O sucesso da adaptação da novela "Carrossel", folhetim infantil argentino da década de 1960 que virou febre no Brasil em 1991 numa versão mexicana dublada, está revertendo a sorte do SBT.
A rede, que perdeu a vice-liderança para a Record em 2007, andava com a imagem abalada pelo rombo do Pan-Americano, em 2010. Agora, volta a brigar pelo segundo lugar -e pelos anunciantes.
A expectativa é gerar R$ 100 milhões de receita em 12 meses de novela, com publicidade e contratos de licenciamentos, segundo José Roberto Maciel, vice-presidente do SBT.
Já são mais de cem produtos licenciados, de bonecos com a cara das personagens Maria Joaquina, Cirilo e companhia a álbum de figurinha, fantasia, jogos de tabuleiro e kit festa de aniversário.
O aplicativo para tablets, com jogos educativos, será lançado em novembro.
Para incrementar mais a audiência, que já teve picos de 18 pontos, Neymar fará uma ponta. Ele grava neste mês e vai ao ar em novembro.
A emissora também está encomendando uma adaptação em desenho animado, com 26 episódios a serem exibidos no horário da manhã. E um longa metragem.
"Estamos analisando algumas propostas de produtoras. Isso ajudaria a manter a novela viva por mais um bom tempo", diz Maciel.
MULHER DE SILVIO
Com roteiro adaptado por Íris Abravanel, mulher de Silvio Santos, a novela tem atingido uma média de 14 pontos no Ibope na Grande São Paulo (cada ponto equivale a 60 mil domicílios) e já é vice-líder no horário nobre.
No último mês ficou a menos de um ponto da Record ao longo do dia. Antes da novela, que vai ao ar das 20h30 às 21h, a média do SBT era de cinco pontos no horário.
A emissora apostava em uma média de 10 pontos, com base no sucesso da versão mexicana, que chegou a 16 pontos quando foi exibida pela primeira vez.
Ao atrair crianças para o horário, "Carrossel" não tirou audiência da Globo ou da Record, mas da TV paga.
"É raro o programa na TV aberta que atrai a família, em que pais sentam com a criança para assistir. Você tem isso na TV paga, em que a audiência é muito menor ou fragmentada", diz a vice-presidente de mídia da agência WMcCann, Yara Apparicio.
"A novela é bem produzida, tem audiência consistente e está sendo muito bem-vista pelos anunciantes."
Tratando de temas como preconceito e bullying em uma turminha de escola, "Carrossel" é um fenômeno do nível de "Show do Milhão" ou "Casa dos Artistas", programas que mais impulsionaram a audiência e as receitas do SBT e que foram exibidos há cerca de uma década.
CONTÁGIO
A audiência de "Carrossel" contagia a grade noturna da emissora. O jornalismo, que antecede a novela, andava na casa dos 4 ou 5 pontos de audiência. Após a estreia da novela, subiu para 7 ou 8 pontos. O mesmo aconteceu com o "Programa do Ratinho".
A ideia de adaptar "Carrossel", sucesso garantido e comprovado, partiu de Daniela Beyruti, diretora do SBT e filha de Silvio e Íris. A emissora pretende seguir na mesma linha família com a refilmagem da novela argentina "Chiquititas", que trata de crianças em um orfanato.
A novela já foi exibida pelo SBT em 1997, em uma versão nacional produzida na Argentina, e vai ao ar em junho do ano que vem.
NOVA NOVELA
Íris Abravanel chega afoita para a entrevista e pede desculpas pelo atraso.
"Terminei", diz ela, segurando contra o peito uma pilha de papéis com o roteiro da adaptação de "Chiquitita", a nova novela infantil que o SBT vai exibir a partir de junho do ano que vem, ao final de "Carrossel".
Responsável por convencer o marido, Silvio Santos, a reabilitar o núcleo de dramaturgia do SBT, há pouco menos de três anos, após o rompimento de um contrato de anos com a mexicana Televisa, Íris, 62, tem trabalhado como uma profissional em início de carreira.
Ela comanda uma equipe de nove redatores em um escritório que funciona na Casa dos Artistas, imóvel vizinho à residência da família Silvio Santos e que ficou famoso por servir de cenário para o reality show de maior sucesso do SBT.
Quando não está no escritório escrevendo capítulos da novela, está acompanhando a gravação dos atores-mirins da novela "Carrossel" no Complexo Anhanguera do SBT, em Osasco.
Cuida de perto do bem-estar das crianças, que recebem acompanhamento pedagógico, de fonoaudiologia e nutricional.
Ex-professora primária, Íris credita o sucesso da novela ao fato de promover um momento de convívio familiar.
"A novela respeita a idade da criança e os problemas que ela enfrenta e dá oportunidade para que a família converse sobre bullying, preconceito, religião, bom caráter."