
Francy Teixeira - Enviado especial do MeioNews | Itaúba (MT), Paranatinga (MT), Sorriso (MT) e Sinop (MT)
O MeioNews percorreu mais de 1,6 mil km – saindo de Teresina (Piauí) até o coração do agronegócio brasileiro, no Norte do Mato Grosso – para testemunhar uma revolução fértil e silenciosa que acontece em áreas degradadas por pastagens, transformando um solo outrora cansado e desgastado em uma fonte de desenvolvimento e sustentabilidade.
Pujante, o Mato Grosso pulsa sonhos e oportunidades e, agora, abre um novo horizonte para a produção mundial, desmistificando a ideia de que o setor não se preocupa com o meio ambiente. Com inovação, iniciativas governamentais e privadas, o gigante brasileiro traça um futuro em que o incremento produtivo e a sustentabilidade são faces da mesma moeda.
Solo é preparado em área recuperada para produção de soja (Foto: Francy Teixeira/MeioNews)
#PARATODOSVEREM Em uma ampla área rural de horizonte aberto, um trator de grande porte avança sobre o solo seco e já preparado para o plantio. O céu, tomado por nuvens densas e escuras, cria um contraste dramático com o terreno marrom e uniforme. O trator, de cor verde, puxa uma semeadora extensa equipada com dois grandes tanques amarelos, que parecem armazenar insumos agrícolas. À medida que o conjunto se desloca, uma fina nuvem de poeira se levanta atrás dos equipamentos, indicando o movimento contínuo da máquina sobre a terra. A paisagem é vasta e desabitada, transmitindo a sensação de imensidão típica de áreas agrícolas mecanizadas. FIM DA DESCRIÇÃO.
Hoje, o Estado conta com 12,5 milhões de hectares de áreas de pastagem com algum grau de degradação, de acordo com informações da Secretaria de Desenvolvimento Econômico (Sedec) repassadas à nossa reportagem com exclusividade.
Nesse universo de terras, superior à área completa de dezenas de países, é que o governador Mauro Mendes e sua equipe se debruçam para proporcionar um renascimento. São áreas que voltam a “respirar” e passam a produzir uma série de culturas, como soja e até mesmo algodão – algo impensável anos atrás.
Irmãos Biancon detalham a transformação de área degradada após programa de recuperação (Foto: Francy Teixeira/MeioNews)
#PARATODOSVEREM Dois homens estão posicionados lado a lado em uma grande área agrícola, diante de um campo verde que se estende até o horizonte. O céu está nublado, com uma faixa azulada mais clara próxima à linha do horizonte. À esquerda, está um homem que o usuário identificou como Igor. Ele usa uma camisa social branca de mangas compridas, com o logotipo de uma empresa bordado no peito. Tem pele clara, cabelo curto grisalho e barba rala. Seu olhar está voltado para a frente, com expressão séria e atenta. À direita, está o homem que o usuário identificou como Ivan. Ele veste uma camisa azul-marinho, também com logotipos bordados, e um boné azul com detalhes em laranja. Tem barba curta, pele clara e observa algo fora do quadro, com semblante tranquilo. Ao fundo, o campo verdejante ocupa toda a paisagem, destacando o ambiente rural e produtivo. FIM DA DESCRIÇÃO.
A VOZ DO AGRICULTOR: "O SOLO É CONSTRUÇÃO"
Com terras a perder de vista, sob um sol inebriante, chegamos a Itaúba, município localizado a 637 km de Cuiabá, para conhecer um projeto implementado no Grupo Biancon que dá o tom da recuperação de áreas degradadas no Mato Grosso.
Aqui, é fácil entender o quanto o Estado é apaixonante e tem se tornado uma terra de prosperidade, abrigando pessoas de todo o país. Com os olhares do mundo voltados ao Brasil após a realização da COP 30, o Mato Grosso vai além do discurso e transforma passivos ambientais e econômicos em ativos de produtividade e resiliência.
Na Fazenda Itaúba, comandada pelos irmãos Ivan e Igor Biancon, a área recuperada — convertida da pecuária (pastagem) para a agricultura — colheu, em seus 2.220 hectares no ano passado, a média de 69 sacas por hectare. Até o algodão, cultura notoriamente exigente, foi introduzido com sucesso, alcançando mais de 300 arrobas por hectare. “Gostamos tanto do resultado que resolvemos plantar algodão nessas áreas”, comemora Ivan Biancon.
