Você sabe quanto custa para lançar um novo artista no mercado? US$ 1 milhão. Pelo menos é o que diz a Federação Internacional da Indústria Fonográfica (IFPI, na sigla em inglês) em um relatório divulgado no início do mês.
Chamado Investing in music (Investindo em música), o documento detalha o processo de lançamento de um artista para justificar o que o presidente da Federação, John Kennedy, diz logo na introdução: ?um dos grandes mitos sobre a era digital é o de que os artistas não precisam mais de gravadoras?.
Ele chama de ?mito? o fato de que, hoje, os artistas ficam conhecidos pela internet e ganham dinheiro com shows e publicidade. Essa realidade, para Kennedy, diz respeito a um número pequeno de artistas. ?A verdade é que artistas são muito mais servidos por um acordo com gravadora?. Como exemplo, ele cita Artic Monkeys e Lilly Allen ? ambos lançados pela web, mas que migraram para grandes gravadoras.
Lilly Allen
Para a IFPI, a internet pode ajudar em um primeiro momento, mas é difícil separar o que é de ?qualidade? (ou o que poderia assinar um contrato com uma gravadora) e o que não é.
?Os fatos e casos mostrados nesse estudo refletem o papel fundamental das gravadoras no sucesso dos artistas. As empresas de música internacionais investem cerca de US$ 5 bilhões por ano em desenvolvimento e marketing?, diz o relatório. A IFPI compara o investimento da indústria da música ao de outros mercados, como o de biotecnologia.
Sabe como esse valor é investido? A IFPI detalhou: US$ 200 mil de adianto, US$ 200 mil para gravação, US$ 200 mil para a produção de três clipes, US$ 100 mil de suporte a turnê e US$ 300 mil de promoção e marketing. Se o artista for maior ou precisar de um produtor mais famoso, por exemplo, esse valor pode quadruplicar. Um produtor ?top?, diz o relatório, embolsa US$ 45 mil por faixa.
A IFPI diz que um dos principais trabalhos, no meio de tantos artistas, é selecionar quem entrará para o cast das gravadoras. ?No mundo do MySpace e do YouTube, nunca foi tão fácil para os artistas colocarem seus trabalhos online ? mas nunca houve tanta competição?, diz o relatório. Para a IFPI, as gravadoras funcionam como um ?filtro?.
myspacegenerosNúmero de artistas por gêneros no MySpace, segundo o relatório
?Os selos são inundados com músicas de artistas que querem um assinar um acordo de gravação. Os artistas agora mandam arquivos MP3 em vez de fitas demo, mas a arte de peneirar o vasto campos de talentos continua a mesma?, diz o relatório.
O documento defende a ideia de que as gravadoras ainda são necessárias para assegurar o sucesso de um artista. A cantora Carly McKillip, da dupla One More Girl, endossa o coro das gravadoras: ?Quando você vai aos lugares representado por um selo grande, as pessoas sentam, prestam atenção e levam você mais a sério?.
Sem um contrato milionário, dizem as gravadoras, é muito difícil conseguir sucesso internacional. ?Você pode tentar?, diz Matthieu Lauriot-Prevost, chefe de marketing internacional da Warner. ?Mas mesmo hoje você precisará produzir, distribuir e vender produtos físicos e digitais pelo mundo?. ?Você só terá uma chance com um time dedicado para lhe dar suporte.?
E não é só para isso que a IFPI acredita que as grandes gravadoras ainda são essenciais. O relatório reconhece que na última década a tecnologia permitiu que artistas gravem seus trabalhos em casa, mas diz os estúdios profissionais ?têm um time de profissionais que podem ajudar os músicos a refinar as músicas com perfeição?.
Toda essa retórica serve para justificar um fato: as grandes gravadoras estão perdendo dinheiro ? nas palavras do relatório, estão ?cortando investimentos? ? por causa da pirataria e da troca ilegal de arquivos.
As 32 páginas do relatório, porém, não explicam uma coisa. Realmente é necessário investir US$ 1 milhão em um artista iniciante? É preciso ser ?reconhecido?, ?lapidado? e ?lançado? por um grande selo para ter credibilidade e sucesso?