que se inteirou de todo o processo dos dez anos de premiação. “Reportagens muito importantes nas diversas áreas de atuação do Ministério Público, como infância, combate à corrupção, meio ambiente, violência doméstica e direitos humanos”, disse, acrescentando que gostaria de ressaltar algumas de maior impacto. “Quando foi veiculado o projeto Zero Lixões, houve uma transformação muito grande no meio ambiente, e eu acredito que essa divulgação da imprensa também contaminou positivamente os municípios a se engajarem no projeto. Daí a importância dessa interação entre o projeto e a divulgação pela imprensa. Também destaco as questões de violência doméstica e familiar, com reportagens bem significativas que mostraram a realidade de mulheres que hoje têm mais força para fazer denúncias e procurar o órgão, porque estão mais esclarecidas a partir dessas reportagens”, pondera.
Promotora destaca compromisso com a democracia
A promotora esclarece que o Prêmio de Jornalismo tem contribuído para aproximar a imprensa e o Ministério Público na defesa dos interesses coletivos e na promoção da justiça. “À medida que a imprensa noticia alguns casos que chegam ao trabalho do Ministério Público e, quando divulgamos nossas ações, a imprensa o faz ecoar na sociedade, eu acredito que, nessa interação, sempre a sociedade sai positivamente impactada, tanto na forma da imprensa trazer para gente aquilo que a sociedade demanda, quanto na informação do Ministério Público daquilo que ele está atuando precipuamente para que a sociedade tenha conhecimento dessas ações. Nessa troca, a sociedade sempre sai ganhando.”
Sobre os dez anos do prêmio, a promotora resume a mensagem em duas palavras: gratidão e compromisso. “Gratidão porque sempre que lançamos os editais, os jornalistas e profissionais de imprensa de forma geral se inscrevem; e gratidão pela forma sempre ética da comunicação, feita de maneira clara e linear pela imprensa. E compromisso do Ministério Público de andar sempre de mãos dadas, abertos e à disposição da imprensa para interlocução, para comunicar à sociedade aquilo que é feito e também para receber dessa sociedade os reclamos para melhoria da nossa atuação. Nesses dez anos, que a gente estreite ainda mais essa parceria entre Ministério Público e imprensa para que possamos continuar defendendo a democracia, a liberdade de expressão e o Estado democrático de direito, que é o nosso maior objetivo.”
Everangela destaca reportagem sobre os lixões. (Foto: Gilson Rocha)
Na constante evolução do jornalismo, marcada pelo crescimento das mídias digitais e pelo surgimento de novas linguagens, Everangela Barros afirma que há planos de incluir novas categorias no concurso nos próximos anos. “Nós temos como obrigação estarmos abertos a essa nova visão de comunicar e contar histórias, porque as mídias digitais estão dominando o conhecimento e a forma de transmitir mensagens. Então, o prêmio não pode ficar atrás: tem que abrir espaço para essa nova forma de comunicar. A intenção é sempre aprimorar e incluir novas mídias”, frisa.
Quanto aos maiores desafios enfrentados para que os jornalistas e o Ministério Público sigam atuando de forma integrada, a promotora afirma: “Eu entendo que os desafios são contínuos, porque os problemas às vezes se avolumam e nós temos que buscar uma resolução mais efetiva, mais rápida. Mas, à medida que a imprensa comunica e informa, ela também ajuda a formar cidadãos mais esclarecidos. E esses cidadãos são aqueles que batem à porta da Justiça, do Ministério Público, por melhorias. Então, essa interação sempre é benéfica, à medida que, quando temos pessoas mais bem informadas, elas também conseguem se posicionar na sociedade de forma melhor e mais digna”, avalia.
Orlando Berti reforça valor do Prêmio MPPI para o jornalismo
O professor Orlando Berti, pós-doutor, doutor e mestre em Comunicação, destacou a importância de iniciativas como o Prêmio MPPI de Jornalismo para valorizar o papel da imprensa na defesa do interesse público e da cidadania.
“Toda a atitude que traga reflexões, que traga avanços, que traga perspectivas positivas, elas são mais do que bem-vindas por reverberarem o bom jornalismo. O jornalismo no sentido de uma comunicação social que traga a mediação entre os públicos, que traga a mediação entre os diversos segmentos da sociedade e a gente sabe da importância do próprio Ministério Público nessas perspectivas com a necessidade contemporânea e urgente das questões da própria cidadania, de enveredar os cidadãos, de enveredar as temáticas sociais, de enveredar as necessidades dessa mediação entre os poderes, entre a sociedade, entre seus entes”, avalia.