Em área recuperada, a Fazenda Itaúba chegou a plantar algodão (Foto: Francy Teixeira/MeioNews)
#PARATODOSVEREM A imagem é composta por três fotografias colocadas lado a lado, formando um conjunto que mostra diferentes ângulos de uma plantação em fase inicial de crescimento. Em todas as partes, o terreno aparece avermelhado e coberto por pequenas plantas de folhas verdes, distribuídas em linhas organizadas. Entre as fileiras, espalham-se manchas extensas de um material branco, semelhante a resíduos ou acúmulos de fibras, que se destacam sobre o solo escuro. Esse material aparece de maneira irregular, acompanhando o espaçamento entre as plantas e criando faixas claras que contrastam fortemente com o verde da vegetação. No fundo das três imagens, há uma paisagem rural ampla, com campos contínuos e uma linha de árvores distantes que marca o horizonte. O céu está encoberto por nuvens claras, sugerindo um dia nublado. O conjunto transmite a impressão de acompanhamento agrícola, destacando o estado da lavoura e a presença marcante do material branco sobre o solo. FIM DA DESCRIÇÃO.
O custo para converter uma área de pastagem degradada em agricultura produtiva gira em torno de R$ 10 mil a R$ 17 mil por hectare. O valor é aplicado em uma receita complexa: aplicação maciça de calcário (de 5 a 10 toneladas/hectare), gesso, fosfatagem, correção de estradas, aterraceamento e, por fim, o custeio da safra.
O Grupo Biancon é um testemunho vivo da revolução promovida no Mato Grosso. Na fazenda, a transformação é palpável. Ivan Biancon, que comanda as operações ao lado do irmão Igor, detalha o processo:
A conversão começa com a limpeza da área e a correção do solo. Entramos aplicando de cinco a seis toneladas de calcário por hectare... A diferença [no solo] é muito grande — física, biológica e química... O solo é uma construção. Não se faz em um ano só. Ele vai se corrigindo e se enriquecendo ao longo de várias safras.
INTEGRAR PARA DESENVOLVER
O exemplo registrado na Fazenda Itaúba, por meio de parceria com a iniciativa privada (Syngenta e Itaú BBA), é propagado pelo Governo do Estado, que fechou, no último mês de agosto, 568 termos de compromisso para a recuperação de 8,5 mil hectares de áreas de pastagens degradadas.
Para se ter uma ideia do tamanho da iniciativa, o Governo do Mato Grosso estabelece ao proprietário a adesão ao Projeto de Recuperação de Áreas Degradadas ou Alteradas (Prada) assim que são identificados passivos ambientais no ato da regularização ambiental. Além disso, com a implementação do Cadastro Ambiental Rural – CAR Digital 2.0, a expectativa é que o número de acordos cresça de maneira significativa.
O superintendente de Regularização e Monitoramento Ambiental da SEMA, Felipe Klein, traz ao MeioNews uma síntese dos avanços prospectados pela atuação do Governo do Mato Grosso.
Com a implementação da análise automatizada pelo CAR Digital 2.0, ampliamos o número de CAR validados, que atualmente chega a 35.000. Isso resultou no aumento da apresentação de projetos de regularização ambiental e na formalização de mais termos de compromisso. Esse avanço fortalece o compromisso com a restauração do passivo ambiental em Áreas de Preservação Permanente e Reserva Legal — especialmente os passivos decorrentes de desmates após 2008 — trazendo maior efetividade à restauração ambiental no campo.
Ele reverbera que o aumento dessa demanda deverá movimentar toda a cadeia necessária para efetivar a restauração, incluindo a produção de mudas e sementes, assistência técnica e a adoção de novos sistemas de recuperação, como os Sistemas Agroflorestais.
No que se refere à restauração propriamente dita, Klein dá o exemplo do Programa Todos pelo Araguaia, um projeto da Sema em parceria com o KfW, que visa recuperar 5,2 mil hectares. "Este projeto pode servir como piloto para outras áreas comprometidas com a restauração e contar, inclusive, com apoio da iniciativa privada, que muitas vezes busca contribuir com a agenda ambiental", comemora.
