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Perseguição os perigos da doença ,20% das pessoas foram vitimas

Stalking“: conheça a patologia que leva à perseguição

"Stalking": conheça a patologia que leva à perseguição

Um homem casado se envolve com uma executiva e com ela tem um tórrido romance. O frenesi da aventura desaparece, ele a rejeita e a mulher passa a persegui-lo, assim como à sua esposa e filha. Sucesso na década de 1980, o filme "Atração Fatal" retrata o extremo de um comportamento patológico denominado "stalking".

CÉREBRO E PSIQUE

Originário do verbo inglês "to stalk", cujo significado literal é "atacar à espreita", esse fenômeno é também conhecido como síndrome do molestador. O tema tem sido muito discutido por psiquiatras, psicólogos e juristas (desde 1990, o stalking é considerado crime nos EUA; no Brasil é contravenção penal), e estima-se que 20% da população, em algum momento da vida, já tenha sido incomodada por um "stalker".

J. Reid Meloy, psicólogo especializado em medicina legal e professor de psiquiatria da Universidade da Califórnia (San Diego), autor do livro "The Psychology of Stalking, Clinical and Forensic Perspectives" ("A psicologia do stalking, perspectivas clínicas e forenses", sem tradução para o Brasil), conta que há muitos anos dirigia um hospital psiquiátrico dentro de uma prisão de segurança máxima, e naquela época tentava entender a razão por que uma pessoa insistia em perseguir outra, mesmo sabendo que esta não o desejava por perto.

Em meados da década de 1980, Meloy passou a coletar dados sobre o assunto e depois de algum tempo concluiu que o stalking poderia ser definido como "um comportamento anômalo e extravagante, causado por vários distúrbios psicológicos (narcisismo patológico, pensamentos obsessivos etc), nutridos por mecanismos inconscientes como raiva, agressividade, solidão e inaptidão social, podendo ser classificado como patologia do apego".

Causas e características

As causas desse desejo de perseguir ainda não são muito claras, mas existem estudos empíricos apontando para a incapacidade de lidar com as perdas da infância e da idade adulta. O que se sabe é que, diante de uma recusa da parte contrária, ou movido pelo desejo de proximidade, um stalker desenvolve uma habilidade incomparável para "elaborar estratégias repetidas e indesejáveis só para manter contato: suas ações são tão exageradas (telefonemas e mensagens numerosas e incansáveis, por exemplo) que fazem com que a vítima sinta medo e angústia", diz o especialista.

As formas como o perseguidor busca atenção é complexa, e para ele pouco importa se suas atitudes possam vir a ser molestadoras ou ilícitas. Partindo dessa complexidade, as manifestações podem até ser consideradas agradáveis para o senso comum (mandar flores, presentes etc). Porém, explica Meloy, "o limite entre o que é oportuno ou não, desejável ou não, é justamente a aceitação explícita por parte do destinatário".

Embora não exista um perfil psicológico pré-definido para o stalker, pesquisadores identificaram cinco padrões comportamentais diferentes (veja álbum): o ressentido ou invejoso, o carente de afeto, o cortejador incompetente, o rejeitado e o predador. Porém, os rejeitados (típico amante abandonado) são a categoria mais comum.

Depressão e estresse pós-traumático

Apesar do stalking ter sempre existido, muitos profissionais não sabem como lidar com essa patologia e para ela ainda não se encontrou uma cura. Acompanhamento médico e psicoterapia são indicados, e ações preventivas tem sido testadas entre adolescentes com reuniões de grupo e conscientização promovidas por associações europeias.

Contudo, o apoio psicológico não deve se restringir somente ao stalker. Meloy lembra que as vítimas, após uma experiência como essa, geralmente apresentam quadros de depressão ou estresse pós-traumático, o que repercute em suas vidas social e profissional. E adverte: "para os molestadores, o tratamento somente será eficaz se os profissionais forem capazes de identificar e entender as motivações e os distúrbios mentais que levam à perseguição".