Mestre em Comunicação, Orlando Berti falou sobre jornalismo investigativo. (Foto: Arquivo Pessoal)
Nesse contexto, Berti ressaltou que a parceria entre o Ministério Público e a imprensa contribui para fortalecer a democracia e aproximar a sociedade das instituições de justiça.
“A democracia, principalmente nos últimos 20 anos, tem tido uma nova perspectiva de status, principalmente por conta das próprias questões das transformações mundiais, das transformações, das suas dicotomias, do que é visto como cidadania, do que é visto como contra-hegemônico, do que é visto como diferencial. Então, todas as atitudes de todos os órgãos que refletem essas dicotomias, as questões das injustiças, as questões da sociedade, elas são bem-vindas, elas são necessárias, elas são prementes. Então, quando você envereda por uma perspectiva desse tipo, você tem um ganho social, principalmente nesses períodos em que a própria informação é especialmente efêmera, o que não é culpa do jornalismo, é culpa muitas vezes de como nós consumimos essa informação, pelo fato de ela ser efêmera, quando ela edifica e ela sai desse aspecto efêmero e ela vai para o aspecto de contribuir, de construir, é algo que contemporaneamente tem uma necessidade gigante para a mente e é mais do que válido”, justifica.
Vale lembrar que o jornalismo investigativo social costuma enfrentar desafios, como a falta de recursos e as pressões externas. Nesse cenário, o professor enfatiza o peso do reconhecimento institucional do prêmio para estimular a produção de reportagens de qualidade.
“É de extremíssima importância, porque hoje, infelizmente, por mais que a gente tenha mais ferramentas para o jornalismo investigativo, você vê menos o jornalismo investigativo e mais uma vez não é culpa do jornalista, é culpa das próprias questões de que muitas vezes os próprios públicos não esperam, porque hoje acontece um fato, você quer nos próximos segundos, você quer nos próximos minutos, infelizmente, por no outro dia, na outra semana, no outro mês, a gente ter centenas de novos fatos, você termina não tendo não só o tempo de investigar, mas também quando você termina essa investigação, ele se torna efêmero e inócuo, então quando você tem órgãos que enveredam nessa parceria da investigação, no tempo que as investigações devem ser feitas, porque você não deve fazer com pressa. Você deve fazer com qualidade, você termina tendo que ter esses parceiros”, acrescenta Orlando Berti.
Professor enaltece o compromisso com a verdade
O especialista em comunicação reconhece que, ao longo da última década, o jornalismo passou por grandes transformações, especialmente com o avanço das mídias digitais. Por isso, prêmios como o do MPPI podem acompanhar essas mudanças e continuar relevantes.
“Atualmente a gente vive com uma série de novas sociabilidades, série mesmo. As redes sociais nos trouxeram pontos positivos em trazer novas vozes, mas ao mesmo tempo vozes que muitas vezes comunicam, mas não jornalisticizam. E o fato de não jornalisticizar termina trazendo uma série de fluxos em que as próprias pessoas não compreendem que comunicação é diferente de jornalismo. A comunicação é o fato de alguém falar, e muitas vezes essa fala atingir milhares e milhões de pessoas, mas não necessariamente com compromisso com a verdade. Quem traz esse compromisso com a verdade é o jornalismo. Por isso que o jornalismo, mesmo tendo essas mudanças, ainda tem sua razão de ser, quando ela é feita com compromisso, quando ele é feito com responsabilidade, quando ele é feito com carinho, ele tem todas as suas razões de ser. Então, mesmo as redes sociais ajudando a pautar, ajudando a refletir, ajudando a instigar as questões contemporâneas, o jornalismo e o bom jornalismo, principalmente, têm sua razão de ser.”