A iniciativa foi formalizada pela Secretaria de Meio Ambiente (SEMA), mas o trabalho no Estado é multissetorial e envolve todos os atores que impulsionam o agronegócio, incluindo a Secretaria de Desenvolvimento Econômico (Sedec).
Em entrevista ao MeioNews, a superintendente de Agronegócios da pasta, Camila Bez, explica que o Governo tem ampliado esforços para mapear e priorizar áreas que precisam de recuperação urgente.
De acordo com a especialista, o “Mato Grosso conta atualmente com 12,5 Mha de áreas com pastagem em algum grau de degradação”, e o trabalho de identificação ocorre por diferentes frentes, sendo uma das principais o Projeto ABC+ em Ação MT, que leva capacitação sobre as nove tecnologias previstas no Plano ABC+, entre elas a Recuperação de Pastagens Degradadas (RPD).
Além das formações, a Sedec atua por meio do Grupo Gestor do Plano ABC+, comitês, conselhos e submissão de projetos a editais nacionais e internacionais. Camila destaca ainda a importância das florestas plantadas, especialmente o eucalipto, como ferramenta de recuperação.
Fomentar o plantio de florestas de eucaliptos nas propriedades que apresentam áreas com pastagem degradada é importante para que este solo degradado não chegue ao nível de erosão.
A JORNADA DA INTEGRAÇÃO: LAVOURA, PECUÁRIA E FLORESTA
Camila Bez refere-se à Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), considerada um caminho para a sustentabilidade e que, na Fazenda Itaúba, já é uma realidade.
O agrônomo Deivid Signor, responsável pelo Grupo Biancon, explica os benefícios e destaca como os programas de incentivo a tais práticas transformam o panorama produtivo, promovendo uma verdadeira revolução.
A parte da soja que a gente observou é que, sob qualquer estresse climático, ela não responde tão bem... estamos vendo um grande incremento na produtividade da soja, devido à matéria orgânica deixada pela braquiária, pelo enraizamento e também pelos dejetos bovinos.
Ivan Biancon em uma área de ILP na Fazenda Itaúba, no Norte do Mato Grosso (Foto: Francy Teixeira/MeioNews)
#PARATODOSVEREM A imagem mostra Ivan Biancon, um homem em pé no centro de um grande campo agrícola já colhido ou em fase de preparo, com o solo coberto por palha seca. Ele está voltado para a direita da cena, com expressão atenta, como se estivesse conversando ou explicando algo. O homem veste uma camisa de manga comprida azul-marinho com logotipos bordados, uma calça jeans clara e um boné azul com detalhes em laranja. Suas mãos estão unidas à frente do corpo, em um gesto natural de fala. O campo ao redor é vasto e se estende até o horizonte, sem construções visíveis, apenas vegetação distante. O céu está nublado, com uma luz suave que ilumina toda a paisagem. FIM DA DESCRIÇÃO.
Com a terra nas mãos e emocionado com o resultado obtido, Signor detalha o salto produtivo em uma área específica:
Esta área, por exemplo, há dois ou três anos produzia 35 a 38 sacas por hectare. Com a implementação do ILP... conseguimos consolidar, no ano passado, uma produtividade de 58 sacas por hectare. E acreditamos que este ano vamos ultrapassar 65 sacas.
A estratégia é clara:
"Para pagar a conta da pecuária, eu planto soja. No ano em que faço a calagem e os investimentos, é a soja que cobre os custos... Com essa integração, conseguimos alcançar sustentabilidade também do ponto de vista econômico", explica o agrônomo.
O PRODUTOR COMO AGENTE DE TRANSFORMAÇÃO
A cultura sustentável propagada pelo Governo do Mato Grosso atrai a iniciativa privada. Com um produtor consciente do potencial de recuperação, projetos como o Reverte, da Syngenta em parceria com o Itaú BBA, se disseminam no Estado. Para se ter noção do terreno fértil para a expansão dessas iniciativas em solo mato-grossense, metade dos 279 mil hectares recuperados e dos R$ 2 bilhões investidos pelas companhias no Brasil estão concentrados no Estado do Centro-Oeste.
