Em meio ao boom das canetas emagrecedoras no Brasil e no mundo, as histórias do internacionalista Livindo Sipaúba e do influenciador digital Diogo Pontes se entrelaçam e evidenciam que a cirurgia bariátrica "é a melhor escolha".
Mais econômico e com maior efetividade no tratamento da obesidade, o procedimento é seguro e traz resultados significativos também na remissão de outras comorbidades associadas, como diabetes tipo 2, hipertensão e doenças cardiovasculares, de acordo com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM).
Para entender os benefícios da cirurgia, é necessário revisitar um passado de preconceitos, limitações em atividades básicas do dia a dia e até mesmo de descrédito no trabalho.
LIVINDO SIPAÚBA: DO "GORDINHO DIVERTIDO" À LIBERDADE
No Piauí, o internacionalista Livindo Sipaúba mascarava os problemas relacionados à obesidade com bom humor. Sua autoconfiança não permitia que o problema de saúde o impedisse de desenvolver relações interpessoais.
“Momentos de folga ou de celebração quase sempre envolviam comida, o que, se a gente parar pra pensar, é até algo cultural. Analisa comigo: passou no vestibular? Vamos comemorar com uma pizza ou um churrasco... A comemoração sempre girava em torno da mesa”, disse.
Livindo teve uma virada de chave na sua vida após a realização da bariátrica (Foto: Reprodução)
No entanto, o preconceito nunca deixou de existir e as marcas começaram a ficar profundas demais a partir de um episódio em uma padaria. Na ocasião, o comentário negativo que o constrangeu e machucou provocou uma dor maior por ele estar na presença do filho.
“Lembro de uma vez, numa padaria, em que uma mulher olhou pra mim e soltou: ‘Meu Deus, que nojento, olha o tamanho desse gordo.’ O que mais me incomodou não foi o comentário em si, mas o fato de eu estar com meu filho. Me doeu imaginar como ele poderia ter absorvido aquilo”, contou.
PRECONCEITO NO TRABALHO: "GORDO ADOECE DEMAIS"
Os olhares e as falas discriminatórias não terminaram por aí... Na vida profissional, Livindo também sofria com a desconfiança e o descrédito. Mesmo formado em Relações Internacionais, bacharel em Direito e com um currículo invejável, a obesidade era vista como um empecilho para voos maiores.
“Cheguei a perder uma vaga para a qual fui classificado em todas as etapas. O motivo? Nas palavras do entrevistador: ‘Gordo adoece demais’”, revelou.
UM NOVO AMANHÃ...
Na vida de Livindo, a cirurgia bariátrica foi uma virada de chave.
“Em um belo dia, simplesmente acordei com a decisão tomada: não quero mais ser gordo. Foi assim. Claro, simples e definitivo”, relembra.
Hoje, Livindo pratica uma série de atividades físicas e vive em plena liberdade, sem limitações (Foto: Reprodução)
Hoje, o internacionalista ressignificou vários aspectos da sua trajetória e desfruta plenamente de uma brincadeira no parquinho, de uma corrida com os filhos... Atividades que parecem básicas para a maioria da população, mas que ganham uma representatividade especial para ele.
“Desde o trabalho até as brincadeiras com meus filhos, nada me limita mais. Ressignifiquei toda aquela energia que antes era voltada só para comer. Hoje, ela me move de outra forma”, contou.
Primeiro cirurgião bariátrico do Piauí, o médico Gustavo Santos atua há 27 anos e amplifica a importância do procedimento para garantir uma melhor qualidade de vida. A "melhor escolha" é constatada no curto, médio e longo prazo.
"Se você sofre com obesidade e já tentou diversas opções sem sucesso, a cirurgia bariátrica pode ser a melhor opção para mudar sua vida! Além da perda de peso, a bariátrica ajuda a controlar e até mesmo reverter doenças associadas à obesidade, como diabetes, hipertensão arterial, apneia do sono e outras condições que prejudicam a saúde", destaca.
Dr Gustavo Santos já modificou a vida de mais de 4 mil pessoas (Foto: Reprodução)O renomado cirurgião bariátrico já transformou mais de 4 mil vidas com o procedimento, devolvendo a autoestima, a disposição e a liberdade. O antes e depois da intervenção não é percebido apenas na imagem ou na foto: é uma transformação que vai além do espelho, é interna.
Vencer a obesidade muitas vezes requer mais do que apenas mudanças na dieta e no estilo de vida. Este procedimento cirúrgico não é apenas uma ferramenta para perda de peso, mas também uma intervenção que pode transformar vidas, oferecendo novas perspectivas de saúde e bem-estar.