Quanto aos principais desafios e oportunidades para o futuro dessa parceria entre imprensa e Ministério Público na defesa dos interesses coletivos da sociedade, Orlando Berti se posicionou: “O principal desafio e oportunidade são órgãos como o próprio Ministério Público, que é considerado o quinto poder, a imprensa é considerada o quarto poder e o Ministério Público considerado o quinto poder, oportunizar reflexões nesse sentido, vivências nesse sentido, avanços nesse sentido, com uma parceria em que há uma retroalimentação, porque são dois órgãos que complementam os três poderes inicialmente constituídos: o Executivo, o Legislativo e o próprio Judiciário. Parcerias como esse tipo avançam a democracia, avançam a cidadania e consequentemente dias melhores principalmente para as populações mais vulneráveis e mais vulnerabilizadas.”
Orlando Berti disse que concursos como o do MPPI são necessários. (Foto: Reprodução)
Após participar da comissão que avalia trabalhos jornalísticos no concurso, o professor elencou os critérios que costuma seguir em sua análise para selecionar os melhores.
“Principalmente trabalhar com a verdade. A verdade hoje ela é um desafio não tão culpa do jornalista muitas vezes, quando ele flerta com a não verdade, às vezes é por conta das próprias pressões da correria do material, das questões das inteligências artificiais. Então, quando a gente volta a pensar e a vivenciar com as questões da verdade, com as questões básicas do jornalismo, que é mediar, é trazer a midiatização desses fatos, por exemplo, aconteceu um fato e esse fato é retratado como ele é, o jornalismo permanece a ser jornalismo e fatos como esse avançam e concursos como esse avançam são extremamente necessários.”
Jornalista vence prêmio do MPPI com matéria sobre lixões
Vencedora da categoria Jornalismo Impresso no concurso de 2023 do MPPI, a jornalista Emelly Carolliny Alves Carneiro conquistou o primeiro lugar com o trabalho “Por um Piauí mais limpo: a luta pelo fim dos lixões a céu aberto”, tema que despertou o interesse de muitos gestores. A matéria destacou a realidade dos lixões no estado do Piauí, que ainda persistem em diversos municípios, bem como a atuação do Ministério Público do Piauí na cobrança por soluções sustentáveis dos gestores municipais, como a implantação de aterros sanitários e políticas de reciclagem.
Nesse trabalho, Emelly fez questão de enaltecer o papel da sociedade civil e das cooperativas de catadores, mostrando como a inclusão desses trabalhadores é essencial para a gestão de resíduos. Também reforçou a necessidade do cumprimento da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) e a busca por um Piauí mais sustentável.
Emelly Alves e o repórter Jorge Machado venceram prêmio com reportagem sobre os lixões. (Foto: Arquivo Pessoal)
Emelly Alves é formada em Jornalismo pela Universidade Estadual do Piauí (UESPI) e hoje é pós-graduanda em Marketing e Branding pela PUC-RS. Atuou como repórter durante quatro anos em uma empresa de comunicação, onde conquistou quase dez prêmios jornalísticos e um mérito de comunicação concedido pelo Governo do Estado, por meio da Defesa Civil do Piauí. “E todos esses concursos que eu participei de diferentes instituições, como o Ministério Público, me ajudaram, me engrandeceram, me trouxeram mais conhecimento de modo geral para a minha carreira”, relata.
Ela conta que foram diferentes temas abordados e impactos positivos alcançados por meio dessas reportagens: “Mas todas me ensinaram coisas muito valiosas e me mostraram o poder que o jornalismo tem dentro da nossa sociedade. E eu sou apaixonada pelo poder que a gente tem ao contar uma história e a levar essa história para frente”, diz, acrescentando que é por isso que considera esses concursos iniciativas extremamente importantes para que o jornalista continue perpetuando o poder do jornalismo e de dar voz às pessoas e aos temas que precisam ser ouvidos.
A jornalista reforça que participar do concurso de jornalismo do Ministério Público contribuiu diretamente para o desenvolvimento de sua carreira. “Foi muito importante para mim participar das premiações dos concursos do Ministério Público. Eu participei de três edições e tive o privilégio e a honra de ter essas reportagens vencedoras. Então é um processo de produção muito interessante e importante, principalmente para quem trabalha com jornalismo factual. Quando a gente se dispõe a fazer e desenvolver uma reportagem especial dentro do tema, das possibilidades de que o Ministério Público traz, a gente acaba entrando em um processo também de investigação”, pondera Emelly.
