Dentre as personalidades políticas que visitaram nossa cidade na década de 1980 está o ex-presidente da Luiz Inácio Lula da Silva. Foi uma presença rápida, mas de muita importância para o sindicalismo rural e o Partido dos Trabalhadores em Altos. Estava o então presidente nacional do PT em missão no Piauí, incluindo capital e interior, com o objetivo de criar diretórios municipais e dar maior dimensão ao partido em nosso estado.
Seu desembarque se deu às nove horas do domingo, 22 de agosto de 1982, em Teresina. Logo após, Lula veio à cidade de Altos, onde realizou comício no calçadão da Praça Cônego Honório com os trabalhadores rurais e a comunidade interessada, e reuniu-se com os militantes de sua agremiação política. À tarde, conversou com lideranças do interior e à noite estava em Teresina, realizando comício na Praça do Verdão.
Conta-nos o Sr. Antonio de Almeida Mascarenha, pai do Dr. Marcelo Mascarenha, que Lula foi almoçar na casa de sua mãe, Dona Maria de Nazaré Almeida Sousa, no bairro Alto Franco, onde comeu arroz e feijão com ovo, numa demonstração de simplicidade indizível. Aproveitou para afirmar da extremada admiração que sua genitora tinha pelo líder sindicalista, por ela considerado um grande homem e um grande benfeitor do povo brasileiro.
?O medo que se incutia nas pessoas em torno do PT era muito grande?, informa a revista comemorativa dos 25 anos do PT no Piauí, editada em Teresina, no mês de fevereiro de 2005, à página 19. Informações dão conta até que certa liderança política local tratou de espalhar entre os assistentes do comício do Lula em Altos naquele distante 1982 a emblemática expressão: ?Esse cara é comunista! Cuidado!?.
Apesar de ter sido no interior do estado que o partido enfrentou grande resistência, foi justamente nessa região onde ele cresceu mais rapidamente, notadamente pelo empenho dos trabalhadores rurais e associações diversas na construção dos primeiros núcleos. Tanto as campanhas eleitorais como a formação dos diretórios foram iniciadas nas cidades mais próximas à capital, por conta do custo e demora nas viagens. Altos, inclusive, está entre as primeiras cidades a contar com diretório municipal do partido, criado que foi em 01 de janeiro de 1981.
Rememorando sua primeira visita ao nosso estado em 1981, o já presidente Lula, no editorial da citada revista, diz:
?- [...] Percorri povoados, favelas, grotões de pobreza e estive no meio universitário. Poucas vezes fui tratado com tanto respeito, poucas vezes fui ouvido com tanta atenção. Desde então, sempre vou ao Piauí. [...]?. Em Altos o tratamento cordial e o calor humano oferecido ao líder sindical não foi diferente.
Altos estava entre os 32 diretórios registrados do Partido dos Trabalhadores e naquele ano de 1982, a 15 de novembro, disputou as eleições municipais, apresentando os nomes de José Lino de Sousa e Marcelino Viana, respectivamente como candidatos a Prefeito e Vice-Prefeito da cidade, que contava na época 20.193 eleitores.
Lula quase ?fica? em Altos
O professor e historiador Fonseca Neto, imortal da Academia Piauiense de Letras, conta um fato curioso e praticamente desconhecido sobre a passagem de Lula por nosso município.
Narra ele na já mencionada revista, à página 14, que numa de suas primeiras visitas ao Piauí precisou Lula se deslocar a Campo Maior, onde faria um comício na feira daquela cidade às cinco horas da manhã. Foi de carona na noite anterior, mas na hora de voltar a Teresina cadê transporte? Às 09:15 precisava estar a bordo do avião da Transbrasil rumo a outro comício em Santos-SP.
Resolveram apelar para o velho fusca do correligionário Fonseca Neto, com seus pneus carecas. E lá se vai ele a Campo Maior, em busca do famoso líder petista. Lotação na volta: 04 pessoas (Fonseca, Antonio José Medeiros, Valtinho Dantas, da UNE, e Lula).
Pelas 08:30 h, nas proximidades da Penitenciária Agroindustrial Major César Oliveira, estoura o pneu traseiro do veículo. A roda saca fora e o fusquinha começa a rodar no asfalto. Todos conseguem descer rapidamente. Vão trocar o pneu, mas... o estepe estava seco. O desespero tomou conta da tripulação.
?- Companheiro Fonseca, eu não posso perder o comício em Santos. Tenho que estar em Santos hoje, companheiro?. Era o Lula, mais aflito do que todos. Também pudera, pelo avançar da hora.
Por sorte, um aluno do professor Fonseca Neto aparece e dá a abençoada carona que Lula precisava para chegar a Teresina, levando também Valtinho Dantas. Fonseca e Antonio José tomam um ônibus da empresa Cícero Santos que passou em seguida e rumam à capital, onde ainda avistam o carro com o líder petista, que, para surpresa de todos, dobrava no sentido do bairro Piçarra. O que teria acontecido? Ficaram atônitos.
?- Nós ficamos confusos com aquela situação. Pegamos um táxi da estação do trem para o aeroporto, e eu pensando: como é que nós vamos ficar agora, chegando no aeroporto sem o Lula?? Inquietava-se o historiador, acrescentando ainda: ?- Foi uma confusão, os funcionários de base do aeroporto segurando o avião porque sabiam do nosso drama?.
Daí a pouco, chega o rapaz com Lula, para alegria de todos. Seu pai não aceitara que fosse primeiro ao aeroporto, exigindo que o deixasse logo em casa.
?- O Lula passou tão rápido que nem se despediu de ninguém. Foi direto para o avião?. Finaliza ele o relato.
Atento a tudo, o jornal O Estado noticia no dia seguinte: ?Lula quase morre em acidente no Piauí?.
Por Carlos Alberto Dias, professor e pesquisador