"Em termos de hectares e valores desembolsados, não há no mundo um programa de sustentabilidade desse tamanho. Isso é motivo de muito orgulho", destaca o administrador e gerente de sustentabilidade da Syngenta, Jonas Oliveira.
Jonas Oliveira atua há quase duas décadas no agronegócio e vê o avanço do Mato Grosso na sustentabilidade (Foto: Francy Teixeira/MeioNews)
#PARATODOSVEREM A imagem mostra Jonas Oliveira, um homem em pé em meio a uma plantação verde que se estende até o horizonte. Ele está voltado para a esquerda, com os braços cruzados e uma expressão serena, como se observasse algo ao longe. Jonas usa óculos de armação escura e veste uma camisa de manga comprida em tom claro, com o logotipo de uma empresa bordado no peito e um pequeno símbolo em verde e amarelo no braço esquerdo. Seu cabelo é curto e escuro, levemente penteado para o lado. Ao fundo, a plantação forma linhas organizadas de plantas jovens, sob um céu nublado que cobre toda a paisagem. A cena transmite a sensação de acompanhamento técnico ou visita de campo em área agrícola. FIM DA DESCRIÇÃO.
Para ampliar ainda mais a atração de investimentos e financiamentos para a recuperação de áreas degradadas, a Sedec tem buscado estimular a adoção não apenas da RPD, mas de todas as tecnologias do Plano ABC+. Isso inclui práticas de agricultura de baixo carbono, sistemas mais resilientes e manejos que garantam renda e sustentabilidade.
De acordo com a superintendente de Agronegócios e Energia, Camila Bez, “não há divisão sobre pequeno, médio e grande produtor, todos são englobados como produtores rurais”, e o objetivo é levar conhecimento de forma igualitária.
A ideia é que cada produtor — independentemente do tamanho da propriedade — se torne agente da transformação do solo e da paisagem produtiva.
GOVERNO DO MATO GROSSO VIABILIZA LINHAS DE FINANCIAMENTO
Sem a distinção entre pequenos, médios e grandes produtores, a atuação do Governo Mauro Mendes vai além da capacitação técnica e da orientação para a atração de investimentos. É fato que a recuperação de áreas degradadas exige recursos — e os valores variam conforme o nível de degradação. Nesse sentido, a superintendente da Sedec lembra que há quatro categorias: leve, moderada, forte e muito forte, cada uma com necessidades e retornos diferentes.
Para apoiar os produtores, o governo articula diferentes mecanismos, como o FCO Verde, que oferece prazos de até 22 anos e juros de 8,60% ao ano, além de bônus de adimplência.
“O Renovagro, o programa de crédito vinculado à promoção de práticas sustentáveis do Plano ABC+, é outra forma de os produtores terem acesso ao crédito para recuperar pastagens degradadas”, reforça.
A atuação do Grupo Gestor do Plano ABC+MT também ajuda a ajustar e aprimorar essas linhas para o contexto mato-grossense.
MAIS UM EXEMPLO DA VIRADA DE CHAVE
Tecnologia ajuda na recuperação de áreas degradadas no Mato Grosso (Foto: Francy Teixeira)
#PARATODOSVEREM Montagem com duas imagens que mostram uma operação agrícola de alto nível tecnológico em uma área extensa de plantio. Na imagem à esquerda, vemos o interior da cabine de um trator moderno. Dois grandes monitores digitais exibem mapas, gráficos e informações de precisão sobre o trabalho sendo realizado no campo. Os equipamentos têm aparência robusta e sofisticada, com botões, alavancas e telas sensíveis ao toque. À frente da cabine, através do para-brisa, aparece uma imensa lavoura seca e plana sob um céu parcialmente nublado, onde outro trator ao longe executa atividades agrícolas. A paisagem transmite amplitude, mecanização e controle detalhado das operações. Na imagem à direita, há uma visão externa de um trator azul conectado a uma plantadeira de grande porte. A máquina possui diversas linhas de plantio alinhadas, rodas, discos e mangueiras que transportam insumos. Atrás do trator, há tanques amarelos que parecem armazenar sementes ou fertilizantes. O solo está coberto por palha seca, indicando prática de plantio direto. O céu, novamente, aparece com nuvens claras e luz intensa, reforçando a sensação de trabalho em campo aberto e moderno. FIM DA DESCRIÇÃO.
