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Morre o filósofo Bruno Latour, figura do pensamento ecologista

O intelectual defendia que a questão do clima e sua negação tivessem papel central na política.

O filósofo e sociólogo francês Bruno Latour, figura emblemática no mundo das ideias e do pensamento ambiental, morreu na madrugada deste domingo (9) em Paris, aos 75 anos, segundo sua editora.

"Éditions La Découverte recebeu com pesar a notícia do falecimento de Bruno Latour esta noite em Paris. Todos os nossos pensamentos estão com sua família", escreveu a editora em comunicado enviado à AFP.

Morre o filósofo Bruno Latour, figura do pensamento ecologista

As obras deste intelectual, lidas e elogiadas no exterior, foram traduzidas para o português. Em 2018, o "New York Times" o chamou de o "mais famoso e incompreendido dos filósofos franceses".

Após a morte, o presidente francês, Emmanuel Macron, elogiou no Twitter "um espírito humanista e plural, reconhecido em todo o mundo antes de ser reconhecido na França".

Quem foi Bruno Latour

Latour nasceu em 22 de junho de 1947 em uma família de comerciantes de vinho em Beaune, no centro-leste da França. Formou-se em filosofia e antropologia. Ele lecionou em escolas de engenharia na França, mas também no exterior, principalmente na Alemanha e nos Estados Unidos, onde foi professor visitante em Harvard.

Foi um dos primeiros intelectuais a perceber a importância do pensamento ecológico. O intelectual interessava-se por questões de gestão e organização de pesquisa e, em geral, pela forma como a sociedade produz valores e verdades.

Ele foi reconhecido, sobretudo, no mundo anglo-saxão e vários de seus trabalhos foram publicados pela primeira vez em inglês. O conjunto de sua obra recebeu o Prêmio Holberg em 2013 e o Prêmio Kyoto em 2021.

Foi considerado "criativo, bem-humorado e imprevisível", segundo o júri do Prêmio Holberg de Ciências Sociais.

Entre suas obras traduzidas para o português estão: "Onde estou: Lições do confinamento para uso dos terrestres" (2021); "Jubilo ou os tormentos do discurso religioso" (2020); "Políticas da natureza: como associar as ciências à democracia" (2018).

Em 2021, ele disse à AFP que as mudanças climáticas e a crise da pandemia revelaram uma luta entre "classes geossociais". "O capitalismo cavou sua própria sepultura. Agora trata-se de repará-la", disse ele.

Ele resumiu seu trabalho para o público em geral em algumas de suas obras e ampliou seu público com ensaios sobre política.

Num ensaio, defendeu a hipótese segundo a qual "há cinquenta anos não entendemos nada sobre posições políticas, se não dermos um lugar central à questão do clima e sua negação".

"É como se grande parte das classes dominantes tivesse chegado à conclusão de que não haveria mais espaço na Terra para eles e para o resto de seus habitantes. Isso explicaria a explosão das desigualdades, o grau de desregulamentação, críticas à globalização e, sobretudo, o desejo desesperado de voltar às velhas proteções do Estado nacional", segundo ele.

Ele foi um dos idealizadores da teoria, nova na sociologia, do "ator-rede" que leva em conta, para além dos humanos, objetos (ou "não-humanos") e discursos, sendo estes também considerados "atores".