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Cerimônia do Oscar tem Trump ridicularizado, diz colunista

A questão palestina não foi a única crítica ao governo Trump. A premiação também ocorre num momento em que Hollywood estava sendo criticada por seu silêncio diante do avanço do presidente americano

A decisão da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood de dar o prêmio de melhor documentário para o filme "No Other Land" (Sem Chão) transformou a cerimônia numa crítica à política externa de Donald Trump para a Palestina, assim como um ataque contra a "limpeza étnica" conduzida por Israel. 

O documentário revela a destruição da cidade palestina de Masafer Yatta por soldados israelenses na Cisjordânia. O filme é feito pelo jornalista israelense Yuval Abraham e pelo ativista palestino Basel Adra, mas não conta com distribuição nos EUA diante da resistência de empresas em questionar a situação no Oriente Médio.

Ao receber a estatueta numa transmissão global, Adra afirmou que foi pai há dois meses e que espera que sua filha não viva o que ele atravessou ao longo de anos. O palestino ainda denunciou a ocupação por parte de Israel e pediu que a "injustiça e a limpeza étnica" sejam paradas.

"Fizemos esse filme juntos. Juntos, palestinos e israelenses, nossas vozes são mais fortes", afirmou Yuval. Ele chamou a destruição de Gaza de "horrível" e pediu que os reféns israelenses sejam soltos.

"Vivo livremente num regime civil. Adra vive sob regime militar que destrói sua vida", disse Yuval. "Há um outro caminho, que é uma solução política", insistiu.

O israelense usou um dos palcos mais famosos do mundo para criticar a postura de Trump. "Este país [EUA] está ajudando a bloquear esse caminho", disse, aplaudido de forma intensa pela plateia. Trump vem defendendo a expulsão de palestinos de suas terras e apoiando Israel em um plano que prevê um amplo controle tanto em Gaza como na Cisjordânia.

Yuval insistiu que Israel apenas estará seguro quando os palestinos forem livres. "Não há outro caminho. Ainda há tempo", completou.

Imigração, ódio e Ucrânia: Trump ridicularizado

A questão palestina não foi a única crítica ao governo Trump. A premiação também ocorre num momento em que Hollywood estava sendo criticada por seu silêncio diante do avanço do presidente americano. Trump, assim que assumiu, fez questão de fazer com que sua presença fosse sentida na Academia. Em janeiro, ele nomeou Sylvester Stallone, Mel Gibson e Jon Voight, como "embaixadores especiais" em Hollywood.

Até hoje, ninguém sabe o que esses embaixadores farão. Mas o presidente sabe que quer a indústria ciente de que pode retaliar. A incapacidade de distribuição de um filme que retrata seus primeiros anos como empresário é prova de sua sombra.

Mas o evento foi marcado pelo fim do silêncio e mensagens contra Trump. A atriz Daryl Hannah, antes de apresentar uma das premiações, fez uma saudação para a Ucrânia, três dias depois de o presidente humilhar Volodymyr Zelensky.

Conan O'Brian, o apresentador da noite, fez uma piada para anunciar que os americanos estavam "finalmente" contando com alguém que "enfrentasse os russos". A alusão se referia ao fato de Trump estar sendo criticado por se dobrar diante dos interesses de Vladimir Putin. Uma vez mais, a plateia formada pela elite da indústria do cinema ovacionou o anfitrião.

O vencedor do Oscar de melhor ator, Adrien Brody, usou seu discurso para criticar a "difusão do ódio" e pedir que o mundo "aprenda" das guerras do passado. Sem citar o presidente americano, ele apenas insistiu que "juntos, vamos reconstruir".

Zoe Saldaña, ao vencer o prêmio de melhor atriz coadjuvante, lembrou que é neta de imigrantes, arrancando aplausos do teatro. Falou em uma família que trabalhou "com dignidade" e como é a primeira mulher de origem dominicana a receber a estatueta. E terminou com uma homenagem a sua avó, que chegou aos EUA em 1961. "Ela estaria orgulhosa", afirmou. "Muchas Gracias", completou, em espanhol.

As informações do texto são do colunista Jamil Chade do UOL.

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