fonte: Jailson Dias - Folha Atual
Visão da Igrejinha domina entrada da cidade
Erguida entre os anos de 1827 e 1830 pelos portugueses Borges Leal e Borges Marinho, a Igrejinha do Sagrado Coração de Jesus é uma espécie de símbolo para a população picoense, independente do credo professado. Dominando a visão de quem trafega pela Avenida Getúlio Vargas, o tempo é administrado pelo Apostolado da Oração e se constitui no prédio mais antigo da cidade, carecendo ainda do devido reconhecimento que seria caracterizado pelo tombamento histórico, algo muito aguardado pelo apostolado.
O tombamento histórico é o reconhecimento do valor de uma obra ou imóvel como patrimônio cultural. ?Um bem cultural é ?tombado? quando passa a figurar na relação de bens culturais que tiveram sua importância histórica, artística ou cultural reconhecida por algum órgão que tem essa atribuição?. No Brasil essa atribuição cabe ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).
A presidente do Apostolado da Oração, Miriam Lélis, viúva do ex-vereador Zequinha Baldoíno, informa que já foram realizados levantamentos técnicos do patrimônio da Igrejinha com o intuito de conseguir o devido reconhecimento.
Nossa equipe conversou com Albano Silva, uma das pessoas que participou desse levantamento técnico, mas o esperado resultado esbarra na burocracia, dentre os inúmeros fatores que contribuiriam para o tombamento histórico da Igrejinha do Sagrado Coração de Jesus estaria um pouco de força política e social.
Até o momento foi possível inserir a Igrejinha como patrimônio no Inventário Imaterial do Estado do Piauí. ?A Igrejinha, assim como a festa do Sagrado Coração de Jesus faz parte do Inventário Imaterial do Estado do Piauí, realizado pelo IPHAN nacional em 2006?, explica Gracivalda Albano.
Ela integrou a equipe que participou desse amplo trabalho de pesquisa. ?O Iphan nacional realizou uma pesquisa sobre o Patrimônio Imaterial do Brasil. O Piauí participou, a pesquisa foi realizada por territórios, em Picos uma equipe foi montada da qual eu participei. Além de mim, o tio Albano, a Mundica Fontes, a Miriam Lélis, e professores da UESPI e UFPI. Foram dois anos de pesquisa, onde foram elencados locais, saberes e fazeres que fazem parte das manifestações culturais da nossa região?, detalhou. O trabalho contou ainda com o apoio de técnicos da Fundação Cultural do Piauí (FUNDAC) e do IPHAN.
O certo é que a Igrejinha do Sagrado Coração de Jesus transpira história e nos últimos 183 anos vem sendo administrada pelo Apostolado da Oração, fundado em 1897. ?Teve uma tia minha, Tereza Leopoldo Albano, que foi irmã de minha mãe, que foi presidente do apostolado, depois veio eu, então nesse mais de um século, está entre nós duas?, informou.
Em um levantamento realizado por Albano Silva e Miriam Lélis consta que a Igrejinha foi erguida originalmente em honra de São José, cuja imagem veio de Portugal. Como as vestimentas da imagem se assemelhavam a um vaqueiro ficou o nome de ?São José de Botas?. No texto consta ainda que na década de 1850 os católicos sofreram um revés, com o roubo da imagem, que nunca mais foi recuperada. Desde então a igreja foi consagrada ao ?Coração de Jesus?.
Entre 1830 e 1970 a Igrejinha foi o único templo religioso da cidade de Picos, até a construção do primeiro templo da Igreja de Nossa Senhora dos Remédios, obra liderada pelo frei Ibiapino. Nesses 183 anos de existência, a Igrejinha já passou por reformas, ampliações e até esteve ameaçada de demolição, ação impedida pela comunidade local, mas em todo esse tempo e pelos 183 anos seguintes a Igrejinha do Sagrado Coração de Jesus continuará ocupando um lugar de destaque no coração da população de Picos e região.