De Itaúba percorremos 597 km até Paranatinga (MT) para conhecer mais um case de sucesso na recuperação de áreas degradadas. Com sorrisos acolhedores e organização impecável, nossa equipe foi recebida com demonstrações claras de como o Mato Grosso vem alinhando produtividade e sustentabilidade.
Em uma terra onde o passado era de degradação, o presente agora é de solo coberto, palhada alta e um horizonte de diversificação. Na Fazenda Reunidas, o Grupo JCN, um conglomerado familiar com 75 mil hectares distribuídos entre Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, tornou-se um exemplo de como a adesão a programas de sustentabilidade pode acelerar uma transformação já em curso, agregando escala, capital e conhecimento técnico. Foi em sua propriedade em Paranatinga que o JCN deu um salto em sua jornada regenerativa: em 2023, iniciou a conversão de 9 mil hectares de áreas degradadas, viabilizada por um financiamento de R$ 120 milhões.
A Estratégia da Integração: Solo Vivo e Produtividade em Alta
A aposta vai além da simples conversão de pasto em lavoura. O grupo abraçou a Integração Lavoura-Pecuária (ILP) como um pilar de seu modelo de negócio. Na Fazenda Reunidas são 19,1 mil hectares de agricultura (sendo 3,2 mil irrigados), 2,3 mil destinados à pecuária e expressivos 4,6 mil hectares dedicados ao sistema ILP.
Elson Aparecido Esteves, diretor-geral do Grupo JCN, explica a lógica por trás do sistema, que ele compara a um tratamento de saúde para o solo:
O principal desafio do agricultor é manter esse solo saudável e adicionar matéria orgânica no sistema... A braquiária, o componente de planta de cobertura, é como se fosse uma vacina do solo. Então, quanto mais planta de cobertura, quanto mais pastoreio de gado, quanto mais adubação orgânica nesse solo, mais inserção de matéria orgânica teremos, e mais esse solo estará resiliente.
Elson Esteves destaca a transformação viabilizada pela recuperação de terras degradadas (Foto: Francy Teixeira/MeioNews)
#PARATODOSVEREM A imagem mostra Elson Esteves, um homem de meia-idade em um ambiente rural, posicionado diante de uma fileira de árvores altas e finas, possivelmente eucaliptos. Ele está de pé, ligeiramente virado para a direita, com expressão séria e atenta, como se estivesse explicando algo ou conversando com alguém. O homem tem barba cheia e cabelo curto e escuro. Ele veste uma camisa polo azul-acinzentada, levemente aberta no colarinho. Suas mãos estão erguidas à frente do corpo, com os dedos entrelaçados num gesto que sugere que ele está enfatizando um ponto durante a fala. Ao fundo, além das árvores, percebe-se uma área de solo seco e o horizonte claro, com céu parcialmente azul e algumas nuvens. A cena transmite a sensação de um diálogo técnico ou explicativo em meio ao campo. FIM DA DESCRIÇÃO.
O processo de recuperação no Cerrado, segundo Esteves, é minucioso e exige investimento. Começa com uma correção intensa do solo: aplicação de 8 a 10 toneladas de calcário por hectare, gesso e fósforo. Em seguida, um ano é dedicado à formação de palhada com braquiária, que recebe o gado em manejo cuidadoso.
Fazendo uma conta simples: com cerca de 10 bois por hectare durante 90 dias, você consegue adicionar aproximadamente 80 a 100 unidades de nitrogênio, 50 de fósforo e de 80 a 105 de potássio puro. Assim, você enriquece o solo quimicamente, fisicamente e biologicamente.
Os resultados aparecem no bolso e na lavoura. Ele compara: uma soja plantada diretamente em área de pastagem degradada produz de 20 a 40 sacas por hectare. Já em uma área que passou pelo processo de recuperação com ILP, os rendimentos saltam para 70 a 80 sacas por hectare — um incremento que pode chegar a 30 sacas.