Qualidade de vida que pode ser notada em Livindo. Hoje, o piauiense é Gerente de Relações Internacionais e acumula medalhas em competições que participa, mas a maior premiação se reflete na saúde e na certeza de uma rotina plena, sem limitações.
A LUTA DIÁRIA DE DIOGO PONTES
Do Piauí ao Paraná... No Sul do Brasil, quem vê a alegria do influenciador digital Diogo Pontes jamais imagina as batalhas internas que precisou enfrentar.
Antes da cirurgia bariátrica, o jovem, que possui mais de 400 mil seguidores nas redes sociais, relata ao MeioNews que viveu anos de sofrimento silencioso.
Com poucos meses de cirurgia, Diogo Pontes já vem observando resultados na sua qualidade de vida (Foto: Reprodução)
Minha rotina era uma luta diária contra minha mente porque eu tinha a vontade, mas eu não tinha a força para emagrecer. Eu queria, mas eu não fazia por onde... Eu sempre fui gordo, desde a infância, então a obesidade era algo ‘normal’ na minha vida. Eu não me importava muito, eu só comecei a correr atrás de emagrecer de fato quando comecei a sentir coisas estranhas como muitas dores nas costas, joelho e o pior de todos, no abdômen.
A INTERNET COMO ARMA DE DOR
Apesar da popularidade nas redes sociais, Pontes vivenciava um drama, com ataques diários sobre sua aparência, o que impulsionava traumas já carregados da infância, em que o bullying era um companheiro constante e doloroso.
O menino "gordinho" da infância se tornava um adulto repleto de inseguranças.
“Na internet, toda hora sofro um ataque, seja qualquer vídeo, foto ou story que eu poste. Às vezes machuca, mas logo relevo porque sei quem eu sou e sei aonde quero chegar agora depois da minha cirurgia bariátrica”, relatou.
O DIAGNÓSTICO QUE VIROU A CHAVE
Carregando o desejo de emagrecer, mas sem a devida orientação para tal, Diogo Pontes precisou de um susto para virar a chave e decidir pela bariátrica.
A descoberta de uma fibrose grau 4 fez com que a bariátrica deixasse de ser apenas um plano distante e passasse a se tornar uma questão de sobrevivência.
Quando fui fazer uma bateria de exames, descobri que eu estava com fibrose grau 4, o último estágio da doença para virar cirrose hepática. Foi então, junto com meu médico, que corremos contra o tempo para operar o mais rápido possível, já que o único tratamento seria o emagrecimento.
UM NOVO DIOGO
Poucos meses após a cirurgia, os resultados já são visíveis. A melhora é tamanha que o influenciador digital não tem mais a necessidade de tomar medicamentos para ansiedade e teve um avanço significativo no controle da pressão arterial.
“Já eliminei 25kg e estou me sentindo muito bem. Autoestima que eu não tinha está sendo construída lentamente... Eu já não tomo mais remédio pra pressão alta e nem pra ansiedade”, celebra.
CRITÉRIOS PARA A BARIÁTRICA
Nos últimos anos, o Conselho Federal de Medicina (CFM) promoveu algumas alterações nos critérios para realização da bariátrica. Anteriormente, apenas quem tinha IMC acima de 45 – ou 35 com doenças graves – estava elegível. Agora, as normas atualizadas permitem a cirurgia para pessoas com IMC entre 30 e 35, desde que haja doenças associadas, como diabetes tipo 2, apneia do sono ou doenças cardíacas.
"A decisão continua sendo médica, baseada em critérios clínicos, mas abre um novo horizonte para milhares de pessoas que antes não eram elegíveis e sofrem com complicações sérias da obesidade", detalha o cirurgião bariátrico Gustavo Santos.
Cabe indicar que a obesidade segue em ritmo acelerado de crescimento no Brasil e já atinge mais de um terço da população. De acordo com dados do SISVAN (Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional), do Ministério da Saúde, que monitora de forma contínua o estado nutricional dos brasileiros e os fatores que o influenciam, 34,66% das pessoas avaliadas em 2024 apresentaram algum grau da doença. O levantamento considerou informações de mais de 26,2 milhões de indivíduos.
A cirurgia bariátrica é realizada com métodos extremamente seguros (Foto: SBCBM)
Os números revelam que, apenas no ano passado, 1.161.831 pessoas foram diagnosticadas com obesidade mórbida — caracterizada pelo índice de massa corporal (IMC) grau III, acima de 40 kg/m² — o que corresponde a 4,63% do total analisado. Já os casos de obesidade grau II somaram 2.176.071 (8,67%) e a forma mais prevalente foi a obesidade grau I, que atingiu 5.348.439 pessoas (21,31%).