Quanto ao processo de produção da matéria, a jornalista destacou o detalhamento e a realização de várias entrevistas. “Então, para quem trabalha com jornalismo factual, acaba sendo muito importante esse processo de produção, pois nos ajuda a emergir em um tema diferente, a procurar diferentes perspectivas sobre um determinado tema. E isso acelera o nosso processo de entendimento, nosso processo de crescimento interno e externo dentro do jornalismo”, complementa.
Emelly destaca, dentre suas premiações, especificamente a de 2023, quando produziu a reportagem sobre os lixões em parceria com o repórter Jorge Machado. “A gente foi in loco, entrevistamos especialistas e pessoas que trabalhavam com o lixo, seja reciclando ou no aterro sanitário, e tudo isso traz um conhecimento que antes a gente não tinha sobre determinado tema”, diz, mencionando que produzir essas reportagens foi muito importante para seu crescimento pessoal e profissional.
Segundo a jornalista, ter a possibilidade de produzir reportagens de interesse público também impacta diretamente a atuação do repórter. “Então isso nos impulsiona também a trazer diferentes pontos de vista, a trazer perspectivas, a realmente produzir uma reportagem aprofundada, detalhada, baseada em fatos. E tudo isso nos faz crescer enquanto profissionais”, resume.
O importante papel das parcerias
Emelly tem consciência de que o prêmio fortalece o vínculo entre a imprensa e o Ministério Público. “Então, quando a gente está nesse processo de produção de uma reportagem especial, precisamos contar com esses parceiros — seja especialistas, poder público, instituições — e quando a instituição do porte do Ministério Público abre essa possibilidade de abrir as portas para que a gente possa adentrar e conversar com promotores e pessoas que entendem e vivenciam aquele tema, seja violência contra a mulher, contra idosos ou contra crianças, ou também a questão do meio ambiente e da sustentabilidade, independente do tema, o Ministério Público abre as portas para que a gente possa entender mais sobre aquele tema e entrevistar pessoas que têm vivência para falar sobre isso”, complementa a jornalista. Ela ressalta que esse processo traz grande aprendizado e fortalece a parceria entre duas instituições: o jornalismo e o poder público, representado pelo MPPI.
Emelly conta que aprendeu muito com a reportagem investigativa. (Foto: Arquivo Pessoal
Acreditando que esses concursos proporcionam valorização ao jornalismo, Emelly afirma que muitas vezes o profissional acaba saindo do fluxo de notícias diárias para adentrar em um processo de investigação sobre cidadania e justiça, que gera impacto positivo para a sociedade. Como exemplo, ela cita a reportagem sobre os lixões: “Foi essa reportagem especial que eu fiz em parceria com Jorge Machado para falar sobre as situações do lixão a céu aberto de Teresina e também trazer uma contextualização do cenário nacional, em todo o Brasil, e mostrar o quanto isso impacta a gente enquanto sociedade. Então, quando a gente adentrou nesse tema, nós aprendemos muito, conseguimos ter uma perspectiva diferente do que já tínhamos anteriormente. E isso acaba influenciando positivamente o jornalista a buscar temas diferentes para abordar, ou seja, ele busca diferentes perspectivas para entender aquele tema e trazer esse tema de uma maneira simplificada, para que a sociedade possa compreender a importância daquilo”, relata.
O resultado, conforme reforça a jornalista, é que esse espaço acaba influenciando mudanças concretas na sociedade, como o impacto da matéria sobre as prefeituras e o poder público, ao apresentar dados que evidenciam a necessidade de controle do lixo, informações e entrevistas sobre pessoas que vivem da reciclagem, além de ressaltar a importância de adequação dos municípios às práticas corretas de tratamento de resíduos sólidos. “E isso começar a acontecer de verdade por conta do impacto dessa matéria é muito positivo, o quanto que o jornalismo tem o poder de influenciar a sociedade, o quanto quando a gente dá voz a temas que precisam ser ouvidos e acaba havendo um retorno positivo disso dentro da sociedade”, comemora.
Piauí avança no fechamento de lixões após reportagens
O Piauí tem dado passos importantes no combate à destinação irregular de resíduos sólidos, impulsionado principalmente pela ampla divulgação de matérias produzidas através da parceria entre o Ministério Público e a imprensa. Já são 49 municípios que encerraram as atividades de seus lixões, o que representa um em cada cinco municípios piauienses. Esse avanço integra o projeto “Zero Lixões – Por um Piauí mais limpo!”, iniciativa que ganhou ainda mais visibilidade com a reportagem vencedora do Prêmio de Jornalismo do Ministério Público do Piauí (MPPI) em 2023, que destacou a luta pelo fim dos lixões a céu aberto.
