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Sertanejos usam o Bolsa Família para comprar água

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Sertanejos usam o Bolsa Família para comprar água

Oitenta por cento dos municípios no Piauí têm a base econômica na agricultura e pecuária

As famílias no Semiárido estão utilizando o benefício do programa Bolsa Família, pouco mais R$ 100,00, para comprar água. Uma "carrada" de água, cerca de 2 mil litros, custa em média R$ 80,00. Alguns deixam de comprar alimentos para comprar água, porque os carros-pipas são insuficientes para atender a demanda e a água está cada vez mais escassa. Na região, já morreu metade do rebanho por falta de água e de pasto.

O drama das famílias que vivem no Semiárido se agravou. A estiagem é considerada a pior das últimas décadas. Não chove no sertão há mais de 230 dias. Agora, para sobreviverem na região, as famílias precisam comprar água.

Um carro-pipa, com 8 mil litros, custa em média R$ 300,00, mas depende do local da captação da água. Com a escassez de chuvas, a água está mais difícil e com qualidade ruim. Por isso, o preço sobe.

Em Caracol, as famílias estão usando o dinheiro do programa Bolsa Família para comprar, além de alimentos, água. Segundo a agricultora Maria Zuleide Cândido Santos, que recebe R$ 108,00 do programa, tem que racionar a comida para adquirir também água. Ela disse que "com o dinheiro que recebe dá para comprar uns 5 kg de arroz, 3 kg de feijão e um pedacinho de carne. Galeto não pode comprar, porque é caro. Todo dia cozinha um pouco pra não faltar", informou que este estoque é para durar um mês. Parte dos R$ 108,00 será usado para comprar também água.

As águas de superfície secaram e os poços que existiam também estão secando. Não tem pasto nenhum no Semiárido. O cenário é cinza, não tem verde. O verde que ainda tem é a palma, uma espécie de mandacaru que é cortado para alimentar o gado. O rebanho que busca água ou comida morre durante o percurso.

As carcaças do rebanho estão pelas rodovias, por onde o gado tem buscado pasto e água. Os urubus sobrevivem devorando as carcaças dos bichos mortos no caminho.

Na região de Picos, foram investidos quase R$ 3 milhões para construir a barragem de Fátima, com capacidade para acumular até 3 milhões de metros cúbicos d´água. A barragem não passa de um amontoado de pedras e nunca acumulou água no reservatório.

Para completar o drama, os trabalhadores rurais alegam que a situação ficou ainda pior depois da campanha política, porque os políticos não estão mais dando assistência para as famílias, sobretudo na zona rural.

Oitenta por cento dos municípios no Piauí têm a base econômica na agricultura e pecuária. 200 dos 224 municípios decretaram estado de emergência e aguardam ajuda dos Governos Estadual e Federal.

Os trabalhadores rurais alegam que não tem dinheiro para comprar comida, mas tem que arranjar para adquirir água. O presidente da comissão municipal de Defesa Civil de Picos, Jânio Rufino, ainda espera ajuda do Governo do Estado. "Até o momento, o município de Picos não foi contemplado com essa ajuda. Nem através de carro-pipa", lamentou.

fote: Diário do Povo

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