Ofertas e novidades de todo tipo e com preço baixo atraem milhares de brasileiros a Cidade do Leste no Paraguai, um dos um dos centros comerciais mais movimentados do mundo. Mas muito turista, quando pisa na fronteira, tem medo de ser enganado. E não é à toa. Um homem, dono de uma caixa, por exemplo, achou que estava levando um notebook para casa. Mas na verdade o que tinha dentro da caixa eram quatro garrafas cheias d´água. Para tentar mudar essa imagem, Cidade do Leste foi o primeiro local do Paraguai que ganhou uma polícia especializada no atendimento ao turista. A delegacia fica na alfândega de fronteira com o Brasil e tem policiais treinados para atender casos de furtos, roubos, mas principalmente, as denúncias de golpes aplicados no comércio.
?Às vezes, a gente compra as coisas e quando chega em casa não está funcionando?, avisa uma jovem. "Dependendo da loja não dá para comprar?, alerta um rapaz. ?Mercadorias que não tem nada dentro, pen drive que não funciona, câmera que só tem a carcaça. Dá muito medo?, exemplifica outro.
Em dia de lojas lotadas, a delegacia da polícia turística fica cheia também. Uma turista paranaense teve a carteira roubada. ?Eu não percebi. Quando eu vi, não tinha mais a carteira na mão?, conta ela.
O comerciante brasileiro Luciano Martins Vilar comprou um videogame no Paraguai. Quando chegou em casa, percebeu que o controle estava quebrado. Voltou à loja no dia seguinte. ?O dono da loja falou para mim que não dá garantia e que era para eu ir embora e me virar?, lembra Luciano Vilar.
Luciano Vilar procurou, então, a polícia turística, com pouca esperança. Duas semanas depois da compra, ele voltou à loja. Fiscais do Ministério Público e policiais paraguaios estavam junto. O dono da loja alegou que o equipamento não tinha sido comprado ali. Mas acabou reconhecendo a nota que o cliente tinha e admitiu que não era exatamente uma nota fiscal.
Os dois fizeram um acordo para que Luciano retirasse o equipamento consertado outro dia. A equipe do Fantástico acompanhou o retorno do cliente à loja. Um dos comerciantes se irritou com a presença da equipe e quebrou parte do equipamento da reportagem. Um policial tentou acalmá-lo. Amigos do comerciante cercaram Luciano e baixaram as portas da loja.
Acompanhado pelos policiais, Luciano recebeu o controle consertado, mas não teve como testar o produto. ?Isso aqui não é pelo valor. É pela forma. Quando procurei meu direito, ele não respeitou?, afirma Luciano.
Veja só o caso de Isaías. Ele é de Palmas, Tocantins, quase 2,5 mil quilômetros de Cidade do Leste. Foi ao Paraguai, pela primeira vez, para comprar um notebook. Um jovem paraguaio ofereceu o produto no meio da rua por um preço que é a metade do cobrado nas lojas: R$ 600.
?Quando abri a caixa, tinha um tijolo dentro?, revela. O rapaz sumiu, no meio da multidão, com os R$ 600. Na delegacia, Isaías tentou identificar o suspeito por fotos, mas não conseguiu.
A equipe do Fantástico saiu com Isaías e os policiais para fazer a caça ao ambulante. Mas era gente demais. Ele caminhou por quase meia hora e acharam o vendedor, que foi algemado ali mesmo. Os dois seguiram, com os policiais, para o Ministério Público.
A promotora ouviu o relato do caso e propôs um acordo. Isaías recebeu os R$ 600 de volta, na hora. ?Eu não esperava receber, de maneira alguma. Não esperava mesmo?, garante Isaías.
Para quem vai ao Paraguai em busca de bons preços, a orientação é exigir sempre a nota fiscal. E se a loja não tiver nota, melhor procurar outra. Há muitas lojas autorizadas em Cidade do Leste e que vendem produtos originais. Afinal, pagar R$ 600 por quatro garrafas d?água não é bom negócio em lugar nenhum.