O programa é resultado de uma parceria estratégica entre a Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh), o Tribunal de Contas do Estado (TCE-PI) e o Ministério Público do Piauí (MPPI), por meio de um acordo de cooperação técnica firmado em 2022. Além de orientar os gestores municipais, o projeto promove fiscalização e acelera o licenciamento de aterros sanitários, oferecendo alternativas sustentáveis para os municípios.
Reportagem sobre lixões tiveram grande repercussão e resultou no fechamento de locais. (Foto: Reprodução)
De acordo com o secretário de Meio Ambiente, Feliphe Araújo, a meta é ousada: fechar 100 lixões até o fim de 2025. “O Lixão Zero é um passo decisivo para um futuro mais limpo e saudável. Já conseguimos fechar lixões em 49 cidades e estamos atentos também ao funcionamento adequado dos aterros, para que a destinação correta do lixo seja completa”, afirmou.
A diretora de Licenciamento da Semarh, Catharina Teixeira, destacou que a fiscalização não se limita ao fechamento dos lixões, mas também acompanha os aterros em operação e os que estão em fase de implantação. Hoje, já funcionam unidades em Água Branca, Altos, União, Francisco Santos e Buriti dos Lopes, enquanto Ipiranga do Piauí, Floriano e Cristino Castro avançam na instalação de seus aterros. “Esse é um passo fundamental porque garante soluções ambientalmente corretas e dentro da lei”, ressaltou.
Secretário de Meio Ambiente afirma que 49 lixões já foram fechados. (Foto: Reprodução)
O projeto contempla ainda ações de educação ambiental, fortalecimento das cooperativas de catadores – com apoio do Sebrae – e a implementação da logística reversa, exigindo das empresas a comprovação da destinação adequada de embalagens de papel, plástico, vidro e metal.
Com essas iniciativas, o Piauí se consolida como referência nacional no cumprimento da Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei nº 12.305/2010), que determina o fim dos lixões, a recuperação de áreas degradadas e o fortalecimento da cadeia de reciclagem. O reconhecimento conquistado pelo MPPI, por meio de seu prêmio de jornalismo, reforça a relevância do tema e o impacto positivo das ações conjuntas na construção de um estado mais sustentável.
Fortalecimento da cadeia de reciclagem é cada vez mais comum. (Foto: Reprodução)
Reportagem despertou visibilidade de jornalista para pessoas surdas
Em 2023, a jornalista Joelma Abreu venceu o 8º Prêmio MPPI de Jornalismo, na categoria Telejornalismo, com o tema “Ministério Público e o Direito do Surdo”. Ela conta que a história dessa reportagem também tem relação com sua trajetória pessoal. “Isso porque minha mãe é surda, na minha família tem, além dela, uma tia, um tio e um primo. Então eu sempre vivi nesse contexto de pessoas com deficiência, com surdez, só que, para mim, era um ambiente comum, nunca vi além do que o meu olhar pudesse ver ali do meu dia a dia”, explica.
Quando começou a trabalhar em uma emissora de televisão local, conversou com uma produtora que fazia curso de Libras no Senac. Joelma comentou que sua mãe era surda e, no dia a dia, compartilhava experiências relacionadas às pessoas com deficiência auditiva. “Foi quando surgiu a oportunidade de se inscrever no concurso do Ministério Público. E aí ela contou uma história que é da nossa personagem, que conseguiu se formar e foi difícil, porque não tinha um intérprete de Libras. Daí ela procurou o Ministério Público e conseguiu um intérprete dentro da sala de aula para que conseguisse se formar. Ela é uma pedagoga surda e isso me despertou uma curiosidade porque minha mãe não é alfabetizada. E isso me trouxe um olhar de que é possível que as pessoas surdas tenham um lugar no mercado de trabalho”, relata Joelma.
