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Haiti: Ajuda começa a chegar em meio a caos

EUA assumiram controle de aeroporto da capital, mas população continua à espera

O aeroporto de Porto Príncipe finalmente se transformou neste sábado no eixo central de uma enorme operação de ajuda humanitária, comandada pelos Estados Unidos.

O governo do Haiti cedeu o controle de todo o aerporto aos militares americanos, que desembarcaram em grande número no país.

Soldados americanos já controlam o movimentado tráfego aéreo do Haiti, com voos de agências humanitárias chegando a cada minuto. A operação, no entanto, continua incrivelmente desorganizada.

"A situação é essa mesmo", afirmou à BBC o capitão Justin Doyle, que foi deslocado de sua base em Nova Jersey para trabalhar no Haiti.

"É ótimo ver tantos países e agências unindo esforços num momento como este. Obviamente, é caótico, mas quando as pessoas unem esforço por um bem comum, é possível transformar o caos em uma coisa boa. E acho que é isso que está acontecendo agora."

O fato é que grande parte da ajuda humanitária - barracas, cobertores, medicamentos e equipamentos - continuam à beira das pistas do aeroporto de Porto Príncipe.

Fogueiras de corpos

Não muito distante de lá, em uma das favelas da capital haitiana, flagelados se abrigam do sol forte sob toldos improvisados, ouvindo o barulho constante de aviões pousando e decolando e, por radinhos a pilha, as promessas de ajuda dos países ricos.

"Precisamos de ajuda, ainda não recebemos nada, ninguém veio", afirmou um morador, que se identificou apenas Herbie.

"Temos um monte de mortos aqui. Estamos com medo de ficar dentro de casa, porque não sabemos quando alguma coisa vai acontecer. Onde está a ajuda?"

Apesar dos temores sobre segurança, os haitianos estão dando provas incríveis de paciência, embora a cada hora, esse teste fique mais difícil.

Muitos dos cidadãos que sofreram ferimentos graves acabaram sendo tratados por parentes e amigos.

Como o equipamento à disposição deles é rudimentar, em muitos casos, o tratamento não é capaz de evitar mais mortes.

O cheiro de cadáveres em putrefação está em todos os lugares em Porto Príncipe. Em alguns lugares, eles estão sendo empilhados e queimados, o que provoca um cheiro ainda mais horrível.

Ao mesmo tempo, milhares de haitianos estão abandonando a capital de carro, a pé ou motos. Sem um destino certo, eles parecem apenas querer se afastar da enorme cova a céu aberto em que Porto Príncipe se transformou.

Na sexta-feira, o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-Moon, fez um apelo internacional para arrecadar US$ 500 milhões em ajuda para o Haiti.

"A maior parte deste dinheiro seria para necessidades urgentes - o estoque de água e comida é crítico", disse Ban em entrevista coletiva na sede da Organização em Nova York.

O secretário-geral afirmou ainda que o Programa Mundial de Alimentação da ONU já começou a alimentar cerca de 8 mil pessoas diversas vezes por dia.

Devastação

A ONU estima que cerca de 300 mil pessoas ficaram desabrigadas devido ao terremoto.

Agências ligadas à organização acreditam que 3,5 milhões de pessoas no país estão dependendo de ajuda humanitária para sobreviver.

A organização afirma que uma em cada dez casas da capital, Porto Príncipe, foi destruída pelo terremoto de magnitude 7.

Já o Comitê Internacional da Cruz Vermelha sugere que cerca de 70% dos edifícios de Porto Príncipe foram destruídos no terremoto que abalou o Haiti.

Apesar dos esforços da comunidade internacional, autoridades haitianas e agentes humanitários alertaram nesta sexta-feira para a necessidade de aumentar a segurança de equipes de ajuda por medo de saques e ataques, à medida que aumenta a tensão e a raiva entre sobreviventes do terremoto no Haiti.

Em encontro com o ministro da Defesa do Brasil, Nelson Jobim, na quinta-feira no Haiti, o presidente haitiano, René Préval, teria manifestado sua preocupação com uma revolta popular devido à frustração dos sobreviventes.

Três dias após o tremor que devastou a capital, Porto Príncipe, dezenas de milhares de pessoas continuam a vagar pelas ruas à espera de alimentos, tratamento médico e informações sobre familiares.

"Infelizmente eles estão lentamente ficando mais impacientes e com raiva", disse David Wimhurst, porta-voz da Missão de Estabilização da ONU no Haiti, a Minustah.