O ex-bispo da Igreja Católica da Noruega Georg Müller admitiu ter abusado sexualmente de um menino há 20 anos, informou a igreja em comunicado. A revelação estende à Noruega o escândalo de pedofilia que já afeta vários países europeus, além dos Estados Unidos e, em menor escala, o Brasil.
"A Igreja Católica na Noruega está comovida depois que se revelou que o ex-bispo Müller, de Trondheim, reconheceu ser culpado de abusos sexuais contra um menino e admitiu que o fato era a razão pela qual deixou as funções ano passado", afirma o texto.
Gorm Kallestad-15jan.05/Efe
Müller, 58 anos, nascido na Alemanha, deixou o cargo de bispo de Trondheim em junho de 2009, oficialmente por incompatibilidades de trabalho. a Igreja afirma agora que não revelou a causa real de seu afastamento a pedido da vítima, cuja identidade não foi revelada.
Segundo o jornal norueguês "Adresseavisen", que revelou o caso, o abuso aconteceu há 20 anos, quando Müller era padre em Trondheim.
A vítima, um coroinha que agora tem por volta de 30 anos, obteve acordo com a igreja --que se comprometeu a pagar um salário anual de entre 400 mil e 500 mil coroas norueguesas como indenização, ainda segundo o jornal.
Depois de guardar segredo durante duas décadas, a vítima contou a um sacerdote que Müller havia abusado dele quando este era sacerdote em Trondheim e ele coroinha. A Igreja iniciou uma investigação e confirmou as denúncias do jovem.
O episódio é o primeiro confirmado na Igreja Católica deste país de maioria protestante.
"A Igreja Católica norueguesa está comovida em seus alicerces. Em primeiro lugar quero expressar minha compaixão com a vítima e a vergonha por parte da Igreja, destacando que Müller atuou contra todas as orientações e promessas que jurou", assinalou em comunicado Bernt Eidsvig, arcebispo de Trondheim e Oslo.
Eidsvig disse que falava em nome do cardeal William Joseph Levada, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé.
Escândalo
O escândalo sobre os acobertamentos de abusos sexuais de crianças por parte de padres foi revelado na Igreja Católica da Irlanda e atingiu o Vaticano com intensidade ainda maior que o escândalo semelhante que atingiu os Estados Unidos oito anos atrás.
Desta vez, o escândalo vem chegando perigosamente perto do próprio papa, na medida em que os grupos de vítimas disseram que querem saber como ele tratou desses casos antes de sua eleição a papa, em 2005.
Muitas alegações de acobertamentos de abusos sexuais envolvem Munique, na época em que o papa foi arcebispo da cidade, entre 1977 e 1981. Grupos de vítimas pedem ainda informações sobre as decisões tomadas pelo papa na época em que dirigiu o departamento doutrinal do Vaticano, entre 1981 e 2005.
Os casos de pedofilia atingiram ainda a Holanda, onde a Igreja Católica recebeu 1.100 denúncias de pessoas que afirmam ter sofrido abusos sexuais por parte de membros do clero entre os anos 50, 60 e 70.
Na Alemanha, as denúncias de pedofilia chegam a 120 e teriam ocorrido entre as décadas de 1970 e 1980 em escolas jesuítas locais. O caso envolveu até mesmo o sacerdote Georg Ratzinger, irmão do papa, que liderava os rapazes do coro da catedral de Regensburg. O sacerdote negou saber dos casos de abusos e foi inocentado pelo Vaticano.
Na semana passada, na Áustria, a imprensa local noticiou casos de abusos cometidos em dois institutos religiosos nas décadas de 1970 e 1980.
Na Espanha, o Vaticano disse saber de 14 casos de abuso sexual de crianças, que teriam ocorrido de janeiro de 2001 até março de 2010, na Igreja Católica da Espanha.
De acordo com a imprensa espanhola, entre as suspeitas há pelo menos dez sentenças já emitidas por tribunais civis e quatro processos abertos por abusos similares cometidos por religiosos antes de 2001. No total, são 25 sacerdotes e religiosos espanhóis implicados em pedofilia nos últimos 20 anos.
Na França, a diocese de Rouen informou que um de seus padres está sendo investigado por "antigos delitos contra uma criança". A investigação do padre Jacques Gaimard, diretor da emissora Radio Chrétienne, no Departamento de Haute-Normandie, foi aberta após denúncia apresentada pela vítima.
Outro sacerdote da diocese francesa terá de declarar perante um tribunal por "posse de imagens pornográficas de crianças". Os dois padres foram suspensos do serviço até que a Justiça dê a sentença.
Nos EUA, as maiores autoridades do Vaticano, incluído o então cardeal Joseph Ratzinger, teriam encoberto o reverendo americano Lawrence Murphy acusado de abusar sexualmente de 200 crianças surdas.
O Vaticano reconheceu ainda os abusos cometidos por dois monsenhores e um padre do município de Arapiraca, a 130 quilômetros de Maceió (AL), depois de terem sido acusados de pedofilia por alunos de um coro e por seus familiares.