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Saques e violência agravam situação no Chile

O Chile recebe nesta terça-feira a visita da secretária de Estado americana, Hillary Clinton

Os saques, esporádicos a princípio, se intensificaram nas últimas horas e se tornaram violentos após o terremoto que devastou o Chile no sábado, aumentando assim a angústia pela falta de alimentos e a situação de abandono em várias localidades.

O Chile recebe nesta terça-feira a visita da secretária de Estado americana, Hillary Clinton, que chegará com uma ajuda solicitada pelo governo de Santiago, em particular 20 telefones por satélite.

O Brasil também enviará ajuda. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva visitou o Chile na segunda-feira como mostra de solidariedade.

O governo chileno anunciou um balanço oficial de 723 mortos, mas admitiu que o número pode ser maior.

Em Concepción, 500 km ao sul da capital e epicentro da tragédia, a situação era crítica: ainda não foi implementado um canal de distribuição de alimentos e, apesar da forte presença militar nas ruas, os saques prosseguiam, agravados na segunda-feira por dois incêndios criminosos que afetaram um supermercado e uma loja de departamentos.

A violência também foi registrada em outras cidades, como na localidade costeira de Dichato, onde moradores denunciaram saques cometidos por pessoas vindas de outras regiões.

A violência obrigou o governo a adotar um toque de recolher em Concepción na noite de domingo, que foi repetido na noite de segunda-feira e ampliado para outras três cidades: Talca, Cauquenes e Constitución.

Em Talca, os moradores desesperados gritavam diante dos supermercados: "Queremos comida, queremos comida".

A situação levou a presidente Michelle Bachelet a ordenar para esta terça-feira o envio de mais 5.000 militares, que se unirão aos 2.000 já mobilizados, para reforçar a segurança em um estado de catástrofe decretado no domingo.

"O Exército mobilizou forças suficientes, que foram distribuídas pela região afetada", afirmou Bosco Pesse, comandante militar em Maule, uma das áreas mais afetadas ao lado de Biobío.

"Estamos em todo um processo de apoio à comunidade e de entrega de produtos básicos, mantimentos, frazadas, água, em várias áreas", explicou Pesse.

A prefeita de Concepción, Jacqueline Van Rysselberghe, tem criticado duramente a demora na ajuda do governo nacional, tanto para resgatar víctimas como para levar mantimentos.

"Vinte e quatro horas para uma pessoa que está sob os escombros é muito importante. Não acredito que seja má vontade. Eu acredito que as pessoas de Santiago não dimensionam nem remotamente o problema que temos aqui", disse a prefeita.

O tamanho da tragédia é tamanho que o presidente eleito Sebastián Piñera, que percorreu a área mais afetada, admitiu que "a situação é pior do que esperava".

Piñera, que vai tomar posse no dia 11 de março, relatou que as carências na ajuda eram tamanhas que viu enfermos ao relento e que entrou em um edifício derrubado, onde ouviu gritos de sobreviventes, mas que não receberam a ajuda das equipes de resgate.

Na costa várias localidades devastadas pela tsunami posterior ao terremoto ainda aguardam a ajuda em uma situação de desespero.

Na medida do possível, os habitantes buscam os parentes e amigos desaparecidos e começa a reorganizar suas vidas em meio a uma tristeza profunda.

"Esta parte estava cheia de casas. Havia mais de 100", conta à AFP Silvia Aparicio, mostrando um local totalmente arrasado e que se transformou em um deserto de areia diante do mar no balneário de Pelluhue.

Em Constitución, outro balneário, o que não desabou com o terremoto foi destruído em seguida pela tsunami. Para completar, o maior hospital da cidade foi gravemente abalado, mas o atendimento aos feridos continua sendo feito no local por falta de outras opções.