Ao reaproveitar diferentes materiais para usar como suporte para o seu trabalho, o escritor colocava em prática uma filosofia que defendia em sua obra, de que tudo “serve para poesia”: “caco de vidro”, “garampos”, “retratos de formatura”, “detritos semoventes”, “latas” e “todas as coisas cujos valores podem ser disputados no cuspe a distância”, como enumerou em seu poema Matéria de Poesia (1974).
O apreço pelas coisas pequenas e simples é uma das principais marcas do poeta, que lançou o primeiro livro em 1937 e o último em 2013, um ano antes de morrer, quase chegando aos 98 anos. “Eu trato muito dessas coisas miudinhas”, enfatiza em um dos depoimentos inéditos colhidos em vídeo por Joel Pizzini e que poderão ser vistos na exposição. “Nós desprezamos o ínfimo. O homem despreza o que é pequeno, é desimportante, não vale nada, é lixo. Mas para a poesia, vale”, filosofava.
Cartas e arquivos
Para montagem da mostra, a filha do poeta, a artista visual Martha Barros, passou um ano e meio vasculhando os arquivos do pai. “Tenho em casa uma biblioteca com as cartas, fotos e todo o material literário de meu pai, mas foi necessário fazer uma longa busca e organização para a exposição”, diz.
Também poderão ser vistas as cartas trocadas entre o autor e personalidades como o desenhista Millôr Fernandes, os escritores Mário de Andrade e Carlos Drummond e o chargista Henfil. Soma-se a esse material as primeiras edições dos livros do poeta e cinco quadros de Martha que se tornaram ilustrações para as capas das obras do pai.