Joelma Abreu abordou o acesso ao curso de libras para deficientes surdos. (Foto: Arquivo Pessoal)
“Eu olhei para minha própria história, a história dos meus familiares, e olhei para Lemos — que é o sobrenome da nossa personagem. E com isso me despertou o interesse de fazer essa reportagem. Eu confesso que foi um pouco difícil, pois, apesar de eu ter convivência com pessoas surdas, eu sei pouquíssima coisa de Libras. Então, a produtora foi a pessoa que me ajudou a produzir essa reportagem e, para mim, foi muito gratificante, porque a partir dela eu comecei a abrir os olhos para temas que muitas vezes ficam invisíveis e também para a importância do Ministério Público, de como ele pode garantir o acesso a pessoas surdas, a pessoas que normalmente são invisíveis para a sociedade, e entender como funciona o Ministério Público. No dia a dia, não temos tempo de refletir sobre o papel do Ministério Público, e isso me fez olhar também pela questão social, saber o quanto é importante ter o poder público do nosso lado como população e também o quanto é importante dar visibilidade a essas pautas, a essas pessoas, o quanto isso também inspira outras pessoas a buscar seus direitos e ver oportunidades de crescimento na vida, na carreira. Foi muito significativa essa reportagem para mim”, resume a jornalista.
Reconhecimento do esforço e dedicação
“A parceria com o Ministério Público do Piauí, por meio do Prêmio de Jornalismo, contribuiu de forma significativa para minha carreira. Profissionalmente, além do destaque, tive a satisfação de ver minha capacidade ser reconhecida por colegas de trabalho, que me parabenizaram pela sensibilidade do meu olhar. O principal impacto foi no modo como passei a enxergar as pessoas e as pautas, muitas vezes invisíveis. Percebi mais claramente a função do Ministério Público na vida da população e a importância desse órgão na garantia de direitos, inclusive de pessoas que nem sabem que os têm. Isso ampliou minha sensibilidade na produção de matérias de interesse público, que dão voz às realidades e mostram, por si só, a relevância do jornalismo comprometido com a cidadania”.
Joelma decidiu investir em reportagem sobre acesso ao curso de libras para pessoas surdas. (Foto: Arquivo Pessoal)
Joelma parabenizou a iniciativa do Ministério Público por estimular os jornalistas a trazerem temas relevantes para a sociedade, que fazem diferença na vida das pessoas. “A valorização do jornalismo influencia positivamente a atuação da imprensa em assuntos de cidadania e justiça. Esses prêmios garantem cidadania, garantem justiça. Temos poucas iniciativas nesse sentido de valorização do profissional de imprensa e, por isso, ações como as do Ministério Público e de outras instituições fazem a diferença. Não é apenas o prêmio em si, mas o reconhecimento. Reconhecimento dos colegas jornalistas, claro, mas também de outros profissionais que avaliam e julgam o nosso trabalho. Isso fortalece a nossa atuação, mostra que o esforço é visto e valorizado. De uma forma ou de outra, a comissão que avalia demonstra esse reconhecimento e, consequentemente, contribui de forma positiva para a valorização da imprensa”.
Sobre o papel do MPPI em promover esse tipo de premiação, Joelma Abreu foi enfática: “Na minha opinião, o Prêmio de Jornalismo do Ministério Público cumpre um papel fundamental no reforço da confiança. Primeiro, porque mostra à sociedade o que é o jornalismo sério, comprometido e investigativo e, de certo modo, valoriza também a própria instituição, o Ministério Público, na defesa dos direitos coletivos. Esse reconhecimento aproxima a imprensa da sociedade e deixa claro que o jornalista é aliado na fiscalização, na denúncia de abusos e, sobretudo, na busca e garantia de direitos e de justiça. Além disso, o prêmio evidencia que, quando trabalhamos com responsabilidade, ética e compromisso com a informação, a imprensa se consolida como um espaço de credibilidade e de fortalecimento da democracia”, finaliza.
O Prêmio MPPI evidencia a atuação integrada do Ministério Público do Piauí em todo o estado. Diversas reportagens premiadas tiveram repercussão direta na sociedade, como fiscalizações em escolas e hospitais que geraram melhorias imediatas; proteção de grupos vulneráveis e promoção de direitos fundamentais; além do apoio a mudanças legislativas em áreas como saúde, educação e segurança. O prêmio também incentiva a sociedade a valorizar e acompanhar o trabalho jornalístico e institucional.
Após 10 anos, o prêmio reafirma que a união entre imprensa e Ministério Público é essencial para fortalecer a democracia, garantir transparência e gerar resultados concretos que beneficiam toda a população.
