O escritor Paulo Coelho afirmou, através das redes sociais, que se disponibilizará a pagar o valor dos gastos do Festival do Capão, evento realizado na Chapada Diamantina, na Bahia, que foi reprovado pela Fundação Nacional de Artes (Funarte) de ter apoio da Lei Federal de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet) com um parecer técnico citando Deus.
Um post de divulgação do evento em rede social faz apologia que a festa é antifascista.
Segundo o G1, a postagem foi feita na madrugada desta quarta-feira (14). Com uma foto ao lado da esposa, Christina Oiticica, com quem tem uma fundação, Paulo escreveu: "A Fundação Coelho & Oiticica se oferece para cobrir os gastos do Festival do Capão, solicitados via Lei Rouanet (R$ 145,000). Entrem em contato via DM [mensagem direta, em tradução livre] pedindo a alguém que sigo aqui que me transmita. Única condição: que seja antifascista e pela democracia."
No texto, a Funarte cita uma frase atribuída ao músico alemão Johann Sebastian Bach, que morreu em 1750: "O objetivo e finalidade maior de toda música não deveria ser nenhum outro além da glória de Deus e a renovação da alma".
O parecer destaca também que “por inspiração no canto gregoriano, a Música pode ser vista como uma Arte Divina, onde as vozes em união se direcionam à Deus”. Também cita que “A Arte é tão singular que pode ser associada ao Criador”.
Por que a Funarte não aceitou?
A Funarte reprovou o pedido de apoio do Festival de Jazz do Capão, via Lei Rouanet, e citou Deus em um parecer técnico de reprovação. Além disso, o documento da Funarte mencionava uma publicação em rede social em que o evento se posiciona como "um festival antifascista e pela democracia", para embasar o parecer de indeferimento do pedido.
O documento concluiu que “a candidatura deste que se postulou a Arte ao concorrer à categoria de Projeto Cultural, apresenta-se desconfigurada e sem acepção a esse atributo. Portanto, o sumário de propositura à chancela do MTur deve ser conduzido ao indeferimento, S.M.J. deste Ministério”.
Conforme parecer técnico emitido pelo órgão do governo do presidente Jair Bolsonaro, o evento não tem condições técnicas e artísticas para ser aprovado.
2020 não teve festival
Por conta da pandemia, em 2020 o festival não ocorreu, mas fez inscrição na Lei Rouanet, como preparação para o retorno, em 2021.
A Funarte afirmou que um "parecerista" independente avaliou que havia desvio de objeto no pedido do festival.
Na segunda--feira (12), o secretário especial de Cultura do governo federal, Mario Frias, se manifestou sobre o assunto nas redes sociais. A organização do festival afirma que recebeu o parecer desfavorável em junho deste ano, após planejar uma versão online para o evento, dentro do Edital de Eventos Calendarizados da Secretaria de Cultura da Bahia.
Festival do Capão
O Festival de Jazz do Capão, que existe desde 2010, já recebeu artistas brasileiros renomados como Ivan Lins, Naná Vasconcelos, Hermeto Pascoal e Toninho Horta. Nas três últimas edições (2017, 2018 e 2019), também foram atrações músicos como Egberto Gismonti, Débora Gurgel, César Camargo Mariano, a norte americana Michaela Harrison, o grupo alemão Kapelle 17, além de artistas do Vale do Capão, de Salvador e jovens do curso de música da Universidade Federal da Bahia (Ufba).