“A obesidade é uma doença crônica e complexa. Precisamos usar todas as ferramentas disponíveis para combatê-la, e a cirurgia não pode ser vista como última opção”, destacou o presidente da SBCBM, Juliano Canavarros.
POR QUE A BARIÁTRICA É MAIS EFICAZ QUE AS CANETAS EMAGRECEDORAS
Medicamentos injetáveis como Ozempic, Egovy e Monjauro tornaram-se populares no Brasil e no mundo pela promessa do 'milagre' do emagrecimento. No entanto, o que não se fala é do quão tais tratamentos são mais caros e menos eficazes do que a cirurgia bariátrica.
No Brasil, o custo anual dessas drogas pode ultrapassar R$ 45 mil por paciente, valor que supera o preço do procedimento cirúrgico em pouco tempo.
Custos elevados com medicamentos
De acordo com análise publicada na revista Surgical Endoscopy, nos Estados Unidos os gastos com análogos do GLP-1 ultrapassam o preço da cirurgia em menos de um ano. No Brasil, enquanto a operação feita em hospitais particulares custa entre R$ 30 mil e R$ 40 mil, o uso contínuo dos medicamentos representa despesas mensais de R$ 1.300 a R$ 3.791, acumulando valores superiores a R$ 45 mil a cada 12 meses.
Canetas emagrecedoras estão na moda em todo o mundo, mas são mais caras e menos eficazes (Foto: Freepik)
Acesso pelo SUS e planos de saúde
Ao contrário da realidade norte-americana, no Brasil a cirurgia bariátrica é disponibilizada pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e também tem cobertura obrigatória nos planos de saúde, o que garante maior acesso à população que enfrenta obesidade grave e doenças associadas.
Perda de peso duradoura
Dados apresentados no congresso da American Society for Metabolic and Bariatric Surgery (ASMBS) mostram que o procedimento cirúrgico proporciona perda de peso média de 30% mantida por até uma década. Já os novos medicamentos estabilizam reduções entre 14% e 22%, mas apresentam reversão significativa após a interrupção do tratamento, com recuperação de até metade do peso eliminado em apenas um ano.
Especialistas defendem a cirurgia
Para o presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), Dr. Juliano Canavarros, a cirurgia deve ser considerada uma opção de longo prazo:
“O tratamento precisa ser avaliado no médio e longo prazo. Isso porque a cirurgia bariátrica tem um efeito contínuo no metabolismo do paciente, mesmo muitos anos após o procedimento. Já os medicamentos precisam ser usados de forma contínua, e a interrupção do tratamento irá levar à recuperação do peso perdido.”
Presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, Juliano Canavarros, em ação no Mato Grosso (Foto: Reprodução)
O presidente do Conselho Consultivo e Fiscal da SBCBM, Dr. Fábio Viegas, faz um alerta sobre terapias divulgadas na internet:
Temos visto uma enxurrada de produtos, alimentos e tratamentos que podem causar mais danos do que benefícios à saúde do paciente. É fundamental que as pessoas consultem um médico associado a Sociedades Médicas Brasileiras, avaliem o currículo do profissional e escutem uma segunda opinião, se necessário. Não é todo tratamento que é indicado para qualquer paciente. A ingestão de medicamentos, em determinados casos, por exemplo, pode ocasionar outros problemas de saúde como a sobrecarga hepática e renal.
Procedimento seguro e acessível
Viegas lembra ainda que a cirurgia tornou-se cada vez mais segura e acessível:
“Hoje a cirurgia é feita por vídeo e em dois dias o paciente está bem, em casa e existe cobertura pelo SUS e pelos planos de saúde. Se o plano tiver que pagar a medicação e não curar a obesidade, qual será a vantagem? A cirurgia controla o peso e as comorbidades de forma muito mais barata e efetiva.”
UMA MENSAGEM EM COMUM
Tanto Diogo quanto Livindo concordam que a bariátrica é um divisor de águas, mas exige responsabilidade e acompanhamento contínuo. Mais do que perder peso, trata-se de ganhar vida e saúde.
“A bariátrica não é um milagre, mas sim uma ferramenta poderosa. Com acompanhamento, informação e cuidado, ela pode transformar não só seu peso, mas sua autoestima, mobilidade, disposição e até sua relação consigo mesmo”, aconselhou Diogo Pontes.