O administrador e gerente de sustentabilidade, Jonas Oliveira, atesta a eficácia:
A soja se beneficia do nitrogênio deixado pelo capim, e a pastagem, depois, cresce mais vigorosa. A última amostragem de solo mostrou que 60% da área já está classificada como saudável e outros 40% em recuperação.
MUDAS NATIVAS NA RECUPERAÇÃO DE NASCENTES
A visão de sustentabilidade amplificada pelo Governo do Mato Grosso e produtores, extrapola a fronteira. Diante da urgência em fomentar a recomposição ambiental, o Grupo mantém um viveiro próprio que produz 35 mil mudas de espécies nativas por ano, como jatobá, pequi e aroeira. O objetivo é claro: recuperar e proteger as 46 nascentes identificadas dentro da propriedade.
"Nós começamos esse trabalho há uns 12 anos, e as nascentes que estavam mais degradadas já estão bem recuperadas. As nascentes de água tiveram aumento de volume, que é justamente o objetivo — aumentar o volume de água nas nascentes", relata Elson Esteves.
Produção de mudas nativas para recuperação de nascentes (Foto: Francy Teixeira/MeioNews)
#PARATODOSVEREM A imagem mostra um viveiro de mudas repleto de plantas jovens, organizadas em fileiras densas e bem cuidadas. As folhas são predominantemente verdes e vibrantes, com diferentes formatos e tonalidades, indicando a presença de diversas espécies em crescimento. O solo é avermelhado, típico de regiões agrícolas, e as mudas estão dispostas em pequenos recipientes pretos. Acima da área de cultivo, há uma estrutura de sombreamento feita com tela preta esticada sobre estacas de madeira, filtrando a luz do sol para proteger as plantas. Ao fundo, vê-se uma paisagem rural aberta, com solo exposto, algumas construções simples e uma árvore grande oferecendo sombra. Também aparece uma estrutura coberta por lona branca, possivelmente usada para proteger equipamentos ou materiais. A cena transmite cuidado, organização e dedicação ao cultivo de mudas em ambiente rural. FIM DA DESCRIÇÃO.
Ele descreve um cuidado quase artesanal na coleta de sementes:
Temos um rapaz em Lucas que coordena o viveiro. Ele sai no meio da roça catando sementes para fazer o material original, o autêntico. Hoje ele tem cerca de 50 variedades de mudas.
Sustentabilidade com Viabilidade Econômica
Elson Esteves mostra orgulhoso o projeto sustentável adotado na Fazenda Reunidas (Foto: Francy Teixeira/MeioNews)
#PARATODOSVEREM A imagem mostra Elson Esteves, um homem de meia-idade em um viveiro de mudas, cercado por plantas jovens de folhas verdes e vibrantes. Ele está de pé ao lado das fileiras de mudas, sob uma estrutura de sombreamento feita com telas pretas esticadas sobre postes, que filtram a luz do sol e criam um ambiente protegido para as plantas. O homem usa um chapéu de aba larga, típico do trabalho no campo, e veste uma camisa polo cinza e calça jeans. Ele olha para a frente com expressão séria e atenta, como se estivesse observando ou explicando algo relacionado ao cultivo. Ao fundo, além do viveiro, vê-se uma área aberta de solo avermelhado, algumas árvores dispersas e um veículo estacionado à distância. A cena transmite a rotina do trabalho rural, o cuidado com as mudas e a dedicação ao manejo agrícola. FIM DA DESCRIÇÃO.
Para o diretor-geral, a lição é clara: a regeneração é um investimento, não um custo. Sem financiamento, um produtor tende a optar pelo caminho mais curto e arriscado, plantando soja diretamente na área degradada, com baixa correção do solo e colheita reduzida.
"Para fazer isso, é preciso investimento... Mas, se ele faz dois anos de reserva com o gado, com esterco e práticas regenerativas, a possibilidade de colher 30 ou 40 sacas a mais é muito maior", argumenta Esteves.
O caso do Grupo JCN ilustra com precisão a tese central das iniciativas de recuperação capitaneadas pela iniciativa privada e governo: a sustentabilidade, para ser adotada em larga escala, precisa fazer sentido econômico para o produtor. Não se trata de altruísmo, mas de uma estratégia inteligente de negócio que recupera o capital natural — o solo — e o transforma no principal ativo para a prosperidade de longo prazo.
