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Biblioteca Nacional promove literatura brasileira no exterior

Apoio à tradução e à publicação de autores nacionais por editoras estrangeiras é uma das mais antigas e bem-sucedidas ações de internacionalização da cultura brasileira

Expandir horizontes e levar a literatura e a cultura brasileira para além das nossas fronteiras. Esse é o objetivo do Programa de Apoio à Tradução e à Publicação de Autores Brasileiros no Exterior, da Fundação Biblioteca Nacional (FBN), instituição vinculada ao Ministério da Cidadania. Lançado em 1991 e reformulado em 2011, o programa apoia editoras estrangeiras que queiram publicar obras de autores brasileiros que já tenham sido lançadas no Brasil. Desde sua criação, o programa já concedeu 1098 bolsas para editoras de mais de 55 países, que traduziram e publicaram 981 obras de mais de 300 autores.

O envio de propostas pode ser feito ao longo dos dois anos em que o edital fica aberto, sendo que as avaliações ocorrem, aproximadamente, a cada seis meses. A próxima análise está prevista para setembro deste ano e incluirá projetos enviados até 14 de agosto.

Para Fabrício Marques, poeta mineiro que participou do edital no ano passado e teve a antologia poética “Fuera del Alcance de la Memória” publicada pela editora peruana Vallejo & Co, o programa é um canal importante para divulgar a literatura brasileira. “É uma experiência muito enriquecedora ter sua obra publicada em outras línguas, ter leitores em outros países. A iniciativa da Biblioteca Nacional é muito boa, pois o edital permite que as editoras estrangeiras publiquem obras de autores brasileiros. Algumas vezes, elas até têm o interesse, mas, por limitação financeira, acabam não levando a iniciativa adiante. Com o edital, fica mais fácil para elas publicarem”, destaca o autor.

Distribuição e divulgação

Qualquer editora estrangeira pode participar do programa. Para se inscrever, elas precisam encaminhar um projeto de publicação do livro nos moldes do edital. Além de já ter uma opção de tradutor, a proposta também deve conter um plano de distribuição e venda, com a tiragem prevista e as formas de divulgação da obra, indicando os principais pontos de venda, sejam físicos ou virtuais.

No caso de Fabrício, por exemplo, o livro em espanhol teve duas versões: uma impressa, que está sendo distribuída em Lima, capital do Peru, e outra digital, que pode ser acessada neste link. “O livro está circulando em todos os países digitalmente e qualquer leitor da América Latina, do Brasil, pode ler gratuitamente”, comenta o autor.

Após a inscrição, as propostas passam pela análise da Comissão Avaliadora do programa, composta por representantes da Fundação Biblioteca Nacional, do Ministério da Cidadania, do Ministério das Relações Exteriores e um consultor externo especializado em literatura.

Em sua maioria, as obras selecionadas são de ficção, mas também há exemplos de livros de ciências humanas, poesia, literatura infantil e juvenil e histórias em quadrinhos que também ganharam as bolsas, ainda que em menor número. “A diversidade de gêneros enriquece o programa. Os países que têm acesso a essa produção literária nacional podem perceber que o Brasil tem tido uma potência de criação não só em um único estilo, como o romance, mas também na poesia, nos quadrinhos, em contos, em crônicas”, conclui Marques.

Os mais publicados

Clarice Lispector encabeça a lista dos autores mais publicados no exterior por meio dos editais da FBN, com 52 bolsas concedidas. Seguem-se Machado de Assis, com 47, Jorge Amado, com 26, Rubem Fonseca, com 23, e Alberto Musza, com 18.

Mas se engana quem acha que o edital só premia autores já consagrados da literatura nacional. Para Fabrício, a diversidade na concessão das bolsas enriquece ainda mais o programa da FBN. “Embora eu já tenha uma produção de 20 anos, eu sou um ilustre desconhecido, um autor pouco conhecido no meu País, no meu estado. E essa é outra característica do edital que eu acho muito positiva, porque eles apostam não só em autores consagrados, mas também em autores menos conhecidos, com menos visibilidade”, ressalta.

Em relação aos países que mais receberam bolsas para a publicação de obras brasileiras, a Espanha é a primeira colocada, com 115 ao todo. A França vem em segundo lugar, com 109 bolsas, e a Alemanha em terceiro, com 98. Seguem-se a Itália (94), Argentina (67) e Estados Unidos (57). Países como a Romênia, Reino Unido e a Suécia também estão entre os 10 que mais foram agraciados, com 37, 33 e 28 bolsas, respectivamente. Em décimo lugar, está o México, com 25.

Outros editais

A FBN também tem o Edital de Intercâmbio, que apoia editoras ou instituições culturais de outros países que queiram levar autores brasileiros para participarem de eventos, feiras literárias, leituras, palestras e debates em seus países. Entre 2012 e 2017, 132 bolsas foram concedidas para proponentes de 21 países, envolvendo 94 autores diferentes. Alemanha, França, México, Portugal e Argentina são, nessa ordem, os países que mais receberam o apoio deste edital.

Há também o Edital de Residência de Tradutores, que permite a profissionais de outros países trabalharem em seus projetos de tradução no Brasil, imersos em nosso idioma, cultura e costumes. Entre 2012 e 2017, foram concedidas 29 bolsas para tradutores de 15 países. A última edição de ambos os editais foi lançada em 2016, e a retomada está prevista para este ano. (Ascom Secretaria Especial de Cultura)