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Fofoca no trabalho é mais sofisticada e maldosa, afirma estudo

A fofoca no ambiente de trabalho também tende a ser exageradamente negativa

Será que a fofoca entre adultos no escritório pode ser mais maliciosa que a dos adolescentes no seriado americano "Gossip Girl"?

Se você não acredita nisso, então deve ter perdido a edição mais recente do "Journal of Contemporary Ethnography". Talvez você tenha visto "etnografia" e tenha deduzido se tratar de relatórios curiosos sobre a Amazônia ou os mares do sul. Porém, desta vez os etnógrafos voltaram do trabalho em campo com um vídeo de um ritual nativo realmente selvagem: professores de uma escola do ensino básico no meio-oeste americano fofocando sobre a diretora por suas costas.

Esses são registros raros de "episódios de fofocas", que têm sido tema de um longo debate teórico entre antropólogos e sociólogos. Um lado, a escola funcionalista, vê a fofoca como uma ferramenta útil para reforçar regras sociais e manter a solidariedade do grupo. A outra escola vê a fofoca mais como um esforço hostil de indivíduos que, de forma egoísta, tentam alcançar seus próprios interesses.

No entanto, ambas as escolas passaram mais tempo teorizando do que observando os fofoqueiros em seus habitats naturais. Até agora, seus fluxogramas das conversas dos fofoqueiros (onde estariam as ciências sociais sem os fluxogramas?) têm sido amplamente baseados em estudos em ambientes informais, como as conversas casuais gravadas em um conjunto habitacional da Alemanha e na cantina de uma escola americana.

Os primeiros estudos descobriram que quando alguém fazia um comentário negativo sobre uma pessoa que não estava presente, a conversa ficava cada vez mais maliciosa, até que alguém imediatamente defendesse a pessoa. Caso contrário, entre adultos e adolescentes, os insultos continuariam, pois havia muita pressão social para concordar com os outros.

Considere, por exemplo, a enxurrada de insultos gravados no estudo de fofocas do colégio, realizado por Donna Eder e Janet Lynne Enke, da Indiana University. Nessa conversa na cantina do colégio, um grupo de garotas da oitava série falavam sobre uma colega de classe acima do peso, cujos seios elas consideravam grande demais para a idade:

Penny: No coral, aquela menina estava sentada na nossa frente e a gente fazia "muuuuu".

Karen: A gente dizia "Vem cá, vaquinha; vem cá".

Bonnie: Eu sei, ela é uma vaca mesmo.

Penny: Ela parece uma vaca gordona.

Julie: Quem?

Bonnie: Aquela menina do time de basquete.

Penny: Aquela vaca ruiva.

Julie: Ah, sei. Ela é uma vaca mesmo.

O novo estudo descobriu que a fofoca no ambiente de trabalho também tende a ser exageradamente negativa, mas os insultos eram mais sutis e as conversas, menos previsíveis, afirma Tim Hallett, sociólogo da Indiana University. Hallett conduziu o estudo junto com Eder e Brent Harger, da Albright College.

"A fofoca no trabalho pode ser uma forma de guerra reputacional", diz Hallett. "É como a fofoca informal, mas é mais sofisticada e elaborada. Há mais sutilezas, pois há indiretas e evasões. As pessoas são mais cautelosas porque sabem que podem perder não apenas uma amizade, mas também o emprego".

Durante seus dois anos estudando a dinâmica de grupo em uma escola básica do meio-oeste americano, que lhe concedeu acesso sob a condição de anonimato, Hallett descobriu que os professores se tornaram tão confortáveis com ele e sua câmera que insultavam livremente seus chefes durante entrevistas individuais. Porém, nas reuniões formais de professoras, onde eles sabiam que outro professor poderia relatar seus insultos à diretora, eles eram mais discretos.

Em vez de fazer críticas diretas, eles às vezes faziam comentários indiretos sarcásticos para sentir o terreno. Eles usavam outra tática indireta categorizada como elogio ao antecessor, como quando um professor lembrou carinhosamente da gestão anterior: "Era tudo tão calmo, podíamos ensinar. Ninguém ficava o tempo todo nos observando". Os outros professores rapidamente concordaram. Ninguém chamou a diretora atual, de forma explícita, de intrometida e autoritária, mas essa era a implicação óbvia.

Alguns professores eram especialmente hábeis em gerenciar a fofoca. Em uma das reuniões, depois que alguém reclamou de um aluno com o cabelo em forma de chifres ("Me diga, isso faz parte do código de vestuário do uniforme?"), o grupo começou a culpar o lapso de disciplina do assistente da diretora. A fofoca parecia seguir o mesmo caminho malicioso da conversa das adolescentes sobre a menina que mais parecia uma vaca, até que outro professor, um aliado do assistente da diretora, interveio de forma sutil.

Primeiro, o professor interrompeu o ataque ao perguntar o nome do aluno com o cabelo de chifre. Isso desviou a fofoca do grupo para as dificuldades acadêmicas e o comportamento estranho do aluno ("Ele assusta as crianças pequenas"). Então, o professor terminou o resgate do assistente da diretora com maestria, mudando completamente de assunto, lembrando a todos de um problema disciplinar diferente que era culpa de um administrador menos popular --a diretora, que prontamente se tornou o novo foco da raiva do grupo.

A fofoca dos professores nunca se tornou tão ostensivamente maldosa quanto à das adolescentes --ninguém foi chamado de vaca--, mas, de alguma forma, os efeitos foram sentidos mais amplamente.

À medida que os professores zombavam da diretora e reclamavam de sua atitude "repressora" e "exagerada", o ambiente ficou mais venenoso. A diretora sentiu que sua autoridade estava sendo minada pela fofoca e reagiu contra os professores que ela suspeitava (acertadamente) serem os autores das fofocas. Os professores a administradores saíram da escola, e as notas dos alunos baixaram.

"A fofoca realmente serviu para reforçar a solidariedade do grupo de professores, mas, neste caso, ela também foi uma forma de guerra que prejudicou a todos", disse Hallet. "É um resquício do velho ditado que diz que a fofoca é uma língua de três pontas: ela pode prejudicar o autor da fofoca e o ouvinte, assim como o alvo".

Alguns chefes tentaram transformar o escritório em "zonas sem fofocas", mas Hallett afirma que é mais realista tentar gerenciá-la.

Digamos, se um rival do trabalho parece estar a ponto de falar mal de um de seus aliados ausentes, Hallett sugere que você faça uma "avaliação positiva preventiva". Um rápido comentário do tipo "Ela não está fazendo um ótimo trabalho?" já pode ser suficiente para impedir o ataque.

Se seu rival tenta persistir com sarcasmo indireto --"É, ótimo trabalho mesmo"--, você pode forçar o assunto ao perguntar calmamente o que isso significa. Essa simples pergunta, uma ousadia com voz agradável, muitas vezes silenciou as fofocas sarcásticas observadas por Hallett.

Se isso não funcionar, Hallett sugere tentar uma tática ainda mais simples que foi usada com sucesso durante as reuniões dos professores --e pode ser usada em qualquer ambiente de trabalho, a qualquer momento. Na verdade, é uma das táticas que distingue a fofoca de trabalho da fofoca "comum". Quando os comentários começarem a ficar maldosos, quando a coisa vai ficando feia, você sempre tem uma saída: "A gente não tem trabalho para fazer não?"