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Entrevista com o poeta Celso Borges: "A poesia é maior que a morte"

Em entrevista, o poeta e compositor Celso Borges fala de sua produção e como lidou com este período de restrições

Wellington Soares

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A poesia deu ao maranhense Celso Borges a possibilidade de reinventar a vida. Nesta pandemia, ele disse em entrevista ao Grupo Meio Norte que não ficou parado durante a pandemia. "Trabalhei muito, fiz muitos poemas e finalizei dois livros", afirma o poeta e compositor, que já fez músicas para o conterrâneo Zeca Baleiro.

Celso Borges nasceu em São Luís, morou em São Paulo e voltou para sua terra em 2009. Ele começou a escrever aos 17 anos e com 21 anos lançou Contato (1981) e em sua carreira já são mais de 10 livros publicados.

FOTO: Divulgação

Celso Borges é apaixonado pelos versos de Maiakovski, Murilo Mendes e Jorge Luís Borges, a prosa de Guimarães Rosa, Osman Lins e Antonio Lobo Antunes, além dos ensaios de Augusto de Campos, Antonio Cândido e Octávio Paz. A literatura é o seu oxigênio e danação. O eterno possível. Celso Borges sabe que se não escrever, morre.

Seu novo livro, “Pequenos poemas viúvos”, tem dado o que falar, sobretudo, pelo título recebido. Pequenos poemas tudo bem, uma vez que os textos são curtos, mas a que viuvez se reporta na obra?

Celso Borges: O prefácio assinado pelo poeta Samarone Marinho foi muito feliz na percepção dos poemas viúvos quando diz que eles invertem o sentido da perda, transformando ausência em presença, criações que vão além do inevitável universo da finitude.

Escolhi, principalmente, personagens da arte vivendo situações de limite, às vezes próximo da morte, e tentei de alguma forma encontrá-los naqueles momentos, inventá-los, poetizar fatos e experiências extremas. A palavra viuvez tem um peso muito grande, eu quis de alguma forma trazê-la para minha voz poética, tentando sentir o outro, imaginar o outro, inventar o outro. Há um sentido de perda, sim, nesses poemas, mas há sobretudo intenção de embrulhar carinhosamente, às vezes ironicamente, essa perda com poesia.

O que leva você a afirmar, no último texto do livro, que a poesia é maior que a morte?

CB: A gente morre e a poesia fica. Depois de tudo, sobreviveremos naquilo que inventamos e vivenciamos com a arte, com a poesia. Quero com esse verso ratificar a minha crença e percepção do real significado da poesia pra mim. Ana Cristina, Maiakovski, Pizarnik, Sousandrade, Yuka, Cortazar estão mais vivos do que nunca, maiores que a matéria que já não existe. A poesia é maior que a morte é também o título de um livro inédito que escrevi sobre a segunda morte de meu irmão Antonio José, que morreu aos 18 anos, quando eu tinha 13, em 1972. Mais de 40 anos depois, ele voltou a morrer quando a maioria de suas fotografias foi destruída pelos cupins. Criei poemas sobre a destruição, transformei em poesia. Foi uma vivência muito dolorosa, mas sobrevivemos.

Esse tempo de pandemia e isolamento social aumentou ou diminuiu sua criatividade poética e literária? Ou é indiferente?

CB: A pandemia não me imobilizou, trabalhei muito, escrevi muitos poemas, finalizei dois livros em prosa (um ensaio biográfico e uma ficção), continuei fazendo meus livrinhos da série Poéticas afetivas, além de parcerias musicais com Nosly, Ivandro Coelho, Alê Muniz, Marcos Magah, Fernando Abreu, Sérgio Habibe e algumas canções solo.

Terminei também um filme documentário, em parceria com o cineasta Beto Matuck, sobre o poeta maranhense Bandeira Tribuzi. Tudo isso, no entanto, não impediu que eu vivesse alguns momentos difíceis, crises de ansiedade e um doloroso sentimento de impotência diante da situação política. Sinto falta das ruas e dos amigos, mas a chama da criação continua acesa.


Você ainda acredita que a posição da poesia, como expressou em performance pelo Brasil, é realmente a oposição?

CB: Sim, cada vez mais. O sentido da oposição poética é muito mais amplo. Para mim, a posição da poesia é de enfrentamento político, de luta como cidadão e criador, não apenas partidária. A estrutura não gosta da gente, às vezes finge que gosta ou nos tolera. Na verdade, prefere “poetinhas civilizados”, domados, acadêmicos, e eu procuro na contramão disso.

FOTO: Divulgação

Letra de música deve ser, como as que você faz pro Zeca Baleiro, tomada como poesia ou são coisas distintas?

CB: Não me preocupo muito com isso na hora de elaborar um poema ou uma letra de canção, mas acho que são estruturas distintas, embora possam dialogar esteticamente, se alimentar, criar atritos interessantes. Eu gosto desse desafio das possibilidades de troca entre uma e outra. Às vezes um poema de livro vira canção, outras vezes uma letra tem vida além da melodia que lhe foi sugerida. Há, também, letras de canções que precisam da melodia para se tornar grandes e canções que enfraquecem o poema. Enfim, é um universo muito rico e cheio de nuances. Sinto uma alegria enorme de compor com meus parceiros e privilegiado em poder dividir isso com algumas pessoas. A única palavra que não entra nessa troca é “sucesso”, um veneno que destrói a alma de muitos criadores. É claro que determinadas canções podem virar sucesso, mas nunca devemos colocar isso em primeiro plano.

Além de você, que outros poetas maranhenses, entre nomes já consagrados e contemporâneos, precisam ser lidos e amados?

CB: Vou fugir dos consagrados (rsrs).Temos uma safra boa de poetas contemporâneos e não é tão simples nominá-los, porque toda escolha é excludente, a gente sempre deixa de lado artistas importantes. Mas vamos lá: Fernando Abreu, Luís Inácio, Josoaldo Lima Rego, Reuben Rocha, Lúcia Santos, Dyl Pires, Adriana Gama de Araújo, Jorgeana Braga, Antonio Ailton, Kissyan Castro, Carvalho Júnior etc.

O que é, para que serve e o que lhe deu a poesia até hoje?

CB: A poesia me deu a possibilidade de reinventar a vida e dividir isso com os outros. É por meio dela e por causa dela e da arte que procuro dar um sentido à minha existência e aos diversos mundos que vivencio com as pessoas. Tudo passa pelas possibilidades da palavra e das imagens. Vivo disso e pra isso. Viva!