Na vastidão dos 90 mil hectares do grupo, a cada muda plantada às margens de uma nascente, a cada hectare de braquiária que sustenta o gado e prepara a terra para a soja, é construída, na prática, a prova de que o agro brasileiro já encontrou o caminho para ser, de fato, uma potência alimentar e ambiental.
CAPACITAÇÃO QUE TRANSFORMA VIDAS
Além dos programas de financiamento adotados e apoiados pelo Governo do Mato Grosso, a superintendente da Sedec, Camila Bez, destaca que o eixo de capacitação tem sido decisivo para reverter a degradação. Além das ações do ABC+, o governo concluiu recentemente uma série de treinamentos no Assentamento São Pedro, em Paranaíta, em parceria com o Programa REM e a Aliança SIPA, ligada à Universidade Federal de Rondonópolis (UFR).
Foram meses de encontros mensais em que os produtores tiveram acesso a conteúdos práticos sobre manejo, escolha de capim, condução do solo e integração entre sistemas.
“Cada palestra envolvia temáticas voltadas para o cotidiano dos produtores, desde o manejo do gado até a escolha do capim”, explica.
Com uma abordagem humana, o objetivo é que a técnica se transforme em mudança real — que o produtor veja novamente a terra “respirar” e produzir.
MATO GROSSO PRESERVA MAIS DE 60% DE SUA VEGETAÇÃO NATIVA
A preocupação ambiental do governo Mauro Mendes é amplificada pelo superintendente Felipe Klein. Ao MeioNews, o gestor revela que, com o aumento dos termos de compromisso firmados, ampliam-se também as áreas que serão restauradas.
Mato Grosso possui a maior produção agrícola e pecuária do Brasil, mantendo, proporcionalmente, uma área de exploração pequena em comparação a outros estados, preservando mais de 60% de sua vegetação nativa.
Segundo Klein, a restauração desses passivos fortalece ainda mais a sustentabilidade da agropecuária mato-grossense. O CAR validado registra a manutenção das florestas, e a restauração amplia a cobertura vegetal, trazendo inúmeros benefícios, como captura de carbono, manutenção do regime de chuvas, abrigo para fauna e flora e formação de corredores de biodiversidade.
O Estado é o principal beneficiado, com uma produtividade forte e sustentável, preservando a qualidade ambiental para as futuras gerações.
UM GIGANTE QUE SE REINVENTA
O que vimos ao percorrer centenas de quilômetros diariamente foi um povo orgulhoso de sua terra próspera e rica, que se dedica ao trabalho para honrar seus ancestrais e seguir provando ao Brasil a potência que é o Mato Grosso.
MT tem um crescimento estimado três vezes maior do que a média nacional (Infográfico: MeioNews/Francy Teixeira)O gigantismo dessa terra se traduz em números. É o Estado que mais cresce no Brasil e assim deve continuar, segundo a Resenha Regional do Banco do Brasil, que revisou a previsão de evolução do Produto Interno Bruto (PIB) do Mato Grosso — a soma das riquezas produzidas — para 6,6% em 2025, índice três vezes maior que a média nacional projetada, de 2,2%.
O avanço estimado para o agronegócio é ainda maior: 15,5% — um crescimento em patamar asiático, sustentado há anos. A experiência local evidencia que há um terreno fértil para avançar, inclusive nas áreas degradadas, que podem ser recuperadas e ampliar a produtividade.
João Adrien desmistifica a visão que parte do mundo tem do agronegócio (Foto: Francy Teixeira/MeioNews)
#PARATODOSVEREM A imagem mostra João Adrien, um homem em pé em uma plantação aberta, gesticulando com as mãos enquanto fala, como se explicasse algo sobre o cultivo. Ele usa boné verde com detalhes laranja, óculos e uma camisa polo preta com detalhes também em laranja. Tem barba curta e expressão concentrada. Ao fundo, estende-se uma vasta área agrícola de solo avermelhado, coberta por plantas jovens dispostas em fileiras organizadas. O céu está nublado, criando uma luz difusa sobre o campo. Mais atrás, à esquerda, duas pessoas caminham entre as fileiras da plantação, observando o local. A paisagem é ampla, com o horizonte marcado por uma linha de árvores ao longe, reforçando o ambiente rural e produtivo. FIM DA DESCRIÇÃO.
