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Família haitiana revive terror durante tremores no Chile

Depois de escapar do tremor de magnitude 7 no Haiti, Desarmes conseguiu se refugiar no Chile

Um grupo de nove haitianos que havia sobrevivido ao terremoto do Haiti, em janeiro, e foi buscar refúgio no Chile foi surpreendido por mais um pesadelo quando o país foi sacudido por um terremoto de magnitude 8,8 na semana passada.

"No Haiti me resgataram de debaixo de uma casa e eu me sinto com sorte de ter saído de lá com vida. Entrar no Chile e me encontrar com a mesma situação, não podem imaginar como me senti, em que estado de impotência. Foi o pior que poderia ter me acontecido", relatou Joseph Desarmes à BBC.

Depois de escapar do tremor de magnitude 7 no Haiti, Desarmes conseguiu se refugiar no Chile com sua mulher Jeanelia Pierre, seus filhos Quinchy e Stanley, sua neta Standerly Nelia e quatro amigos por interferência de seu filho Pierre Desarmes, um cantor haitiano radicado no país sul-americano graças ao sucesso de sua banda, Reggaeton Boys.

Sem falar espanhol (somente Pierre fala o idioma local) e, por consequência, sem poder arrumar um emprego, o grupo de haitianos conseguiu ao menos se estabelecer em Santiago, na capital de um país organizado que lhes oferecia uma perspectiva de vida tranquila.

Porém, tudo mudou às 3h34 (horário local) do sábado, 27 de fevereiro, quando grande parte do território foi assolada por um forte terremoto que os colocou novamente no inferno e que os aproximou da morte outra vez.

"Pensei que morreríamos, porque deixamos um lugar como o Haiti com tanto desastre para trás e viemos para cá pensando que estávamos a salvo, mas nos encontramos com algo pior. Pensei que este era o ano de minha morte", relatou à BBC Mundo Stanley Desarmes, com a tradução de seu irmão Pierre.

O jovem haitiano também disse que "quando a terra começou a balançar, a primeira pessoa que agarrei nos braços foi Nelia. Toda a família se jogou ao chão. Estávamos juntos rezando e dissemos: "aconteça o que acontecer, pelo menos vamos morrer juntos".

"Até quando, meu Deus?

Os rostos da família Desarmes denotam uma constante preocupação, ao ponto de passarem os dois primeiros dias após o terremoto no jardim da casa. Somente na segunda-feira almoçaram dentro da residência.

O cantor Pierre Desarmes comentou que no momento do sismo, sua mãe se lançou ao chão apontando aos céus e pronunciando algumas palavras como que perguntando "até quando, meu Deus?", sem entender por que o pesadelo se repetia.

"A primeira coisa que pensamos em fazer foi nos jogarmos ao chão juntos. Todos fechamos os olhos e se teríamos de morrer, nós iríamos morrer juntos", disse Jeanelia Pierre para explicar a reação que a família teve.

Pierre admitiu que seus familiares não estão bem psicologicamente por causa do que tiveram de enfrentar duas vezes e sustentou que vai ser necessário um árduo trabalho para que recuperem a confiança e comecem a deixar para trás suas experiências traumáticas.

"Nem ao menos haviam se esquecido do tremor do Haiti e vêm se encontrar com um "terremotaço". Porque não foi um simples terremoto. Foi realmente algo difícil de acreditar. Para eles é inconcebível", disse o líder dos Reggaeton Boys.

"Estou sendo pai, irmão, primo, assistente, psicólogo. Eles acreditam que qualquer situação assim é de morte, e eu tenho que ser forte para ir demonstrando a eles que as coisas aqui não são tão graves", complementou o cantor.

O terremoto de magnitude 8,8 é considerado o quinto mais potente da história moderna e até o momento já deixou mais de 700 mortos, enquanto que o do Haiti alcançou magnitude 7 e deixou mais de 220 mil vítimas fatais.