Ao MeioNews, João Adrien, head do Itaú BBA, reforça essa visão ao destacar a “dupla aptidão” do Mato Grosso e do Brasil: “Ser uma potência agroalimentar e também uma potência na conservação dos recursos naturais.” Ele observa que a agropecuária é ao mesmo tempo emissora e vítima das mudanças climáticas, e que a transição é uma questão de sobrevivência econômica.
"O grande desafio do mundo... é a transição energética... Para nós, o custo da transição é menor... Se o Brasil seguir a cartilha, o PIB vai crescer, porque vai recuperar áreas, usar mais tecnologia, consumir mais insumos e gerar mais emprego", analisa Adrien.
Dados da Conab projetam uma produção de 119,9 milhões de toneladas de grãos na safra 2024/2025 no Mato Grosso, alta de 18,7% em relação à anterior.
Mato Grosso seria o terceiro maior produtor do mundo se fosse um país (Infográfico: MeioNews/Francy Teixeira)
Para se ter dimensão, se o Mato Grosso fosse um país, seria o terceiro maior produtor de soja do mundo, tendo ultrapassado recentemente a Argentina. Informações do IMEA (Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária) estimam, para 2024/2025: 53,3 milhões de toneladas de soja exportadas, gerando US$ 22,44 bilhões; 38 milhões de toneladas de milho; 2,86 milhões de toneladas de algodão; e 1,51 milhão de toneladas de carne bovina. São números que impressionam — e transformam vidas. Somente no primeiro semestre deste ano, mais de 360 mil empregos foram gerados, segundo o Caged.
Mato Grosso desponta na geração de empregos e atrai pessoas de todo o país (Infográfico: MeioNews/Francy Teixeira)
A pujante economia do Mato Grosso atrai brasileiros de todas as regiões, incluindo o Piauí, como Francilene Sousa, que viveu dois anos em Poconé, no interior do Estado, aproveitando as oportunidades.
"Foi uma experiência enriquecedora, meu marido já tinha ido para o Mato Grosso, conseguimos comprar nossa casa própria com o trabalho no Estado, o Mato Grosso é uma terra de oportunidades, é a terra do futuro", relata ao MeioNews.
O MATO GROSSO É REVOLUCIONÁRIO
A base dessa transformação está em um dado crucial — e o Mato Grosso traz ao centro do debate um tema frequentemente negligenciado no país. O Brasil possui cerca de 160 milhões de hectares de pastagens, dos quais aproximadamente 110 milhões apresentam algum nível de degradação. Desse total, 40 milhões de hectares têm potencial para conversão em agricultura.
"Esses 40 milhões de hectares poderiam praticamente dobrar a nossa produção de carne, grãos, fibras e energia, sem desmatar nenhum hectare de floresta. Essa é uma grande narrativa — e o Brasil precisa se posicionar e mostrar isso ao mundo", argumenta Jonas Oliveira.
Com a recuperação dessas áreas, além de motor econômico, o agro do Mato Grosso quer afastar de vez a pecha de inimigo do meio ambiente — algo que incomoda e é considerado injusto pelos produtores.
"Quando a gente começou o programa, alguns clientes perguntavam: ‘Por que vocês estão fazendo esse programa?’... Recentemente, o Alexandre Grant, vice-presidente de sustentabilidade global da Syngenta, visitou comigo um grupo muito bem-sucedido... e perguntou o que tirava o sono deles. E o que eles responderam foi que o que mais tirava o sono era a forma como os agricultores eram vistos no Brasil e fora do país."
A teia de experiências reunida nesta reportagem — e vivenciada por nossa equipe no Estado — evidencia um exemplo de equilíbrio entre o agro e o meio ambiente. Em meio ao retrato de uma terra valorosa, de um povo gentil e hospitaleiro, o hino que proclama "Eis aqui, sempre em flor, Mato Grosso; Nosso berço glorioso e gentil" poderia ganhar novos adjetivos: um berço de prosperidade, oportunidade e revolução.